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Golpista francês diz que não será ''''bode expiatório''''

Kerviel declara que é parcialmente responsável por perda de 4,9 bilhões do banco Société Générale

Por AFP e Paris
Atualização:

O operador francês Jérôme Kerviel, de 31 anos, falou ontem pela primeira vez sobre as operações que causaram um prejuízo de 4,9 bilhões ao banco Société Générale. Em entrevista à agência de notícias France Presse, ele admitiu ter "parte da responsabilidade" no negócio, mas descartou ser o "bode expiatório" no escândalo. "Fui considerado o único responsável pelo Société Générale. Assumo minha parte de responsabilidade, mas não serei o bode expiatório do banco", afirmou. A entrevista foi concedida no escritório de sua advogada, Elisabeth Meyer, em Paris. Vestido com uma camisa branca e calça jeans, Kerviel não quis entrar em detalhes sobre as operações e salientou que prefere "reservar as declarações para os juízes". No dia 24 de janeiro, o Société Générale, segundo maior banco da França pelo critério de valor de mercado, informou que operações feitas por Kerviel haviam provocado um rombo de quase 5 bilhões. Segundo o banco, o jovem operador havia assumido posições no mercado futuro de índices de bolsas de valores européias. Essas posições apostavam na alta dos mercados acionários. Com a forte queda das bolsas no início do ano, em decorrência dos temores de uma recessão nos Estados Unidos, as operações de Kerviel provocaram grandes perdas. O banco disse que, assim que as descobriu, foi ao mercado para liquidá-las. Isso ocorreu no dia 21 de janeiro, quando as bolsas de valores européias despencaram. O Índice Xetra Dax, da Bolsa de Frankfurt deslizou 7,16%. Como era feriado nos Estados Unidos, as bolsas americanas só reagiram ao pessimismo europeu na terça-feira. Nesse dia, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fez uma reunião extraordinária, na qual cortou a taxa básica de juros de 4,25% para 3,50% ao ano. Alguns analistas levantaram a hipótese de que o Fed, evidentemente sem saber, teria reduzido o juro de forma emergencial por causa das operações do Société Générale nos mercados futuros de bolsa de valores. O banco francês informou que Kerviel apostou mais de 50 bilhões, montante que supera o próprio valor da instituição. Autoridades francesas e analistas cobraram o Société Générale por não ter se dado conta dos negócios de Kerviel. "Perde-se um pouco a noção das quantidades quando se está imerso nesse tipo de trabalho", disse ontem Kerviel. "A pessoa acaba se deixando levar um pouco." Na segunda-feira, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, divulgou um relatório que conclui que os controles internos do Société Générale não funcionaram como deviam. Com uma voz tímida e suave, o operador confessou que ainda não se havia dado conta realmente das repercussões do escândalo, que acompanha "pelos jornais e pela internet". Kerviel também disse que operava em favor do banco. "Nunca tive ambição pessoal nesse assunto", afirmou. "O objetivo era fazer o banco ganhar dinheiro." O operador está sob proteção policial desde que deixou a prisão, em 28 de janeiro. No dia 26, ele apresentou-se espontaneamente e prestou vários depoimentos. Kerviel disse também que limitou os contatos com a família para "protegê-la" da mídia. "Não sou um suicida nem um depressivo", afirmou o operador, que considera que a atenção da imprensa ao tema e as notícias publicadas "opressivas". "Há muita desinformação na imprensa", observou. "Há muitas coisas ainda para dizer." Na segunda-feira, Kerviel foi interrogado pela primeira vez pelo juiz Renaud van Ruymbeke. "Tudo foi bem", afirmou. "Disse exatamente o que tinha de dizer." Na sexta-feira, ele tem outra audiência na Justiça. "Estarei presente. Confio plenamente em minha defesa." FRASES Jérôme Kerviel Ex-operador do Société Générale "Não sou um suicida ou um depressivo" "Perde-se um pouco a noção de quantidades quando se está imenso nesse tipo de trabalho" "Nunca tive ambição pessoal. Meu objetivo era fazer o banco ganhar dinheiro" "Assumo minha parte da responsabilidade"

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