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Geradoras vão bancar conta extra de R$ 16,1 bi

Empresas não têm direito à compensação destes gastos extraordinários ocasionados pela seca no País e o aumento dos preços da energia

Por André Borges - BRASÍLIA
Atualização:

Um rombo bilionário tomou conta das principais hidrelétricas que estão em operação no País. Entre janeiro e setembro deste ano, consórcios e empresas que controlam essas usinas terão de bancar uma conta extra de R$ 16,1 bilhões, dinheiro que será usado para comprar energia de usinas térmicas e, dessa forma, garantir o volume de abastecimento que as hidrelétricas tinham se comprometido a entregar, mas não conseguiram cumprir. 

Usina de Ilha Solteira, da Cesp, teve de pagar de R$ 320 mi Foto: Divulgação

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No primeiro semestre deste ano, essas empresas já desembolsaram R$ 6,5 bilhões. Entre julho e setembro, no entanto, a conta simplesmente explodiu e, até o fim deste mês, será ampliada em mais R$ 9,6 bilhões. 

A origem desse abismo, que começa a abalar seriamente a saúde financeira de muitas geradoras, está na situação hidrológica atravessada pelo País. A situação das geradoras começou a se agravar em fevereiro, quando a seca reduziu o nível dos reservatórios, elevando os preços da energia no mercado livre. 

Para garantir que não faltará energia a nenhum consumidor, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou, desde o início do ano, o acionamento pleno de todas as usinas térmicas à disposição. Paralelamente, o órgão reduziu a vazão dos reservatórios das hidrelétricas. 

Trata-se, basicamente, de uma decisão técnica, já que essa reserva de água ajuda a manter o equilíbrio de todo o sistema elétrico. 

Ocorre que as hidrelétricas, que têm contratos de abastecimento de longo prazo firmados com as distribuidoras e grandes consumidores industriais, não podem deixar de honrar seus compromissos de geração. 

Dessa forma, como não conseguem entregar o que estava previsto, são obrigadas a adquirir a energia que falta no mercado de geração de curto prazo. E o preço do megawatt-hora (MWh) nesse mercado tem sido negociado próximo do teto, entre R$ 700 e R$ 822. A exposição das geradoras no mercado à vista varia mensalmente.

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O agravante dessa situação é que os donos das hidrelétricas não têm direito à compensação financeira por conta desses ajustes.

Diferentemente das distribuidoras de energia, que repassam seus custos extras para a conta de luz do consumidor, cabe a cada hidrelétrica assumir seu prejuízo. 

“Muitas empresas estão com o fluxo de caixa comprometido e passando um enorme sufoco para pagar essa conta”, diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia, empresa que atua como comercializadora de energia elétrica. 

Desempenho. A pedido do Estado, a Comerc fez um levantamento sobre o desempenho das hidrelétricas nos últimos 12 meses. O objetivo foi cruzar o volume mensal de energia firme (aquele que as empresas são obrigadas a entregar) exigido pelo setor elétrico, com a quantidade de energia efetivamente entregue pelas hidrelétricas. 

Os dados apontam que, entre agosto e dezembro de 2013, as usinas conseguiram entregar uma quantidade de energia até superior àquela esperada, com oscilações positivas de 1% a 8% em relação ao projetado pelo ONS. 

Neste ano, porém, a situação degringolou. Desde janeiro, as hidrelétricas não conseguem alcançar a meta mensal de geração estabelecida.

Os saldos negativos, que no primeiro semestre oscilaram entre 1,5% e 11%, chegaram a atingir 14% em julho. Em agosto, a frustração chegou a 14%, pior resultado desde o início da crise. 

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Enquanto a energia física prevista para as hidrelétrica era de 47,5 mil megawatts (MW), essas usinas injetaram apenas 40,05 mil MW no sistema elétrico. Isso significa que as geradoras tiveram de comprar, apenas em agosto, mais de 7 mil MW de energia no mercado livre. 

O Estado apurou que só a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) teve de pagar cerca de R$ 320 milhões em agosto para fechar a liquidação realizada mensalmente pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). 

Problema sistêmico. “O governo diz que tudo é risco hidrológico e natural do negócio, mas não é bem assim”, diz Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. As empresas podem ficar expostas ao mercado de curto, mas não dessa forma. Isso é um problema sistêmico, que precisa ser discutido. 

Da forma que está, é insustentável. Entre agentes do setor, a expectativa é de que haja, ao menos, algum tipo de financiamento para ajudar a fechar as contas. 

Procurado pela reportagem, o Ministério de Minas e Energia não comentou o assunto.

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