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Ganho de empresas produtivas cai, o dos bancos sobe

Três bancos têm 60% do lucro de 51 empresas, mostra estudo da consultoria Economática

Por Agencia Estado
Atualização:

A soma dos lucros apurados no primeiro trimestre deste ano por apenas três bancos (Bradesco, Itaú e Caixa Econômica Federal) corresponde a 60% dos resultados médios de um conjunto de 51 empresas de capital aberto do setor produtivo e de serviços cujas ações são negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Segundo levantamento feito pela consultoria Economática, enquanto o ganho dessas companhias caiu 13,1%, comparado ao mesmo período de 2003, o resultado das instituições financeiras avançou em média 15%. Parte desse lucro dos bancos deve-se à bem-sucedida estratégia de elevar a quantidade de produtos oferecidos aos clientes. Nos primeiros três meses de 2004, a receita de serviços acabou compensando uma pequena redução dos ganhos dos bancos por causa da queda na taxa Selic para 16,25% ao ano. O Bradesco, por exemplo, elevou em quase 30% as receitas de serviços e o Itaú, em 16%. Mas os juros continuam sendo uma boa fonte de renda para os bancos, que aplicam os recursos em títulos do governo. Enquanto isso, o setor produtivo e de serviços sofre com o atual patamar das taxas cobradas no País, que tornam inviáveis novos investimentos na ampliação da produção. Junta-se a isso o fato de o mercado interno estar estagnado, com baixo consumo e renda em queda. Nesse cenário, o que tem salvado as empresas é a venda dos produtos para o mercado internacional, afirma o analista da Corretora Socopa, Gregório Mancebo. Exportação O aumento das exportações explica o crescimento médio da receita líquida real em 5,4% no primeiro trimestre, de R$ 34,4 bilhões para R$ 36,2 bilhões. Mas o resultado das companhias voltadas para o mercado externo poderia ter sido melhor se o dólar não tivesse caído. Esse impacto, no entanto, foi compensado pela elevação do preço das commodities, pelo aumento da demanda e conquista de novos mercados. Se não fosse por esses motivos, as receitas também teriam caído. Isso porque no primeiro trimestre do ano passado as empresas estavam faturando vendas feitas quando a moeda americana estava acima de R$ 3,2, explica o analista da Corretora Souza Barros, Angelo Larozi. Já neste ano, o faturamento foi feito com base num dólar na casa de R$ 2,90. "Nesse patamar, quando o valor é convertido para reais, o exportador perde dinheiro." Mesmo assim, as duas empresas mais lucrativas no trimestre são grandes exportadoras: Usiminas, com ganho de R$ 358,4 milhões, e Companhia Siderúrgica de Tubarão (CSN), R$ 333,3 milhões. Ambas, no entanto, tiveram recuo no lucro de 5% e 20,6%, respectivamente. Entre as companhias que atuam no mercado doméstico, a demanda fraca e a queda no poder aquisitivo do consumidor brasileiro foi traduzida no tímido avanço da receita líquida. Segundo levantamento da Economática, o faturamento do Pão de Açúcar, por exemplo, evoluiu apenas 0,8% no trimestre, de R$ 2,78 bilhões para R$ 2,80 bilhões. Recuperação melhor Por outro lado, as empresas de energia tiveram uma recuperação melhor, comparada com trimestres anteriores. Das companhias que apresentaram balanço até o momento, a média de crescimento das receitas foi de 10%. O aumento, no entanto, está mais associado aos reajustes tarifários concedidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) do que a uma retomada de consumo. Apesar da inflação ter se mantido estável, os aumentos no preço de energia foram elevados por causa de mudanças promovidas no ano passado pelo Ministério de Minas e Energia. Para evitar impactos nos índices inflacionários, ficou decidido em 2003 que os repasses da variação cambial de 2002 seriam divididos e repassados para o consumidor em parcelas. A primeira delas veio neste ano e o índice foi expressivo. Quem mais sofreu com esses reajustes foi o setor industrial. Isso porque os aumentos estão sendo escalonados de acordo com a classe de consumo. Uma forma de reduzir os subsídios cruzados existentes no setor, onde o cliente residencial acaba pagando mais pela energia. Na Eletropaulo, maior distribuidora da América Latina, o fornecimento de energia caiu 3,9% até março. Uma das explicações é a opção de alguns consumidores de se tornarem livres. Ou seja, eles passam a comprar eletricidade direto das geradoras. Isso fez com que a venda de energia para a classe industrial caísse 14,32%. Apesar disso, a receita líquida da empresa subiu 5,9%. Mas a concessionária apresentou prejuízo de R$ 13,6 milhões, revertendo lucro de R$ 15,1 milhões no primeiro trimestre de 2003. Despesa financeira Como no caso da Eletropaulo, o aumento de receita não foi suficiente para impedir a queda no lucro das empresas. Segundo o presidente da Economática, Fernando Exel, o resultado menor deve-se ao aumento das despesas financeiras líquidas no período. Como em 2003 houve queda da moeda americana, as empresas apresentaram ganho cambial que reduziu essas despesas e elevou o lucro. "Já neste ano, com a estabilidade do dólar, não houve esse tipo de receita e o resultado líquido foi reduzido", explicou Exel. Na avaliação dele, o desempenho das empresas até pode ser considerado bom se comparado ao baixo crescimento da economia brasileira no período. Com o dólar estável, o estoque da dívida das empresas caiu 1,6%, de R$ 80,4 bilhões para R$ 79,1 bilhões. O patrimônio líquido, por sua vez, avançou de R$ 71,3 bilhões para R$ 78,3 bilhões - aumento de 9,8% - e o lucro operacional próprio (Ebit), antes dos impostos, cresceu 6,3%, de R$ 6,7 bilhões para R$ 7,2 bilhões. Para os próximos trimestres, a expectativa é que as exportadores continuem sendo destaque no mercado. Principalmente porque, com a retração do mercado interno, muitas empresas estão se arriscando no ambiente internacional, explica Angelo Larozi, da Corretora Souza Barros. "Essa é a solução para escapar da paralisia da economia doméstica." Na opinião de Gregório Mancebo, da Socopa, o governo perdeu uma janela de oportunidade para lançar o País num fase de crescimento mais agressivo. O que poderá ser mais complicado daqui para frente por causa da alta de juros americanos e por uma possível freada no aquecimento da economia chinesa - um dos principais clientes das empresas brasileiras, especialmente no agronegócio e no setor de siderurgia. "O governo demorou para tomar decisões e isso refletiu na ausência de investimentos."

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