PUBLICIDADE

Futuro presidente terá US$ 27 bi do FMI

Além dos US$ 24 bi para 2003, próximo governo terá os cerca de US$ 3 bi liberados em dezembro

Por Agencia Estado
Atualização:

Se mantiver o acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o futuro presidente da República poderá contar, na prática, com aproximadamente US$ 27 bilhões daquela instituição para reforçar suas contas externas no ano que vem. O cálculo é do secretário-adjunto de Política Econômica, Arno Meyer, um dos integrantes da missão que negociou o atual acordo do Brasil com o Fundo. Além dos US$ 24 bilhões em desembolsos previstos ao longo de 2003, haverá cerca de US$ 3 bilhões, correspondentes à última parcela a ser liberada em 2002, que chegará ao País em meados de dezembro. Por isso, muito provavelmente, os recursos ficarão à disposição da próxima administração. Meyer informou que uma missão de técnicos do FMI deverá chegar ao País na terceira semana de novembro, para analisar o desempenho das contas brasileiras no terceiro trimestre deste ano. O grupo também discutirá com integrantes do governo brasileiro o cenário da economia para o ano que vem. "Neste momento, há muitas incertezas sobre 2003", admitiu Meyer. "Mas acreditamos que, encerrado o processo eleitoral e indicada a nova equipe de governo, essas dúvidas lentamente se arrefecerão." Ele acredita que seria útil, mas não imprescindível, a divulgação, o quanto antes, dos nomes que integrarão a equipe econômica do próximo governo. "Tudo depende do que o presidente eleito sinalizar", avaliou. O importante, na opinião de Meyer, é transmitir uma mensagem clara de que "o partido vitorioso seguirá a linha da responsabilidade". Quanto mais bem-sucedida for a nova administração em acalmar os ânimos do mercado, mais cedo será possível reverter medidas como a recente elevação da taxa básica de juros de 18% para 21%. Portanto, menor será o estrago da alta dos juros sobre as perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. Nervosismo Por essa razão, Meyer acha que não se deve projetar para o futuro o quadro de dificuldades por que o País passa no momento. "Quem fizer isso pode incorrer em erro", disse. O secretário explicou que o aumento das taxas de juros e a elevação dos depósitos compulsórios das instituições financeiras no Banco Central, consideradas por analistas como medidas de caráter recessivo, não deverão ser mantidos por muito tempo. "Foram medidas para lidar com o ambiente muito especial que estamos vivendo, de nervosismo nos mercados, que está claramente associado ao processo eleitoral", disse. "Uma vez vencido esse cenário, não creio que elas precisarão continuar." O impacto da alta dos juros e da redução do dinheiro disponível para crédito sobre o crescimento da economia em 2003, acredita Meyer, dependerá do tempo necessário para refrear as turbulências na economia. O mesmo se aplica ao aumento do endividamento público provocado pela elevação das taxas de juros e de câmbio. Quanto menos tempo eles permanecerem, menor será o risco de o País ter de elevar suas metas de superávit fiscal para manter o saldo da dívida sob controle. O acordo com o FMI estabelece que, em 2002, o conjunto formado pelos governos federal, estaduais, municipais e empresas estatais deve ter um superávit primário (diferença entre receitas e despesas, exceto gastos com juros) equivalente a 3,88% do PIB. Para 2003, a meta fixada é de 3,75% do PIB, mesmo nível estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovada pelo Congresso Nacional. Todos os candidatos à Presidência da República se comprometeram com essa meta, mas não faltam especulações sobre a necessidade de elevá-la, dadas as inquietações de analistas econômicos sobre a capacidade de o Brasil evitar o crescimento descontrolado da dívida pública. Uma boa ocasião para aumentar a meta de superávit primário poderia ser a próxima revisão do acordo. Em novembro, o novo presidente já estará eleito e este poderá indicar assessores para acompanhar as negociações, que ainda serão conduzidas pela equipe do presidente Fernando Henrique Cardoso. O ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, já explicou que a futura administração poderá participar das conversas, mas as decisões caberão ao atual governo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.