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G-20 tenta ação conjunta anticrise

Fórum que reúne os países mais ricos e os principais emergentes tenta ocupar o espaço que era do G-7

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Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

No dia 2 de abril, os chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias do mundo se reunirão em Londres para dar a sua resposta à crise mundial. É difícil prever em que medida eles atenderão às imensas expectativas em torno desse encontro, considerado por muitos "a última chance" de ação coordenada. Os prognósticos vão do completo fracasso a ganhos importantes obtidos já nos preparativos. Uma coisa parece certa: a crise elevou o G-20 à condição de principal foro de decisão econômica. Resta saber se esse papel sobreviverá à crise. O G-20 foi criado em 1999, por iniciativa do G-7, em meio a outra crise, que engolfava Tigres Asiáticos, Rússia e Brasil. A ideia era encorajar os países em desenvolvimento a adotar as boas práticas fiscais e monetárias. Hoje, a situação é quase inversa: países emergentes, como o Brasil, a China e a Índia, tratam os desenvolvidos como os causadores do problema e, em alguns casos, exibem sistemas de regulação e supervisão mais robustos que os do "Primeiro Mundo". Durante 19 anos, as reuniões do G-20 foram limitadas a ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais. Em novembro, pela primeira vez, o grupo reuniu em Washington chefes de Estado e de governo, graças a gestões do presidente francês, Nicolas Sarkozy, frente ao então presidente americano, George W. Bush. "O G-20 tem um significado muito importante, porque formaliza o conceito de multipolaridade, uma das principais consequências da globalização", diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, no Rio, e ex-presidente do Banco Central (1980-1983). "É um novo ator econômico e geopolítico em um mundo antes dominado pelos países industrializados. Hoje, não é possível encontrar soluções que não envolvam as principais economias emergentes. O G-20 vai tornar logo, logo o G-7 peça de museu." O governo brasileiro tem abraçado o G-20 como o palco da realização de uma velha reivindicação do País: a participação dos emergentes nos processos de tomada de decisão. "O maior interesse do Brasil nessa reunião de cúpula não é econômico, mas político-diplomático", avalia Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda (1994) e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). "O G-20 deu muita visibilidade à política externa ativista do governo Lula." A pergunta que se faz é se o G-20 cederá de novo espaço ao G-7, quando a crise refluir. É o que o Brasil e outros emergentes tentarão evitar. "Um dos objetivos do Brasil nessa cúpula é que o G-20 seja o palco central", diz o embaixador Marcos Galvão, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, que representa o Brasil nas negociações que precedem as reuniões de ministros e de presidentes. "Uma nova arquitetura internacional já está em formação, com o G-20 em posição central. É uma grande transformação, mas não uma conquista definitiva, e sim um processo", adverte Galvão. Do redesenho, faz parte a revisão do esquema de representação dos países no Banco Mundial até abril de 2010 e das cotas do Fundo Monetário Internacional até janeiro de 2011 - prazos estipulados na reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais nos dias 12 e 13 em Horsham, na Inglaterra. O capital do FMI pode ser elevado de US$ 250 bilhões a US$ 500 bilhões ou US$ 750 bilhões, e os empréstimos devem se tornar mais flexíveis e mais volumosos, de modo que os países possam recorrer ao fundo também para prevenir as crises, e não apenas para se salvar delas. Além disso, num intervalo de três semanas, houve a ampliação do Fórum de Estabilidade Financeira, do Comitê da Basileia de Supervisão Bancária e da Organização Internacional das Comissões de Valores (Iosco). Brasil, China e Índia ingressam na direção desses órgãos no momento em que eles se lançam à reforma do marco regulatório e do modelo de supervisão do sistema financeiro. Algumas dessas medidas podem ajudar a prevenir futuros incêndios. Mas a casa está pegando fogo agora. Os economistas divergem sobre se o G-20 pode ajudar a apagar o fogo. "O G-20 é irrelevante para essa tarefa, porque os obstáculos estão nas políticas internas, não na cooperação internacional", escreveu Barry Eichengreen, professor de economia e ciência política da Universidade da Califórnia em Berkeley, no jornal alemão Finanz und Wirtschaft. Ele exemplifica: é o Congresso americano que impede o governo de Barack Obama de liberar mais recursos para salvar os bancos; é a resistência no interior da União Europeia, refletindo a fobia alemã por déficit público, que a impede de ajudar os países do Leste Europeu. "Não está havendo coordenação", acrescenta o diplomata Paulo Roberto de Almeida, professor de economia política internacional na Uniceub, em Brasília. "Cada um faz o que quer." Já Langoni está entre os que acham que o G-20, que inclui a UE como membro, tem um papel na crise: os governos podem comprometer-se a não permitir que nenhuma instituição financeira importante quebre; e podem chegar a um acordo para que não haja mais medidas protecionistas, que poderiam contribuir para a recessão evoluir para a depressão, como ocorreu nos anos 30. É uma agenda modesta, mas factível e eficaz. A dúvida é se os políticos se aterão a ela.

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