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Gigante chinesa XCMG abre banco no Brasil

Esse é o primeiro banco do grupo XCMG em todo o mundo - nem mesmo na China o grupo possui uma instituição financeira

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:

O banco chinês XCMG, do conglomerado Xuzhou Construction Machinery Group - um gigante de construção de máquinas para a construção civil - desembarca no Brasil de olho no setor de infraestrutura e sela o crescente interesse das empresas chinesas no País. Esse é o primeiro banco do grupo XCMG em todo o mundo - nem mesmo na China o grupo possui uma instituição financeira. O presidente global do grupo XCMG, Wang Min, afirmou, em evento em São Paulo, que um dos objetivos é que o banco seja um ponto de conexão entre China e Brasil e que essa integração econômica ajudará o capital chinês a desembarcar no País. “Estamos muito otimistas com a economia, com as reformas administrativas, sinalização de mudança de ratings do Brasil. Há indicadores consistentes de que a economia está em um ciclo de retomada”, disse o vice-presidente do banco, Roberto Carlos Pontes, a jornalistas. O executivo acaba de chegar ao banco XCMG, depois de oito anos no Daycoval, no qual atuava nas áreas de tesouraria e captação, com foco em clientes corporativos.

Objetivoé que o banco seja um ponto de conexão entreChinae Brasil Foto: Aly Song/Reuters

Em um primeiro momento, disse ele, o objetivo será atuar junto aos clientes do grupo XCMG, assim como seus revendedores. Em um segundo passo, a ideia é trabalhar junto às empresas chinesas que atuam e as que ainda irão chegar no Brasil. "Por conta do ciclo econômico no País e o programa de concessões e privatizações, novos entrantes chineses devem chegar ao Brasil", disse. O sócio-diretor da prática Chinesa da KPMG no Brasil, Davi Wu, acredita que o fluxo de investimentos chineses no Brasil deverá seguir intenso e contínuo ao longo dos próximos 20 anos, e que nesse período os aportes da gigante asiática no País podem ficar na ordem de R$ 1 trilhão. Com amplo conhecimento na área de infraestrutura, as empresas chinesas buscam, com esses investimentos no Brasil, ter mais previsibilidade e redução de custos para a entrega de matérias-primas, comenta Wu. "A China não para de crescer e tudo o que a classe média chinesa precisa, o Brasil tem", comenta. Esse não é, contudo, o primeiro banco com capital chinês no Brasil. Em 2013, o China Construction Bank Corporation (CCB) comprou o controle do então BicBanco. Em 2015, o Bank of Communications, também da China, comprou a participação de 80% do brasileiro Banco BBM S.A. O co-head da área de renda variável da Eleven Financial, Carlos Eduardo Daltozo, afirmou que o XCMG chega no Brasil para atuar em um nicho de mercado muito específico e que, assim, não afeta o mercado brasileiro de crédito do País. "Na época da chegada do CCB, chegou a haver uma preocupação maior no mercado de que o banco chinês chegaria muito agressivo, o que acabou mão acontecendo. O XCMG é muito pequeno e não deve interferir em nada o mercado bancário brasileiro", afirma.Planejamento Nos números do banco XCMG, o planejamento é fechar o primeiro ano com operações de crédito entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. Em três anos, a instituição estima que atingirá o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas. "Estamos sendo conservadores", disse. As modalidades que serão oferecidas pelo banco serão crédito direto ao consumidor (CDC) e arrendamento mercantil (leasing). Mais para frente, o banco já pensa em inserir em seu portfólio novos produtos, como capital de giro e antecipação de recebíveis. O banco XCMG também está em processo de credenciamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Federal (BNDES) para oferecer crédito por meio do Finame, linha do banco de fomento voltada para produção e aquisição de máquinas e equipamentos, entre outros. Depois de atingida a maturidade junto a esse público-alvo, a instituição não descarta atender também as empresas brasileiras, afirmou. "Vamos aumentar o público alvo com o decorrer do tempo", disse. "Temos interesse em ampliar o leque de produtos, como M&A (fusões e aquisições), até pela sinergia com as empresas chinesas." O banco nasce com aproximadamente 15 pessoas e a equipe deverá crescer de acordo com sua evolução. A sede será em Pouso Alegre, onde o grupo já tem uma unidade fabril, mas a ideia é abrir um escritório em São Paulo, provavelmente na Avenida Paulista. Depois de consolidar sua operação no Brasil, o banco deverá avançar nos demais países nos quais a XCMG possui negócios na América Latina, como Argentina, Colômbia, Peru e Chile. A autorização da constituição do Banco XCMG Brasil pelo Banco Central ocorreu em outubro, sendo o primeiro caso de aprovação direta de participação estrangeira em banco, sem a necessidade de nova anuência por parte da Presidência da República, após mudanças das regras em setembro último. Pelo decreto que foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, o BC passou a ser o único responsável pela autorização de entrada de capital estrangeiro em instituições financeiras. "Atendidos os requisitos previstos na regulamentação, a participação de recursos estrangeiros no capital de instituições financeiras nacionais, além de favorecer o acesso a fontes externas de financiamento e a integração com a comunidade internacional, permite o ingresso de novos entrantes, ampliando a concorrência e atuando no sentido da redução do custo do crédito", segundo nota do BC, na época. Wang disse que a companhia vem trabalhando desde 2017 para instalar sua instituição financeira no Brasil e que houve, ao longo desse período, cooperação entre o governo chinês e o brasileiro. "O Banco Central nos deu um forte apoio em termos de orientação regulatória", disse. O grupo XCMG atua no mercado brasileiro desde 2004 e, em 2014, inaugurou seu parque industrial em Pouso Alegre. A capacidade anual de montagem chega a 7 mil máquinas, como caminhões, guindastes, carregadeiras, escavadeiras, motoniveladoras e rolos compactadores. Hoje, segundo a companhia, a XCMG é a quinta maior indústria de máquinas de construção do mundo.

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