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Gol propõe desconto de 62% em sua dívida

Débito cairá de US$ 780 milhões para US$ 295 milhões caso os credores aceitem a proposta; para a agência S&P, troca é ‘equivalente a um default’

Por Marina Gazzoni
Atualização:
Gol não irá receber aeronaves até a metade de 2018 Foto: Fabio Motta/Estadão

Em meio a um processo de reestruturação financeira, a Gol propôs na terça-feira à noite a troca de títulos de dívida externa por bônus com desconto médio de 62% sobre o valor de face, e com vencimento posterior. O valor proposto pela Gol, no entanto, está acima do preço de venda dos seus títulos no mercado secundário, que acumulam deságios superiores a 70%. A oferta aos credores externos faz parte de uma série de medidas anunciadas pela Gol para equalizar suas finanças, como corte de voos e de frota.

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A oferta vale para todos os títulos de dívida em moeda estrangeira da Gol, que somam cerca de US$ 780 milhões. Se todos os credores aderirem, o valor devido nesses títulos cairia para cerca de US$ 295 milhões, de acordo com o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Gol, Edmar Lopes. Pela regra proposta, a Gol teria de pagar cerca de US$ 60 milhões aos donos dos títulos em dinheiro e oferecer uma nova nota de dívida com garantia real – no caso, as peças de reposição de aeronaves da Gol, avaliadas em US$ 200 milhões, segundo estimativa do banco Morgan Stanley. Os títulos atuais não têm garantia.

“Essa é a oferta que cabe no bolso da Gol. Entendemos que vale a pena fazer um desembolso de caixa para trocar a dívida”, afirmou Lopes. A meta da Gol é trocar 95% dos títulos com essa oferta, que não tem adesão mínima para ser validada e está aberta até o próximo dia 1º.

Lopes explicou que o deságio oferecido reflete a nova realidade do mercado. “É o preço dos títulos hoje no mercado secundário. O desconto se deve ao aumento da percepção de risco da companhia em relação à data em que os títulos foram emitidos”, explica. A última emissão foi feita no segundo semestre de 2014, antes da eleição da presidente Dilma Rousseff. “As perspectivas para o Brasil e para a aviação brasileira pioraram muito desde então.”

Ontem à noite, a agência de classificação de risco Standard&Poor’s rebaixou a nota da Gol para “CC”. “A troca é uma negociação sob condições desfavoráveis (distressed) e, portanto, equivalente a um default uma vez que a oferta seja concluída e a nova estrutura de capital da empresa seja anunciada”, afirmou a S&P, em nota.

Já os investidores reagiram bem à oferta. As ações da Gol dispararam 28,46% na quarta-feira, 4, e fecharam em R$ 3,25. “A ação da Gol estava muito desvalorizada. Os investidores já tinham embutido no preço uma probabilidade de quebra. Com a oferta aos credores, esse risco é menor, e a ação se recupera”, disse uma fonte do setor financeiro. O papel da Gol perdeu 78,6% do seu valor desde o início de 2015.

Além da oferta aos credores externos, a Gol anunciou que estuda outras medidas. Entre elas está a renegociação de debêntures com bancos locais, de R$ 1 bilhão, a venda antecipada de passagens ao Smiles e renegociação de contratos de leasing.

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Em relatório divulgado nesta quarta, o banco Morgan Stanley classificou a oferta como um “passo positivo”, mas que está “longe de resolver os problemas no balanço financeiro da empresa”. Os cálculos do banco apontam que, se todos os credores externos aderirem à oferta, a relação dívida ajustada pelo Ebitdar (indicador de geração de caixa) cai para 8,5 vezes (contra os atuais 9,9 vezes, considerando os ajustes pela recente variação cambial). “É uma redução relativamente pequena”, dizem os analistas.

Para o UBS a oferta anunciada é um “ótimo primeiro passo”, segundo relatório. “Mas não é suficiente se as operações não pararem de queimar caixa”. Os analistas do banco estimam que a empresa precisa elevar em 15% seu preço por quilômetro para parar de consumir caixa, um efeito que depende da redução de capacidade e da reação da demanda.

“Essa é a oferta que cabe no bolso da Gol. Entendemos que vale a pena fazer um desembolso de caixa para trocar a dívida. (...) O desconto se deve ao aumento da percepção de risco da companhia em relação à data em que os títulos foram emitidos.”

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