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Governo dos EUA dá ajuda de US$ 17,4 bi às montadoras

Pacote beneficia a Chrysler e a GM, as mais ameaçadas no momento, e deixa a Ford de fora

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Por Fernando Dantas
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E a ajuda às montadoras americanas finalmente saiu. Ontem, depois de sofridas semanas de espera, a Casa Branca decidiu-se finalmente a jogar a bóia para a General Motors e a Chrysler. O pacote de US$ 17,4 bilhões prevê empréstimos de US$ 13,4 bilhões a serem concedidos para as duas montadoras em dezembro e janeiro, com mais US$ 4 bilhões programados para fevereiro. A Ford, a terceira grande empresa americana do setor, informou que não precisa de ajuda emergencial. Geografia da crise: as medidas pelo mundo Segundo os analistas, a estratégia parece ser a de apenas garantir que as empresas sobrevivam sem necessidade de pedir concordata até 21 de janeiro, quando, já empossado, o novo presidente Barack Obama terá de assumir o processo de resgatar o setor. "No meio de uma crise financeira, permitir que a indústria automobilística entre em colapso não seria um curso de ação responsável", disse o presidente George W. Bush, ao anunciar o socorro. "Um colapso como esse poderia jogar a nossa combalida economia numa recessão mais prolongada e profunda, e faria com que o próximo presidente tivesse de enfrentar a derrocada de uma das principais indústrias americanas nos seus primeiros dias de governo", acrescentou. A Casa Branca indicou que a perda direta e indireta de postos de trabalho com a falência das grandes empresas automobilísticas de Detroit poderia superar 1 milhão, e que o PIB poderia ser reduzido em mais de 1%. Bush ressalvou que, "em circunstâncias normais, eu diria que este é o preço que companhias fracassadas têm de pagar; mas estas não são circunstâncias normais". Os recursos virão do pacote de ajuda ao setor financeiro aprovado pelo Congresso em outubro, o chamado Programa de Alívio para Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês). Os US$ 13,4 bilhões vão esgotar a primeira tranche de US$ 350 bilhões do Tarp, e obrigar o Executivo americano a demandar que o Congresso aprove a segunda tranche, no mesmo valor, do programa. A segunda parcela, de US$ 4 bilhões, prevista para fevereiro, vai depender dessa aprovação. Seguindo os passos do pacote de ajuda derrubado pelo Senado há uma semana, a ajuda de emergência vem com uma série de condições, que obrigarão a GM e a Chrysler a se viabilizarem financeiramente até 31 de março, sob pena de terem de reembolsar imediatamente os créditos. Isso, evidentemente, deve obrigar as empresas a fecharem acordos com trabalhadores, fornecedores, credores e revendedores, para aumentar seu fôlego financeiro. OPORTUNIDADE Essa tarefa pode não ser fácil. Ron Gettelfinger, presidente do poderoso sindicato de trabalhadores da indústria automobilística de Detroit, o United Auto Workers, já reclamou das "condições injustas" que recaem, na visão dele, apenas sobre os trabalhadores. Já o presidente e chairman da GM, Rick Wagoner, declarou que "o foco agora é implementar o programa de reestruturação que acertamos com o Congresso no início do mês". Para alguns observadores, as condições impostas pela Casa Branca são menos severas do que a do pacote que naufragou no Congresso, já que a exigência básica é a de que as empresas apresentem patrimônio líquido positivo no início de março, trazendo a valor presente suas obrigações futuras. Embora haja certeza de que Obama vai manter e talvez intensificar a ação em favor da indústria automobilística, o presidente eleito deixou claro que também não gosta da idéia de passar um cheque em branco para setores ineficientes. "A paciência do povo americano está se esgotando", disse Obama, acrescentando que as montadoras deveriam "agarrar essa oportunidade" para garantir um futuro de sustentabilidade. Ele disse ainda não querer que apenas os trabalhadores façam concessões.

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