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Fundos de ex-BCs perdem mais

Maior prejuízo foi do Luxor, gerido por Afonso Bevilaqua, recém-saído do Banco Central

Por Vinícius Pinheiro
Atualização:

Os fundos de investimento multimercados comandados por ex-integrantes do Banco Central (BC) aparecem entre os maiores perdedores desde o início da crise nos mercados financeiros internacionais, de acordo com dados do site Fortuna, que acompanha o setor. Esses portfólios são freqüentemente apontados como os hedge funds brasileiros, que assumem posições mais arrojadas em busca de maiores retornos relativos. Eles investem em vários mercados ao mesmo tempo, como renda fixa, dólar futuro, derivativos, entre outros. Entre os dias 23 de julho e 14 de agosto, o fundo Luxor, administrado pela Opportunity Asset Management, amargou perdas de R$ 95 milhões (12,15%), a maior entre os multimercados classificados como não-exclusivos. Recentemente, o ex-diretor de Política Econômica do Banco Central Afonso Bevilaqua assumiu o comando da instituição. Outros portfólios da Asset apresentaram quedas ainda maiores, embora com impacto reduzido por conta do patrimônio menor. Também figura na lista das maiores perdas entre os multimercados o fundo da Mauá, gestora de recursos do também ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo, que registrou desvalorização de R$ 77,8 milhões (5,46%) no mesmo período. O Gávea Brasil, do ex-presidente do BC Armínio Fraga, acumula uma queda de R$ 55 milhões, o equivalente a 3,46%. Entre os fundos administrados por bancos de varejo, aparece apenas o Santander, cujos portfólios Alpha e Estratégia apresentam desvalorização de 3,7%. Somados, os dois produtos perderam R$ 138 milhões desde o início da crise. Apesar da desvalorização recente, apenas os fundos do banco espanhol apresentaram saques mais intensos até o momento. No entanto, a maior parte dos hedge funds têm carência para resgate, o que pode ter freado o movimento. PREFIXADO O diretor do site Fortuna, Marcelo D''''Agosto, explica que, com a queda da taxa básica de juros nos últimos meses, muitos investidores decidiram sair de DI e renda fixa para ganhar um pouco mais em fundos como o renda fixa prefixado. Até março, esses produtos conseguiram dar uma rentabilidade superior ao CDI. A partir de maio, no entanto, começaram a dar retorno menor, o que criou um desconforto entre os investidores. A reação foi o resgate do dinheiro. Como esse mercado tem liquidez baixa, os preços dos papéis despencaram e afetaram os multimercados, que também tinham esses papéis na carteira. O ex-diretor do BC e sócio da Mauá, Luiz Fernando Figueiredo, disse que, apesar das perdas recentes, os fundos de investimento da empresa operam dentro da normalidade e do mandato para o qual foram designados pelos clientes. Segundo o executivo, a maior volatilidade das cotas faz parte da característica dos fundos da empresa, que tem uma política agressiva de investimento. ''''Temos contato freqüente com nossos clientes e todos estão cientes de que as perdas fazem parte do negócio'''', afirmou. Ele ressaltou que a gestora tem sistemas de risco e todos estão funcionando. Figueiredo destacou ainda que, no ano passado, o mesmo fundo apresentou uma valorização que superou em mais de 10 pontos porcentuais o CDI, meta do mercado. ''''Agora, o mercado passa por uma turbulência e estamos sofrendo com ela'''', resumiu o ex-diretor do BC. Ele observou que o produto tem carência de 90 dias justamente para que os gestores tenham liberdade para tomar posições mais arrojadas. TESTE PARA A INDÚSTRIA Para Figueiredo, a crise no mercado financeiro é um teste para a indústria de fundos brasileira, que, segundo ele, tem um grau baixo de alavancagem e tem se saído muito bem até agora. Na análise do executivo, não são apenas os fundos que amargam perdas neste momento. ''''Se você tiver apenas um lápis, ele hoje vale menos'''', comparou. Segundo o sócio da Mauá, os agentes financeiros passam por um processo de redução de riscos, o que acabou por provocar um ''''empoçamento'''' da liquidez. ''''Isso não significa que os ativos que eram bons há um mês deixaram de ter valor'''', afirmou Figueiredo. Entre as opções que os bancos centrais internacionais podem adotar para conter a crise, o executivo mencionou a criação de um fundo de liquidez com prazo de seis meses e que aceite créditos como colateral. Essa seria uma solução para turbulência que Figueiredo classificou como ''''não-clássica''''. COLABOROU RENÉE PEREIRA

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