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Governo Duhalde tenta sobreviver à escalada do dólar

Por Agencia Estado
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Depois da volta de Monterrey, a equipe econômica argentina reuniu-se em um lugar secreto para analisar que medidas tomará para evitar que depois de amanhã seja uma segunda-feira sombria. Entre as várias definições que teriam sido tomadas e que foram divulgadas extra-oficialmente, estava a determinação de que o Banco Central não interviria para deter o dólar. No entanto, o governo argentino tomaria medidas para deter os processos judiciários contra o "corralito", como é conhecido o semicongelamento de depósitos bancários. No último mês, os processos contra o "corralito" permitiram a saída de US$ 60 milhões diários dos depósitos congelados. Este dinheiro é levado imediatamente às casas de câmbio para a compra de dólares. O presidente Duhalde reuniu-se com parlamentares de seu partido, o Justicialista (Peronista) para pedir-lhes que apoiem o governo e que não insistam com projetos que dispersam o trabalho do Poder Executivo. Duhalde também pediu que os parlamentares eliminem a "lei de subversão econômica" que nas últimas semanas foi utilizada para processar mais de uma dúzia de banqueiros. O presidente, além de pedir consenso, reafirmou a necessidade urgente de realizar drásticos ajustes fiscais nas províncias. Ontem Duhalde fez sua última tentativa de obter uma resposta concreta do presidente do FMI, Horst Köhler, sobre a ajuda financeira que a Argentina precisa desesperadamente. Enquanto Duhalde suava para obter um "sim" que nunca ocorreu, o dólar disparava na Argentina, e terminava a semana em 3,10 pesos. Apesar da cotação, houve filas de até dois quarteirões para obter as tão desejadas cédulas com a efígie de Benjamin Franklin. Köhler somente prometeu o envio de uma missão negociadora a meados de abril, uma data que parece estar separada por uma eternidade, especialmente para o governo Duhalde, que comemora como uma vitória cada dia sobrevivido. A missão ficaria 15 dias, e no dia 20 de abril, em uma reunião do FMI e do Banco Mundial, será decidido o destino da Argentina. Por este motivo, comentários que circularam hoje em Buenos Aires eram pouco humorados: "O fim está próximo" e "O governo foi derrotado pelo dólar". Diversos analistas sustentam que se o Banco Central não intervier e se não houver feriado bancário e cambial, na próxima semana a moeda norte-americana continuaria sua escalada, passando da cotação de 4 pesos. Isto agravaria a tendência de alta dos produtos da cesta básica, complicando mais ainda o cenário social para Duhalde. Desde o início de março, a cesta básica teve um aumento de 8,4%. Desde dezembro, o aumento foi de 53%. Em algumas províncias, como Jujuy, chegou até 104%. Duhalde chegou à Buenos Aires às 9h25, desceu apressadamente as escadarias do avião presidencial, evitou a imprensa, e entrou no helicóptero que o levou à residência oficial de Olivos. Todos os integrantes do gabinete presidencial esquivaram os jornalistas, com exceção do secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, que avaliou as conversas entre Duhalde e o diretor do FMI, Horst Köhler, como "muito boas, francas". Fernández sustentou que nos próximos dias será necessário fazer "correções" ao plano econômico, para conseguir um acordo financeiro com o FMI. O secretário também descartou qualquer possibilidade de renúncias de integrantes do gabinete de ministros. Além disso, afirmou que não existem decisões sobre o feriado bancário. "Esse feriado não é a intenção do governo." Apesar do esforço feito por Fernández para mostrar um governo tranqüilo, dentro da Casa Rosada, o palácio presidencial, estão sendo analisados os novos cenários que estão surgindo com a disparada do dólar. Em Buenos Aires, o fracasso argentino em Monterrey foi interpretado como o início do abandono da comunidade financeira internacional. Sem a ajuda do FMI, o governo Duhalde - que somente possui uma frágil sustentação nos governadores das províncias - estaria com os dias contados. Por este motivo, em alguns setores políticos já começa-se a especular na eventualidade de novas eleições presidenciais, deste vez pelo voto direto. Outro cenário, mais urgente, teria como protagonista uma mudança iminente no gabinete de ministros. Além do chefe do gabinete de ministros, Jorge Capitanich, também seria deslocado o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov. O ministro seria substituído pelo ex-presidente do Banco Central, Javier González Fraga. Segundo o economista Jorge Avila, do CEMA, não há chance alguma de deter a queda econômica e reativar o país sem estabilidade monetária. Para isso, afirma "ou se cria uma nova conversibilidade, ou a dolarização". Com uma eventual ida de González Fraga ao ministério da Economia, não se descarta a possibilidade de estabelecer um novo sistema de conversibilidade econômica. Neste caso, a conversibilidade não seria mais como a que vigorou entre 1991 e 2002, com um peso valendo um dólar, mas sim, como outra paridade, possivelmente de um peso para quatro dólares ou mais. O secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, não descarta este "plano B": "O presidente Duhalde não é dogmático sobre este tipo de coisas. O que ele tenta fazer é recuperar uma economia totalmente destruída". Dentro do Parlamento, diversas forças políticas consideram adequada a idéia de uma nova conversibilidade, principalmente os deputados e senadores dos partidos provinciais, que já apresentou uma proposta ao governo Duhalde. Outra opção que está sendo analisada é a dolarização da economia. Esta hipótese é abominada pelo principal partido da oposição, a União Cívica Radical (UCR), atualmente aliada do presidente Eduardo Duhalde. Extra-oficialmente comenta-se que o líder do bloco da UCR na Câmara de Deputados, Horacio Pernassetti, teria dito que se houver uma dolarização, o partido deixa de apoiar o governo.

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