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Gafisa vai renegociar dívida bancária

Com pouco dinheiro em caixa, incorporadora começa visitas a bancos para alongar prazos; recurso de nova emissão irá para concluir obras

Foto do author Circe Bonatelli
Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

Com mais dívidas do que dinheiro em caixa, a Gafisa começará uma série de visitas aos principais bancos do País nas próximas semanas na tentativa de alongar os prazos e flexibilizar as condições de amortização. Este será um dos principais desafios do novo presidente, Roberto Portella, que assumiu o cargo há 42 dias, após a renúncia de Ana Recart, cuja gestão é criticada por ter reduzido o caixa da incorporadora.

“Não existe intenção de calote ou de qualquer processo que faça mal à credibilidade da empresa. Pelo contrário”, disse ele. “Queremos recuperar as operações e contar com recursos do mercado financeiro. Vamos buscar alongar a dívida e renegociar as condições.”

Gafisa só prevê abertura de novos estandes de venda em 2020 Foto: Divulgação

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Credores

A Gafisa fechou 2018 com dívida de R$ 889,4 milhões, incluindo debêntures, capital de giro e financiamento à produção. Entre os credores estão Bradesco, Itaú, Santander, Caixa e Banco do Brasil, além de family offices, segundo Portella. Desse total, R$ 348,3 milhões vencem até dezembro, mas no caixa havia apenas R$ 137,2 milhões no início do ano, além dos imóveis em estoque, conforme o balanço de dezembro.

A Gafisa espera ganhar fôlego com o processo de capitalização em andamento, que se dará por meio da emissão de ações em duas fases. A iniciativa pode render até R$ 400 milhões aproximadamente, se todos os papéis foram subscritos, segundo cálculos de analistas. 

Em paralelo, a direção também quer voltar a listar as ações da incorporadora na bolsa de Nova York. O cancelamento foi feito pela gestão anterior. “Temos interesse em voltar ao mercado americano, que representa 12% de nossos acionistas”, disse. “Esse processo leva tempo, mas estará pronto na segunda tranche da capitalização”.

Portella afirmou, porém, que o dinheiro não será usado para quitar dívidas, mas para empreendimentos e concluir obras. Com a venda e a entrega dos apartamentos, a Gafisa pagará os bancos. “O mercado espera que apliquemos esse dinheiro em atividades geradoras de caixa”, disse. 

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Segundo Portella, a nova direção e o conselho têm preocupação com a sustentabilidade dos negócios no longo prazo, o que exigirá perenidade dos lançamentos. Entretanto, em 2019 ainda não foram abertos novos estandes, o que só deverá ocorrer no ano que vem. Com pouco dinheiro, a prioridade é terminar o que já foi começado.

Para ajustar o rumos, a Gafisa acaba de assinar contrato com a consultoria Falconi, que revisará diretrizes, competências, orçamentos, processos internos, entre outros itens. “Vamos ver a implantação de um novo modelo de gestão”, disse Portella.  A incorporadora ainda estuda fechar parceria com outra consultoria, a Bain, que daria apoio na definição dos planos operacionais de longo prazo.

Crise piorou com gestão GW

A Gafisa é uma das empresas mais tradicionais do mercado imobiliário residencial e sua reestruturação se tornou necessária após a gestão conturbada do antigo controlador, a GWI, empresa de investimentos do coreano Mu Hak You. Uma das iniciativas mais contestadas de Mu Hak foi a execução de um programa de recompra de ações justamente quando a Gafisa tinha pouco dinheiro em caixa. 

A medida valorizou os papéis na bolsa, beneficiando a própria GWI, que era a maior acionista da companhia até o começo deste ano. 

Em paralelo, fornecedores ficaram sem pagamento e centenas de funcionários foram demitidos, comprometendo os projetos, sob a justificativa de economia de custos. 

Esse conjunto de ações dificultou ainda mais a recuperação dos negócios, que não vinham bem após anos de crise e cancelamento de contratos.

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No início do mês, a Associação Brasileira de Investidores (Abradin), presidida por Aurélio Valporto, cobrou da atual administração que a responsabilização de Mu Hak entrasse na pauta das próximas assembleias. A associação suspeita, entre outras coisas, que a GWI agiu de má-fé. 

A ideia é entrar na Justiça contra a GWI. Para que o tema entre na assembleia, a atual administração aguarda apenas ficar pronto o laudo da comissão de auditoria montada para fazer uma varredura nas contas da Gafisa. Procurada, a GWI não se manifestou. A Gafisa também não se pronunciou sobre a iniciativa da Abradin.

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