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Gás nacional sobe mais que o boliviano

Reajustes deixaram o produto local 30% mais caro que o importado

Por Nicola Pamplona
Atualização:

Os recentes aumentos no preço do gás natural produzido no País fizeram com que o produto fechasse o primeiro semestre 30% mais caro do que o gás boliviano. Segundo dados da Petrobrás, o gás nacional foi entregue às distribuidoras no segundo trimestre deste ano por US$ 9,31 por milhão de BTU (unidade de medida do poder energético). O valor é 101,5% superior ao vigente no fim de 2006. Já o gás boliviano foi vendido a US$ 7,24 por milhão de BTU. A alta do gás boliviano desde o fim de 2006 foi de apenas 32,1%. A diferença reflete a nova política de preços da Petrobrás para o gás nacional, que foi posta em prática em 2006, com a retirada de descontos e acompanhamento mais de perto das cotações internacionais do petróleo. No último ano, a estatal fechou novos contratos de fornecimento do gás nacional, com preços que remunerem os investimentos feitos em ampliação da produção do combustível e em novas modalidades de fornecimento. "O aumento de preço vem desacelerando as conversões de novos clientes do gás, o que, na verdade, era um dos objetivos do governo", aponta o consultor Francisco Barros, que ocupou a secretaria executiva da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). Entre 2006 e o fim de 2007, foram freqüentes as declarações de representantes do governo sobre a prioridade de abastecimento das térmicas, em detrimento de consumidores como os proprietários de veículos convertidos ao gás natural veicular (GNV). O gás boliviano abastece parte do consumo de São Paulo, além da totalidade dos Estados da Região Sul. As distribuidoras que vendem apenas gás nacional reclamam de distorções na política de preços, que garantem maior competitividade aos Estados que consomem o produto importado. A situação, no entanto, era invertida até o fim de 2006, com maior vantagem para o gás nacional. Os preços do gás são reajustados a cada três meses, de acordo com fórmulas que consideram a evolução das cotações internacionais do petróleo e derivados. No caso do gás nacional, porém, houve aumento do preço-base nos novos contratos. A alta foi um dos fatores que contribuíram para a reversão dos maus resultados da área de gás e energia da estatal, que fechou o segundo trimestre com lucro de R$ 237 milhões, ante prejuízo de R$ 396 milhões no trimestre anterior. Barros acredita que o ritmo de aumento no gás nacional deve se reduzir nos próximos meses, uma vez que a cotação do petróleo cedeu no mercado externo. Há consultores, porém, que acreditam que o preço do combustível pode chegar ao fim de 2009 a US$ 12 por milhão de BTU. Frente ao aumento da oferta, com a chegada do gás natural liquefeito e o início da produção em campos capixabas, as distribuidoras já começam a planejar novas campanhas de captação de clientes. "Caso contrário, há risco de sobrar gás em 2012", diz Barros, lembrando que a Petrobrás planeja ofertar 134 milhões de metros cúbicos por dia naquele ano, volume 168% maior que o consumo atual, que está na casa dos 50 milhões de metros cúbicos por dia.

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