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Governo Duhalde enfrenta nova crise social

Manifestantes protestaram na praça de Mayo contra repressão policial e a política econômica

Por Agencia Estado
Atualização:

Um variado leque da sociedade argentina protestou esta noite contra a repressão policial, que na véspera havia causado a morte de dois desempregados que manifestavam pacificamente, em oposição à política econômica do governo do presidente Eduardo Duhalde. Na histórica Praça de Mayo, na frente da Casa Rosada, a sede do governo, a manifestação já aglomerava mais de 7 mil pessoas. Acotovelavam-se desempregados, aposentados, ?caceroleros? (pessoas que fazem panelaços), correntistas furiosos com o ?corralito? (semi-congelamento de depósitos bancários), militantes de partidos de esquerda e sindicalistas. Os manifestantes pediam ?que se vayan todos? (que todos vão embora), a modo de exigência de uma renúncia geral do governo e do Congresso Nacional. As mortes dos dois desempregados ? um de 21 anos e outro de 25 - na quarta-feira foram as primeiras baixas de manifestantes ocorridas durante o atual governo. Esse fato ressuscitou o fantasma da queda do ex?presidente Fernando De la Rúa, que teve que renunciar em dezembro do ano passado, após uma violenta repressão policial que causou o falecimento de cinco pessoas em pleno centro portenho. Os dois mortos eram ?piqueteiros?, denominação dos desempregados que bloqueiam estradas pedindo comida e trabalho. Nos primeiros seis meses deste ano, o governo Duhalde já enfrentou 945 piquetes nas estradas argentinas, o equivalente a 433% a mais do que no mesmo período do ano passado. O pano de fundo para estes protestos é a ruína acelerada do país, onde 51% da população está abaixo do nível da pobreza. Além disso, calcula-se que 24% dos argentinos economicamente ativos estão desempregados. Para demonstrar que estava pronta para qualquer eventualidade, a Polícia Federal preparou hoje um esquema de segurança ainda inédito neste governo. Ao redor da Praça de Mayo e do Congresso Nacional, foram colocados mais de 2 mil policiais, armados com cassetetes, caminhões lança-jatos de água. Além disso, também havia policiais no alto dos edifícios ao redor da Praça. No meio da tarde, 30 pessoas foram detidas pela polícia, quando marchavam do bairro de Liniers em direção ao centro. Segundo a polícia, os manifestantes carregavam coquetéis molotov, paus, pedras e estilingues. O líder do Movimento Independente de Aposentados, Raúl Castells, acrescentou mais tensão à jornada, ao convocar um ?levante popular?. Houve protestos de piqueteiros nas províncias de Santa Fé, Mendoza, Salta, Jujuy, Tucumán, Neuquén, Catamarca, Chaco e La Pampa. O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, o cardeal Raúl Primatesta, anunciou que solidarizava-se com os piqueteiros e declarou que ?se não há trabalho, é lógico que as pessoas procurem comida. Mas se esta é negada, a única saída é o caos social?. Em uma tentativa de preparar os ânimos para eventuais dias piores nas próximas semanas, o governo Duhalde tentou mostrar-se como vítima de uma ?conspiração? sobre a qual não deu detalhes. Enquanto os manifestantes deixavam a praça do Congresso, avançando em direção à Casa Rosada, o ministro do Interior, Jorge Matzkin, afirmava que o governo ?suspeita que existe um plano de criar mais violência, que pode chegar a ameaçar e subsituí-lo?. Matzkin declarou que o governo ?apela mais uma vez à reflexão, à serenidade, e à atitude responsável da cidadania?. E completou, em tom de ameaça: ?...para evitar fatos que posteriormente podemos lamentar?. Nos corredores da Casa Rosada, especulava-se que existiria um plano para derrubar o governo, o que ocorreria depois de duas semanas de violência por todo o país, e que teria como ponto culminante a ocupação da Praça de Mayo pelos manifestantes. O secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, afirmou que existem grupos de piqueteiros que estão ?pregando a luta armada?. O Congresso Nacional recebeu ontem 20 ligações telefônicas com ameaças de bomba. O analista político Rosendo Fraga não descarta a convocação antecipada das eleições presidenciais, originalmente previstas para setembro do ano que vem. ?Acredito que os episódios de violência vão acelerar o processo político?. Esta sensação aumentou ao longo do dia, quando ficava cada vez mais claro que o ministro da Economia, Roberto Lavagna, que está em Washington negociando com o FMI, poderia voltar a Buenos Aires com as mãos vazias. Amanhã, a Argentina terá um dia decisivo, já que a diretoria do FMI discutirá o ?problema argentino?. Em Buenos Aires, o ministério da Economia tentou mostrar otimismo, afirmando que ?existem grandes avanços? nas negociações. Leia o especial

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