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Governo diz que não tem pressa...

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Por Redação
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A crise financeira se estabiliza, a econômica se agrava mundo afora, e o governo brasileiro parece não ter pressa. A recessão não chega aqui, não. Após ter injetado em tempo liquidez no sistema financeiro, acha que pode esperar até o próximo trimestre de 2009 para estimular a economia. É o que está nos seus atos e na entrevista do secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa. Leiam: "Estamos em fase de analisar medidas de médio prazo e os passos para viabilizar a manutenção do atual ciclo de crescimento em 2009 e evitar uma grande desaceleração. As medidas devem ser adotadas no primeiro semestre de 2009." Tudo indica que o governo está animado pela resistência do mercado de trabalho em outubro, o segundo menor nível de desemprego, com o tímido retorno do crédito e o crescimento do comércio. Recusa-se a ver o que se desenrola dia a dia lá fora, onde todos, economistas, ministros, presidentes de bancos centrais, se surpreendem e se chocam com a rapidez com que a economia foi virulentamente contaminada pela crise financeira. Tudo aconteceu em apenas algumas semanas. A própria equipe do governo vem reduzindo a cada semana a previsão de crescimento para 2009, que já cai para 3% e pode ser menos. Mas parece que não temos pressa.Vamos cuidar disso depois das festas de fim de ano. O CAMINHO DO FMI Os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluíram estudos mostrando que o caminho mais rápido e eficiente para enfrentar a recessão é estimular, financiar e apoiar a demanda e os investimentos produtivos. Essa é também a tese do Nobel de Economia, Paul Krugman. Eles avaliam que serão necessários, a partir de agora, com urgência, injeções da ordem de US$ 1,2 trilhão, não mais para socorrer o sistema financeiro, mas para aumentar a demanda. E isso ainda não foi feito. Henry Paulson hesita, diz que vai deixar para o próximo presidente, que só assume em 20 de janeiro. A Europa patina, prometendo muito, US$ 300 bilhões, mas limitando até agora menos de US$ 100 bilhões. Fizemos uma coluna com o título Uma nova onda de consumo no mundo. Não vale mais. Baseava-se em promessas que não foram cumpridas, o que explica o avanço da recessão nas principais economias mundiais. Só a China começou a aplicar mais de US$ 500 bilhões na demanda interna. O comunismo capitalista está mais avançado que o financeiro. E QUANTO PRECISAMOS AQUI? Ninguém sabe. Ainda não avaliaram. Estamos ainda bem, olhem aí as lojas se preparando para um Natal que vai repetir o glorioso de 2007, quando as compras avançaram nos meses fracos de janeiro e fevereiro. Afinal temos o PAC. Só agora, pretendem abrir concorrência para novas estradas! Por que demoraram tanto se a anterior federal e a recente de São Paulo foram um sucesso estrondoso? Estavam esperando o quê? E outras obras, além do PAC, por que ainda não foram abertas à iniciativa privada? Quais? Vocês têm dúvida aí em Brasília? Perguntem a Abdib que tem uma lista completa de obras prontas para serem iniciadas amanhã. E as usinas hidrelétricas que se arrastam ou com obras paralisadas? E os novos portos? E as novas ferrovias? E as obras urbanas? Tudo está por ser feito. Economistas amigos alertam a coluna que a prioridade não é consumir, mas investir. Todo mundo quer consumir mais, com crise ou não, mas não pode se não tiver aumento de renda. Argumento que cabe ao Estado agir, como o fez ao socorrer o mercado financeiro. Deve estimular os investimentos privados, por exemplo, reduzindo impostos e ele mesmo investir. Usar dinheiro público para estimular consumo e mesmo para investir seria um erro. Colocaria em choque austeridade fiscal, o superávit, do qual depende um novo patamar de juro futuro, afirma Yoshiaki Nakano, economista que tanto respeito. Ele assinala que há espaço para usar redução de juros e o depósito compulsório dos bancos para estimular a economia. Mas seria suficiente? Já se provou que não. Os aumentos dos juros não conseguiram conter o consumo interno que, quando aquecido, levou a inflação para 6,5%. E apesar da liquidez do sistema, o crédito ainda não voltou aos níveis normais. RECEITA CAI É possível fazer muito sem reduzir o superávit fiscal. Basta conter gastos, redirecionar recursos, contar com o excedente de arrecadação. Aqui um risco bem grave do qual ninguém fala: se a economia despencar para 3% ou menos, haverá forte queda de arrecadação e, aí sim, lá se vai o superávit que pode até virar déficit. Ou seja, é preciso crescer para para salvar a economia e o superávit fiscal. E nesta crise, a economia só crescerá se tiver o apoio do governo que, por seu lado, se salvará com ela. Os que são contra o incentivo do governo em investimento e demanda, não entenderam que essa é uma ação de emergência, absolutamente urgente e necessária. É a tese de Krugman e dos economistas do Banco Mundial e do FMI diante da velocidade com que a economia mundial vem sendo contaminada. E nós? Ora, não há pressa em Brasília. Eles estão avaliando, avaliando enquanto o furacão se aproxima. Quem sabe ele desvia para a Argentina?.... *E-mail: at@attglobal.net

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