Publicidade

Governo deve ceder e garantir cobrança de contribuição sindical

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo deverá ceder às pressões de sindicalistas e suspender, pelo menos temporariamente, a portaria 160 do Ministério do Trabalho, publicada na semana passada, que delimita a cobrança de contribuições confederativas e assistenciais a apenas trabalhadores sindicalizados. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, agendou reunião para as 15h de quinta-feira, no Ministério, em Brasília, com lideranças sindicais para tratar o tema. Com a ressalva de serem parte interessada na suspensão da portaria, alegando risco de quebra financeira de suas entidades, sindicalistas garantem que o ministro Berzoini já sinalizou a possibilidade de suspender a medida em conversas reservadas por telefone. "Ou o governo a suspende, ou vira inimigo número um de todos os sindicatos do País", ameaça o presidente da Força Sindical, a segunda maior central do País, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. A reação generalizada entre sindicalistas justifica-se, do ponto de vista dos sindicatos, pelo fato de até 85% das receitas das organizações, de acordo com cálculo do Ministério do Trabalho, serem provenientes das contribuições confederativas e assistenciais de todos os trabalhadores, sindicalizados ou não. Argumentos Além do argumento financeiro, as lideranças sindicais acusam o Ministério de "atropelar" as discussões em torno da reforma sindical feitas no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho (FNT), entidade que congrega representantes dos empresários, dos trabalhadores e mediada pelo governo. Entre outros temas, o FNT já havia decido que a sustentação financeira de sindicatos, federações, confederações e centrais viria de contribuições sobre negociações salariais das categorias, inclusive com a extinção do atual imposto sindical compulsório, após um período de transição. "O Fórum decidiu a sustentação financeira dos sindicatos e encaminhou seu parecer ao governo para, em seguida, ser enviado ao Congresso. Ao publicar a portaria, o governo desprestigiou os membros do Fórum", analisa o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do País, Luiz Marinho. Interpretação dos sindicalistas Mesmo negando oficialmente, o meio sindical interpretou a iniciativa do Ministério do Trabalho como uma demonstração de que levará adiante a reforma, pela via negociada no FNT, ou pelo caminho que é considerado autoritário, com a edição de portarias e resoluções. A decisão do governo de "engrossar" as negociações partiu de uma percepção de que vários líderes sindicais, contrariados com os rumos da reforma, têm dificultado as negociações sobre a nova legislação regulamentadora das entidades, evitando chegar a um meio-termo dos poucos pontos que ainda persistem a discordância. Paulinho e Marinho reconhecem o caráter temporário da nova medida, uma vez que a legislação acertada no FNT deve prevalecer após aprovação no Congresso Nacional e sanção do presidente da República. "Se a lei foi assim durante 60 anos, por que não esperar por mais seis meses, ou um ano, e já realizar a mudança com base na nova lei?", indaga Paulinho. Dificuldade de tramitação O mal-estar provocado pela medida pode atrapalhar a tramitação da reforma sindical, admitem os presidentes das duas centrais. Publicamente, a Força Sindical diz ter suspendido sua participação no FNT, pelo menos em caráter temporário, enquanto o governo não rever a medida. A manifestação foi apresentada ontem ao secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas, principal articulador do governo no FNT, em encontro mantido ontem na central.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.