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Fusão estava nos planos da TAM havia 5 anos

Em 1998, empresa pretendia comprar a Varig. Hoje quer o controle da nova companhia

Por Agencia Estado
Atualização:

O embrião da idéia de união com a Varig surgiu na TAM há cinco anos, em 1998. Com o dobro do tamanho, dois anos depois a empresa já pensava comprar a arqui-rival. Agora, sob o manto da fusão, o projeto ficou para o segundo semestre, caso os entendimentos tenham um bom termo. Para tanto, a TAM faz questão de ser majoritária no bloco de controle da nova empresa. Mas o negócio, que pode representar a sobrevivência da Varig, também beneficia a parceira. Exemplo disso são as negociações envolvendo quatro grandes jatos disponíveis da TAM, que lhe custam acima de US$ 2 milhões ao mês, e poderão ser usados em rotas da Varig, por meio de acordo ou aluguel. Até ontem não havia acerto para uso dos jatos. A definição ficou para esta semana. A proposta original era utilizar dois jatos Airbus 330 da TAM em vôos para Miami e os outros dois para a Europa, já que a Varig devolverá, em junho, três aviões MD-11 que fazem as duas rotas. A alternativa em discussão é o uso dos jatos não utilizados pela TAM, que nega que os jatos estejam disponíveis. Dois aparelhos estariam fazendo blindagem da cabine de pilotos e os outros teriam sido devolvidos pela China Airlines. As alternativas na Europa são Frankfurt ou Paris, com prolongamento para Amsterdã. Mas o acordo de compartilhamento de vôos exige que as duas empresas sejam designadas a voar para o país-destino. Como a TAM não é autorizada, em acordo bilateral, a operar para as duas cidades, o acordo não é viável. Por isso, a necessidade de arrendar seus aviões. Divergências, aparentemente pequenas, e fortes desconfianças afastaram no passado as chances de entendimentos entre as duas companhias. Duas versões situam no fim dos anos 90 o surgimento da idéia de fusão na TAM. Conforme uma delas, o projeto era idéia do conselheiro de administração da companhia, Shigeaki Ueki, até hoje no posto, defendida junto ao Comandante Rolim Amaro, morto em julho de 2001. Segundo a outra, a idéia teria sido mesmo do próprio Rolim. Um executivo ligado à TAM conta que, na época, Rolim aproveitou um churrasco em Porto Alegre para sondar informalmente um grupo de comandantes da Varig sobre a receptividade a uma eventual comunhão de forças. "Era muito difícil conversar na época com a administração da Varig", explica o mesmo executivo, por causa da forte rivalidade entre as duas empresas. O assunto foi retomado com a chegada do ex-ministro Ozires Silva, amigo pessoal de Rolim de décadas, à presidência da Varig, em maio de 2000. "Tivemos conversas nesta direção", confirma Silva, hoje à frente do conselho de administração do World Trade Center (WTC) e da Troller. Na prática, eram abordagens informais. Segundo Silva, a hipótese era considerada de ponto de vista "consensual", não como possibilidade de tomada de controle por parte da TAM. Mas um executivo que trabalhou com Rolim revela que o interesse da TAM era mesmo assimilar a concorrente, com a formação de um grupo de controle forte, apoio do governo, o resto do capital pulverizado e o ideal da construção de uma empresa sólida para o Brasil. Mas, como lembra outro profissional ligado à TAM, "nunca houve nada formal". Nos últimos dois anos, os resultados financeiros da TAM pioraram e a empresa saiu de um pequeno lucro em 200 para um prejuízo de R$ 605,7 milhões em 2002. O patrimônio líquido caiu 60%, passando de R$ 498,6 milhões para R$ 204,5 milhões. A participação de mercado da TAM, entre abril do ano passado e abril deste ano, encolheu de 36% para 30%. A ocupação dos aviões subiu de 53% para 55%. Mas a TAM ainda está em situação mais confortável do que a Varig, porque, entre outros aspectos, tem crédito com fornecedores, não deve ao governo e o patrimônio líquido é positivo. "Hoje acho que a única solução para a Varig, e talvez para a TAM dentro de algum tempo, é a fusão", diz o ex-ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, que também dirigiu o Departamento de Aviação Civil (DAC) e o Sindicato Nacional de Empresas Aéreas (Snea). Para ele, a empresa foi prejudicada com a retirada gradual dos Fokker 100 da frota. A empresa chegou a ter 50 deles, hoje tem 30. Sem falar nos acidentes que envolveram o jato, a empresa diz que a substituição faz parte de "política para manter baixa a idade média da frota". Oficialmente, a TAM reconhece que a fusão trará benefícios, mas indica que subsistiria sem ela. E as negociações para fusão prosseguem. A TAM já deixou claro que a participação da Varig na nova empresa será de 5% "nem mais, nem menos". Em comunicado aos funcionários, disse que ela, TAM, "será majoritária, no bloco de controle". No final do comunicado, a mensagem de que a TAM "continua sendo a mesma TAM e permanecerá firme na busca de melhores resultados, independentemente de qualquer possível fusão".

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