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Governadores permitem que Duhalde continue no cargo

Por Agencia Estado
Atualização:

A cara amarrada que havia sido a marca registrada do presidente Eduardo Duhalde nos últimos meses, alegrou-se nesta segunda-feira, depois que obteve o respaldo dos governadores de seu partido, o Justicialista (Peronista), para permanecer no cargo até o fim de seu mandato, em dezembro de 2003. No entanto, Duhalde ficará na cadeira presidencial somente enquanto a situação política e social não se agravar mais ainda. Extra-oficialmente afirma-se que caso isso ocorra, ficaria aberta a possibilidade de antecipar as eleições presidenciais, atualmente previstas para setembro do ano que vem. Por enquanto, Duhalde terá uma sobrevida para realizar o ?trabalho sujo?, neste caso, o impopular acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o drástico ajuste fiscal que isso implicaria. Além disso, terá que encontrar uma saída para o ?corralito?, como é conhecido o semi-congelamento de depósitos bancários. O ?corralito? é a fonte da maior parte dos protestos populares que tumultuam as ruas das principais cidades do país diariamente. Os governadores concordaram em permitir a permanência Duhalde, mas em troca que ele pague os custos políticos do programa econômico. Oficialmente, o tom do governo foi de que as eleições antecipadas não foram discutidas nesta reunião de cúpula. ?Convocar eleições seria passar da atual situação de anarquia para ir ao caos?, sustentou Duhalde. No entanto, o próprio presidente disse que não descartava antecipar as eleições presidenciais caso a economia ?entre em águas tranqüilas?. O presidente preferiu não comentar as ameaças de renúncia feitas por ele na semana passada: ?não quero falar sobre isso. Hoje estou contente?. Duhalde também afirmou que sentia-se ?fortalecido? pelo apoio recebido: ?este é um dia histórico. Os governadores peronistas decidiram continuar lutando, e eu vou comandar esta luta?. A permanência de Duhalde foi definida durante a reunião de cúpula que Duhalde teve com os catorze governadores peronistas na pacata cidade de Santa Rosa, capital da província de La Pampa. Os governadores são os verdadeiros donos do poder no país, já que na falta de lideranças partidárias nacionais, eles controlam com mão de ferro o interior da Argentina, além de determinar o comportamento de seus parlamentares no Congresso Nacional. ?O prazo se esgota nesta semana. O tempo está acabando?, alertou Duhalde com um tom enérgico poucas vezes utilizado desde que tomou posse em janeiro. O alerta, feito durante um discurso no Teatro Espanhol de Santa Rosa, ocorreu com a presença de quase todos os governadores peronistas, como sinal de respaldo. Dos catorze peronistas, somente os governadores da província de San Luis e de Santa Cruz não declararam do apoio. O governador da província de La Pampa, Rubén Marín, anfitrião da cúpula peronista, havia tornado público o apoio ao presidente: ?todos os governadores estamos convencidos da necessidade de acompanhar e ajudá-lo?, como forma de ?sustentar osistema institucional?. Marín disse que era preciso estabelecer ?uma trégua na luta de interesses setoriais? e afirmou que o país ?está perto da dissolução social?. Duhalde disse que esta semana será a última para aprovar as medidas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Os governadores, em um comunicado, afirmaram que concedem ?pleno apoio ao presidente? e que ?fortalecerão? o pacto fiscal assinado com o governo mais de um mês atrás, mas nunca cumprido. Os governadores prometeram assinar os acordos individuais de ajuste fiscal até o fim desta semana. Os ajustes serão de 60% para todas as províncias. No entanto, a província de Buenos Aires ? que sozinha é responsável por metade do déficit fiscal total das províncias ? seria beneficiada com um ajuste de somente 50%. A misericórdia com Buenos Aires foi causada pela brusca queda na arrecadação tributária que ela teve, somada ao grave panorama social que poderia ser agravado com o ajuste. Segundo Duhalde, é necessário pressa nas medidas: ?a crise avança a 100 quilômetros por hora, enquanto que as soluções vêm muito lentas. O país já não está em recessão, mas sim em uma profunda depressão, que até pouco tempo somente conhecíamos dos ensaios acadêmicos?. Duhalde aproveitou a oportunidade para criticar a União Cívica Radical (UCR), o maior partido da oposição, que desde janeiro estava apoindo o governo peronista de forma circunstancial. Nas últimas duas semanas, no entanto, a UCR começou a distanciar-se rapidamente de Duhalde. O golpe que abalou profundamente esta aliança ocorreu dias atrás, quando a UCR votou contra o projeto do governo de eliminar a lei de subversão econômica. ?Agora eles nos querem deixar sozinhos?, reclamou Duhalde. ?Ficaremos sozinhos mas lutaremos para sair da crise?, arrematou. O tom de distanciamento entre o peronismo e a UCR foi também dado pelo senador peronista Oscar Lamberto, que disse que ?pelos resultados observados, não sabemos muito bem para que serve esta aliança política. Os parlamentares da UCR nunca nos ajudam?. Do lado de fora do Teatro Espanhol, uma multidão protestava contra Duhalde e os governadores, pedindo a renúncia de todos. Exigência Nesta terça-feira, o Senado debateria e votaria a eliminação da lei de subversão econômica, uma das exigências que o FMI estipula como condição para a liberação da ajuda financeira para a Argentina. Na reunião de ontem (segunda-feira) os governadores concordaram que ?não se pode demorar mais? na adoção das medidas exigidas pelo Fundo e que desta forma, era necessário avançar na votação do Senado. Os governadores prometeram que pressionariam seus parlamentares para que aprovem a eliminação da lei de subversão econômica. Leia o especial

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