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Gim em alta cria 'onda' de destilarias artesanais

Mercado da bebida cresceu 40% em 2016 e produtor local tenta fazer frente a gigantes

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

A moda começou na Espanha há mais de uma década, se alastrou pelo continente europeu, sobretudo por Portugal, desembarcou no Brasil há cerca de três anos e agora movimenta não só o mercado das importadoras, mas também o das fabricantes locais. Essa é a história do gim, que já conta com cerca de uma dezena de microdestilarias nacionais.

Criadas por apreciadores da bebida, essas empresas procuram se beneficiar do crescimento acelerado do mercado doméstico, que avançou 40% no ano passado, e se inspiram no sucesso recente das cervejarias artesanais – que chegaram a ser alvo de compra das multinacionais. As destilarias tentam ainda aproveitar a brecha de preços entre o gim nacional (cuja garrafa ronda a casa dos R$ 40) e o internacional, que ultrapassa os R$ 120. 

CAMPIINAS/SP 01.08.2017 ECONOMIA - EXCLUSIVO ESPECIAL DOMINICAL- BEG GIM, EMPRESA ONDE E FEITO O GIM DE UMA FORMA ARTESANAL - LOCAL DESTILARIA BEG GIM. DA ESQUERDA PARA DIREITA OS SOCIOS ARTHUR FIOSI, FELIPE SANTORO E THIAGO LUZ CREDITO ARI FERREIRA/ESTADAO Foto:

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“Eu achava o produto nacional de qualidade baixa e o importado muito caro. Então via que tinha um mercado potencial entre eles”, conta Arthur Flosi, que fundou o BEG Gin ao lado de dois colegas. O BEG começará a ser comercializada em setembro, por cerca de R$ 100, após os sócios terem investido cerca de R$ 300 mil no desenvolvimento da fórmula, no arrendamento de um sítio em Campinas (SP) e na instalação de uma destilaria com capacidade para produzir 5 mil litros por mês. 

Inicialmente, eles devem fabricar 1 mil litros mensais, e a ideia é que passem a receber visitantes no local para produzirem seu próprio gim – assim como microcervejarias têm feito em São Paulo.

O projeto do gim Amázzoni é ainda maior: demandou aporte de R$ 1,5 milhão na instalação da empresa em Porto Real (RJ). A destilaria da marca tem capacidade para 36 mil garrafas mensais, o equivalente a 25% do que será o mercado brasileiro neste ano, segundo estimativa da IWSR. A estratégia da empresa é produzir não apenas o Amázzoni, mas também para terceiros que queiram apostar na onda do gim, diz Alexandre Mazza, um dos sócios.

O empresário Rodrigo Marcusso, que criou o Draco Gin, ressalta, porém, que a bebida não é um modismo. Para ele, o gim deve se consolidar por contribuir mais na elaboração de coquetéis. “Ele tem aroma e sabor. Não é como a vodca, que entra apenas para dar peso alcoólico ao drinque.” Marcusso, que tem há 15 anos uma empresa de eventos, conta que hoje, nas festas que promove, o consumo dos dois tipos de bebida já são equivalentes.

A meta do empresário é atingir uma margem de lucro de 30% e vender, no próximo verão, 5 mil garrafas por mês, todas fabricadas em uma destilaria arrendada em Pirassununga (SP). Seis meses atrás, o local se destinava a produzir apenas cachaça. Agora, metade dos alambiques estão cheios de gim.

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Marcusso diz que o grande desafio dos fabricantes da bebida artesanal será competir com os importados, que têm orçamentos robustos para investir no patrocínio de festas e inclusive para fechar contratos de exclusividade com bares. 

Grandes. Não foram só os novos empreendedores que acompanharam o “boom” do gim lá fora e sua chegada ao Brasil. Empresas já consolidadas no setor observaram o movimento e decidiram investir nele.  A Stock do Brasil, que detém a marca Seagers – a mais antiga do País, produzida há aproximadamente 80 anos –, lançou no mês passado um gim “premium”, o Silver Seagers, vendido pelo dobro do preço do tradicional, de cerca de R$ 40. 

A companhia começou a desenvolver o projeto há dois anos, ao constatar que o crescimento é impulsionado pelo segmento de qualidade superior. 

A Salton, tradicional fabricante de vinho que começou a produzir conhaque e vodca em 2016, também estuda o gim, apesar de ainda não ter tomado nenhuma decisão. “Com a crise, temos que ter um pouco o pé no chão, porque (o segmento) envolve um investimento alto”, diz o diretor comercial da companhia, Cleber Slaifer. 

Mas Slaifer também crê que o gim não deverá ser uma onda passageira. “Começamos a fazer pesquisas para saber se é uma moda ou não. É uma tendência mesmo. O consumidor criou afinidade e isso deve continuar.”

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