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Governo brasileiro precisa centrar esforços em implementar ajuste, diz FMI

Diretor da instituição ressalta que a economia brasileira deve atingir o fundo do poço este ano, para voltar a crescer em 2017

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e correspondente
Atualização:

NOVA YORK - O governo brasileiro precisa centrar esforços em superar os desafios de implementação das medidas de ajuste fiscal, avalia o diretor para o departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, nesta quarta-feira em um relatório sobre a América Latina.

O governo do presidente em exercício Michel Temer, ressalta Werner, traçou um plano de ajuste para melhorar as contas públicas e reduzir as pressões de gastos insustentáveis no médio prazo. "Os mercados têm visto com muito bons olhos a estratégia de consolidação", afirma o diretor do FMI. O Fundo nota que os índices de confiança de empresários, consumidores e investidores começaram a dar sinais de melhora e devem ajudar na recuperação do país.

Para o economista, o elevado desemprego pode impedir um aumento maior da demanda doméstica Foto: Andres Stapff|Reuters

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Werner ressalta que a economia brasileira deve atingir o fundo do poço este ano, para voltar a crescer em 2017. A previsão do FMI é que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil vai encolher 3,3% este ano e crescer 0,5% no ano que vem. "O PIB seguiu se contraindo no primeiro trimestre, mas menos do que o previsto, o que permite pensar que a contração esperada para 2016 será menos drástica do que imaginado."

O economista chama atenção para o fato de que o elevado desemprego no Brasil pode ser um fator a impedir um aumento maior da demanda doméstica. A taxa de desemprego chegou em 11,2% em junho, com 11,4 milhões de pessoas sem emprego.

Por causa da recessão este ano no Brasil, a América do Sul será a região da América Latina com pior desempenho, encolhendo 1,9%. Excluindo os países com crescimento negativo na região, a expansão ficaria em 2,5%. A América Central deve avançar 4,1% e o Caribe, 3,4%.

América Latina. Werner também afirmou no relatório que a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, terá impacto direto reduzido na América Latina, pois as exportações da região para os britânicos são baixas, ao redor de 1% do total das vendas externas. Ainda assim, o Brexit pode ter consequências negativas na medida em que influencia o crescimento de vários países, ressalta Werner. Ontem, o FMI rebaixou novamente a previsão de expansão da economia mundial em 2016 e 2017 por causa do Brexit.

Um menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial pode contaminar os países da América Latina pelo canal comercial e financeiro, ressalta o diretor do FMI. Ao mesmo tempo, a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode demorar mais tempo e ser mais gradual para subir os juros é positiva para a região, pois diminui as chances de alta dos custos de captação para empresas e governos.

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Werner ressalta que os preços das commodities têm se recuperado desde fevereiro, o que é positivo para a América Latina, mas as cotações devem permanecer em patamar baixo "pelo futuro previsível".

Outro risco para a região são as turbulências no mercado financeiro mundial. "Os frequentes episódios de aumento da volatilidade, embora breves, são uma constante lembrança de que as condições favoráveis do mercado podem mudar da noite para o dia." A volatilidade também pode exacerbar vulnerabilidades nas empresas, muitas com dívida alta, ressalta o diretor do FMI.

A América Latina teve as projeções de PIB melhoradas pelo FMI. Em 2016, a contração deve ficar em 0,41%, ante queda de 0,5% prevista no relatório de abril do Fundo. Em 2017, a região deve voltar a crescer, expandindo 1,61%, ante alta de 1,5% do documento anterior.

A Venezuela deve ficar com o pior desempenho este, com contração de 10%. A Argentina deve encolher 1,5%, por conta do impacto acima do previsto das medidas de ajuste econômico do novo governo. Já entre os destaques de crescimento estão Peru (+3,7%), Colômbia (+2,5%) e México (+2,5%).

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