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Gerdau critica uso das estatais nas políticas de governo

Para empresário, há interesses distintos entre acionistas minoritários e controladores, e esse conflito prejudica o mercado de ações

Por Mariana Durão
Atualização:
Para Gerdau, acionista deve ser esclarecido sobre propósitos das estatais Foto: Clayton de Souza/Estadão

RIO - Um dos empresários mais próximos ao governo Dilma Rousseff, à frente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, Jorge Gerdau Johannpeter criticou publicamente ontem o uso de companhias estatais de capital aberto como instrumento de implementação de políticas de governo.

Ao tratar do tema governança corporativa em palestra na 39.ª Conferência Anual da Iosco, organização que reúne comissões de valores no mundo, no Rio, Gerdau mencionou que há hoje interesses distintos de acionistas minoritários e controladores nas estatais do País.

Segundo ele, o conflito entre políticas de governo e os interesses das empresas traz "consequências terríveis sobre o mercado de capitais".

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O acionista, avalia, deve ser esclarecido sobre os propósitos dessas empresas. "Deveria ser exigência quando uma empresa estatal vai ao mercado de capitais (dizer) se vai seguir regras de mercado ou vai se subordinar aos interesses do controlador que impõe as suas regras, aos interesses de políticas de governo", disse, mencionando as companhias do setor elétrico como exemplo. Ele pediu a atenção da Comissão de Valores Mobiliários sobre o tema.

Gerdau também atacou a falta de governança no setor público. Para o empresário existe um avanço na implementação da governança no setor privado brasileiro, mas não existe nem sequer o debate sobre o tema no médio e longo prazos na esfera governamental, responsável por gerir 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Para o executivo o tema preocupa porque a eficiência do setor privado depende da governança pública.

"A governança é peça-chave. Mas onde há a maior carência de governança hoje? Na área governamental. O temor da morte faz a gente olhar para a frente porque a empresa morre se não tiver planejamento estratégico. O temor da morte no governo não existe", afirmou.

Segundo reportagem publicada pelo

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Estado

em setembro, desde o fim do ano passado o governo excluiu do debate de temas estratégicos a Câmara de Políticas de Gestão, formada por empresários e presidida por Jorge Gerdau. Criada em 2011, seu objetivo era levar para o setor público uma gestão nos moldes do setor privado, mas não vingou, esbarrando na burocracia e na falta de apoio político.

Minério de Ferro.

Questionado sobre a queda livre dos preços do minério de ferro em 2014, após os últimos anos do chamado superciclo - quando bateram a casa dos US$ 180 -, ele disse que a mudança de patamar é fato consumado. Porém, o alcance da queda da cotação dependerá de fatores como o crescimento chinês e também da atuação das grandes mineradoras.

"Já aconteceu (o fim do ciclo de alta). Só o mercado sabe (até que ponto a queda vai continuar). O mercado é muito influenciado por meia dúzia de empresas, ou menos. Vai depender se essas empresas terão uma política de guerra total pelo mercado ou não", disse.

Para Gerdau, algumas empresas vão se beneficiar do preço mais barato do minério. "A Gerdau em parte sim, em parte não. A flutuação do mercado é normal e as empresas têm de saber se beneficiar disso."

Nos últimos anos, a Gerdau apostou no setor de mineração dentro do processo de verticalização da produção siderúrgica. A companhia tem hoje um plano de elevar sua capacidade produtiva de minério de ferro das atuais 11,5 milhões de toneladas anuais para 24 milhões de toneladas em 2020. Até maio deste ano a divisão de mineração recebeu aportes de R$ 1 bilhão.

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