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Gigante chinesa conquista o mundo

Huawei deve se tornar este ano a terceira maior fabricante global de equipamentos de telecomunicações

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

Fundada há 21 anos com um capital de US$ 2.500 e desconhecida fora da China há menos de uma década, a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei deverá assumir neste ano o terceiro lugar no ranking de vendas globais de seu setor, deixando para trás as gigantes Alcatel-Lucent e Nokia Siemens Networks. A empresa, que nasceu como distribuidora de aparelhos de PABX, em 1988, traçou uma trajetória ascendente que é espantosa até mesmo para os padrões chineses. Seu primeiro produto chegou ao mercado em 1992 e, cinco anos mais tarde, teve início seu processo de internacionalização. Hoje, a Huawei fornece equipamentos para 36 das 50 maiores operadoras de telecomunicações globais, tem 87 mil empregados, 100 filiais ao redor do mundo e 1,5 bilhão de usuários de seus produtos. Suas vendas aumentaram em média 43% ao ano desde 2002, até atingirem US$ 18,33 bilhões em 2008, mais que o dobro do registrado dois anos antes. A companhia chinesa espera crescer 30% neste ano, apesar da crise global. Se conseguir 20%, será o suficiente para ultrapassar o faturamento da Alcatel-Lucent e da Nokia Siemens, que deverá ficar em US$ 22 bilhões e US$ 23 bilhões, respectivamente, de acordo com a empresa de consultoria BDA. A entrada nesse mercado da Huawei e de outra chinesa, a ZTE, estabeleceu uma feroz concorrência, encolheu as margens de lucro e derrubou o preço dos equipamentos de telecomunicações. Extremamente agressiva, a Huawei consegue oferecer soluções a preços que, em alguns casos, chegam a ser 80% inferiores aos das empresas tradicionais, disse ao Estado Duncan Clark, presidente da BDA. "Os concorrentes a odeiam", ressaltou o executivo. No relatório sobre os resultados de 2008, a Nokia observou que um dos riscos futuros que enfrenta são as políticas agressivas de preços e marketing dos concorrentes, especialmente dos que entraram recentemente nesse mercado. "Alguns competidores escolheram, e outros devem escolher no futuro, aceitar margens de lucros significativamente mais baixas do que é usual nesta indústria, o que pode resultar em pressão para redução de nossos preços e margens", observa o documento. A Huawei afirma não ter nenhuma participação ou suporte do governo chinês, mas Clark acredita que um fator importante para seu crescimento foi o financiamento de suas exportações por bancos estatais. Segundo ele, durante 10 anos, a empresa teve uma linha de crédito de US$ 10 bilhões do China Development Bank, o BNDES chinês. Apesar disso, a expansão da Huawei dentro da China não foi fácil. Quando o país começou a desenvolver a segunda geração de celulares (2G), em 1994, a maioria dos contratos foi dada a estrangeiros, como Ericsson e Alcatel, o que forçou a internacionalização da Huawei. De acordo com a BDA, companhias estrangeiras dominavam no ano passado 66% do mercado chinês de segunda geração, que é o maior do mundo, com 640 milhões de usuários. Os restantes 34% eram de contratos dados à Huawei e à ZTE. Com pouco espaço dentro da China, a empresa se expandiu no exterior. Em 2008, 75% de suas vendas ocorreram fora do país. Em 2004, a cifra já era alta: 41%. A estratégia inicial da companhia foi buscar contratos em países da África e do Oriente Médio, aproveitando a experiência que havia tido dentro da China no desenvolvimento de centrais telefônicas para a zona rural. O passo seguinte foi o ataque aos países desenvolvidos. A Huawei abriu um escritório na Europa em 2000 e assinou seu primeiro contrato quatro anos depois, com a holandesa Telfort. O grande salto ocorreu em 2005, quando foi um dos oito fornecedores selecionados pela British Telecom para a construção da uma rede batizada de Século 21. Depois disso, vieram contratos com outros pesos pesados, como Vodafone, Telefónica, Telecom Italia e T-Mobile.

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