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Governo argentino ameaça usar força contra grevistas

Por HILARY BURKE
Atualização:

O governo da Argentina afirmou na quarta-feira que usaria a força para desbloquear estradas a fim de garantir que os produtos cheguem aos mercados do país. A declaração surgiu no momento em que ganhava força uma greve contra novos impostos iniciada duas semanas atrás por produtores agropecuários, os responsáveis pelos bloqueios. Milhares de pessoas, em vários pontos do território argentino, realizaram na terça-feira manifestações contra o governo e em apoio ao crucial setor agropecuário do país, enquanto a paralisação diminuía a oferta de carne e laticínios nos supermercados. "Se eles não saírem das estradas, vamos entrar em ação", disse o ministro argentino da Justiça, Aníbal Fernández, a um canal de TV do país, referindo-se aos bloqueios montados em várias das rodovias do coração agropecuário da Argentina. Vários fornecedores de soja e de óleo de soja do país declararam força maior para descumprir contratos com a China, após terem adotado uma medida semelhante em relação aos carregamentos de farelo de soja a serem mandados para a Europa, disseram empresários e representantes do setor. Apesar de a greve abrir espaço para os produtos de soja vindos dos Estados Unidos e do Brasil, esses comerciantes não conseguirão repor a produção da Argentina, que é um dos maiores fornecedores mundiais de soja, milho, trigo e carne de vaca. Líderes do setor agropecuário prometeram continuar com a paralisação enquanto for necessário, exigindo que o governo volte atrás em sua decisão de aumentar os tributos cobrados sobre a exportação de soja e de produtos derivados do girassol. O aumento dos impostos representa a medida mais recente a desagradar os produtores agropecuários em uma longa confrontação desse setor com o governo, de centro-esquerda, que vem usando as limitações à exportação e o controle de preços para ajudar a conter a inflação e aumentar a arrecadação do Estado. "Não temos medo. Vamos ficar aqui por um período de tempo indeterminado", afirmou Alfredo de Angelis, líder local do grupo agropecuário FAA, em um bloqueio de estrada montado na Província de Entre Ríos. A presidente da Argentina, Cristina Fernández, criticou a greve na terça-feira, dizendo que o imposto sobre a importação visava redistribuir renda em um país onde quase um quarto da população é pobre. A dirigente prometeu não ceder a nenhum tipo de "extorsão". Batendo panelas, manifestantes foram às ruas de Buenos Aires a fim de dar apoio aos produtores agropecuários, entrando em choque, na noite de terça-feira, com ativistas de esquerda pró-governo, diante do palácio presidencial. Alguns membros do setor agropecuário jogaram leite em estradas a fim de mostrar sua repulsa às políticas do governo, enquanto outros queimaram colheitadeiras velhas. O ministro da Economia do país, Martín Lousteau, afirmou a um canal de TV argentino: "O governo adotará as medidas necessárias para garantir que não haja falta de produtos. Temos de garantir que a população receba os alimentos de que precisa." "A discussão mais ampla trata da distribuição dos lucros. E, neste contexto particular, (trata) de como os grandes lucros são distribuídos. Todos os países do mundo estão enfrentando essa questão", acrescentou. (Reportagem adicional de Lucas Bergman e Maximilian Heath)

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