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Governo Duhalde e bancos entram em rota de colisão

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de ter passado uma quinta-feira em confronto com o Congresso Nacional, hoje o governo do presidente Eduardo Duhalde dedicou-se a entrar em uma perigosa rota de colisão com o sistema financeiro. Duhalde criticou os bancos de não colaborarem em uma solução para o "corralito" (semicongelamento de depósitos bancários). No meio deste embate, surgiram rumores de que diversos bancos estavam com problemas de liquidez e que poderiam fechar. No setor financeiro acusava-se o Congresso Nacional como a fonte dos boatos. Outro rumor indicava a iminência de um feriado bancário, possivelmente para a segunda-feira. O ministério da Economia, no entanto, negou o feriado. Os boatos sobre uma eventual crise terminal nos bancos argentinos levaram milhares de pessoas aos caixas eletrônicos, para preparar-se para o fim de semana e uma eventual suspensão das atividades bancárias. De quebra, as centrais sindicais dispararam ácidas críticas contra o presidente Duhalde e pediram a realização de eleições antecipadas. No meio deste tiroteio, Duhalde decidiu escolher como alvo o Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmando que as recentes críticas do organismo financeiro sobre a Argentina haviam sido "inoportunas" e "incômodas". Simultaneamente, o porta-voz de Duhalde, Eduardo Amadeo, sustentou que "daqui a 30 dias" a Argentina assinará o acordo com o Fundo. No início da noite, comentava-se extra-oficialmente nos corredores do Banco Central que seu presidente, Mario Blejer, estaria a ponto de renunciar. Blejer, homem do FMI até meados do ano passado, não estaria suportando as idas e vindas caóticas do governo Duhalde. Há três semanas o governo e os bancos tentam definir - sem sucesso - como terminar com o maior gerador de protestos populares dos últimos cinco meses. O "corralito" atinge a imagem do governo e dos políticos, que não podem mais caminhar pelas ruas com o risco de serem agredidos pela população. Mas o "corralito" também atinge os bancos, que tiveram que blindar suas sucursais com tapumes metálicos para impedir a destruição por parte de correntistas furiosos. O governo pretende trocar os prazos fixos retidos no "corralito" por uma série de bônus em dólares e pesos, com prazos de cinco a dez anos. O problema com o sistema financeiro é que o governo quer que os bancos respaldem os bônus com seus ativos, algo que eles repudiam. O ministério da Economia afirma que o acordo entre o governo e os governadores "está próximo". No entanto, do lado dos bancos o acordo ainda é algo "longínquo". Ontem à tarde, uma reunião entre banqueiros e o ministro da Economia, Roberto Lavagna, terminou aos gritos e insultos. Para complicar as relações com os bancos, o Banco Central decidiu tornar mais rigorosas as regras para socorrer o sistema financeiro quando este está com problemas de liquidez. Desde o início do ano, em redescontos, o BC repassou 17 bilhões de pesos aos bancos. Os bancos estão no momento mais difícil de sua história na Argentina. Enquanto que no ano passado os bancos possuíam US$ 90 bilhões em depósitos, atualmente o valor não ultrapassa US$ 20 bilhões. Extraoficialmente, no Banco Central, afirma-se que estão "sobrando" no sistema financeiro argentino quatro de cada dez bancos. Com este pano de fundo, surgiram comentários sobre a partida de diversas instituições financeiras. Estes rumores cresceram à medida que as colisões entre o governo e os bancos aumentavam. Do outro lado do Rio da Prata, o Uruguai, era indicado como o destino de muitos bancos que pretendiam auto-exilar-se. A pista sobre esta mudança da margem direita para a margem esquerda foi fornecida pelo semanário uruguaio "Búsqueda", que sustentou que alguns bancos estariam decidindo instalar-se na Zona Franca de Montevidéu. A vantagem de instalar-se na capital uruguaia é a proximidade com Buenos Aires, além da mão de obra mais barata. O presidente Duhalde, que na véspera havia causado surpresa ao anunciar que analisava a convocação de um plebiscito para que os argentinos decidissem entre parlamentarismo e presidencialismo, voltou a fazer declarações, desta vez, para lamentar-se. Segundo ele, com a implementação de "medidas difíceis", sente-se cada vez "mais sozinho". Os lamento de Duhalde dirigiam-se a uma grande parte dos parlamentares de seu partido, o Justicialista (Peronista), que votaram contra a revogação da lei de subversão econômica, uma das várias exigências do FMI para a concessão de ajuda financeira para a Argentina. A lei será debatida na semana que vem na Câmara de Deputados, mas tudo indica que dificilmente seria aprovada. N madrugada de hoje, a Câmara de Deputados aprovou a lei de falência das empresas, outra exigência do Fundo. Nos próximos dias iria ao plenário do Senado, mas especula-se que tampouco sairia dali ilesa. Se as duas medidas não forem aprovadas, o FMI não liberará a ajuda. Enquanto enfrentava problemas com os bancos e os parlamentares o governo também apressava as províncias para a assinatura dos acordos individuais de ajuste de 60% de seus déficits fiscais. Esta é outra exigência do FMI. Hoje à noite, a província de Córdoba preparava-se para assinar o acordo. Até agora, somente cinco províncias assinaram. No entanto, se Duhalde não puder contar com a rubrica da província de Buenos Aires, o acordo não terá a importância necessária, já que o déficit bonaerense equivale a 49% do total. A província teria dificuldades em implementar o ajuste, já que sua arrecadação tributária está despencando. Segundo Dante Sica, diretor do Centro de Estudos Bonaerenses (CEB), o FMI teria que "flexibilizar" as metas impostas às províncias.

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