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Governo está perdido com desemprego

Por Alberto Tamer
Atualização:

Acabaram as férias do governo, e o presidente Lula se diz preocupado com o primeiro trimestre e o aumento crescente do desemprego. Ótimo. Parece que já existe em Brasília o sentimento do perigo. Mas, será? As primeiras reuniões ministeriais e os primeiros pronunciamentos estão ainda dispersos. Cada um diz uma coisa e a primeira impressão é que o presidente busca rumos. Reconhece o problema mas ainda não sabe o que fazer. O ministro do Trabalho, sempre populista, quer punir as empresas que despedem, como se isso resolvesse a questão. Elas podem não despedir agora, mas, se a situação continuar se agravando, como todos preveem, não há como evitar. Há abusos de algumas ou muitas empresas que aproveitam a crise cortar empregos e salários? Que se puna, isoladamente, caso a caso, mas não se generalize com medidas que afetarão a todos - principalmente as que agem corretamente. Isso apenas exacerbará ainda mais este cenário que se enegrece dia a dia, e não precisa de "intervenção" atabalhoada do governo para se agravar. Na verdade, na reunião com Lula, o ministro do Trabalho não apresentou plano nenhum para enfrentar o desemprego. Talvez tenha tirado férias também dos problemas de sua área - senão fisicamente do ministério, mas em sua mente. Deve ter deixado o problema para 2009, esquecendo-se de que ele se agravou há dois meses e meio. E as empresas que foram atingidas pela queda da demanda interna e externa, se pensaram em férias, foi para dá-las aos seus empregados antes de demiti-los. Mal virou o ano, e uma enxurrada de empregos estão sendo cortados. De acordo com o IBGE, é um problema mais sério porque não se atém apenas a alguns setores, mas praticamente a todos da indústria e da agricultura. Senhor ministro, senhores de Brasília, crise não tira férias. Sei que estão trabalhando muito, sob forte pressão, reconheço que até agora têm acertado ao se anteciparem à recessão, sei mesmo que podem estar esgotados, mas por que não deixar alguém de peso responsável em seus lugares esvaziados pelo cansaço? Crises como essa que estamos vivendo entraram num processo cruel de realimentação. Cada dia tem sido pior que o anterior e não há, neste momento, a menor possibilidade de que essa situação venha a melhorar. Não estamos, como acredita o presidente, diante de um trimestre difícil. Não, não será um trimestre. Serão dois, três, se nada for feito com extrema urgência. Quando? Aqui e agora. Já. Anteontem. A LUZ AMARELA JÁ ERA O ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, promete medidas até o fim do mês para enfrentar o desemprego. "Toda vez que a luz amarela acender, a gente vai ter medidas", afirma ele.Mas a luz amarela já acendeu, ministro! Veja os dados oficiais do ministério do seu colega. Em dezembro de 2007 foram cortados 319,4 mil empregos, que devem ter chegado a 600 mil no mesmo mês de 2008. Não quero cansar nem ao senhor nem ao leitor, pois são indicadores públicos, que estão todos os dias nos jornais. O fato é este: o desemprego não vem aumentando mensalmente, não. Ele simplesmente deu um salto enorme em dezembro e continua saltando em janeiro. Basta ver a matéria da colega Márcia De Chiara, com manchete na primeira pagina de domingo. "Um terço das indústrias pretende demitir." E isso somente nos meses de dezembro e janeiro! Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas com 1.086 indústrias que empregam 1,3 milhão de trabalhadores!!! E também ainda os setores do comércio, de serviços, a agricultura... FALTA COORDENAÇÃO O cenário é sério, seriíssimo mesmo, senhor presidente, senhores ministros, e o governo está atrasado. Foi pego de surpresa? Não. Todos previam isso quando as empresas começaram a dar férias coletivas e a cortar horas extras porque produziam menos para atender o mercado interno enquanto o externo simplesmente definha, agravado, aqui, pela escassez e pela ausência de crédito. FRENTE ÚNICA, PRESIDENTE O senhor deve ter visto ao retornar a Brasília que não há coordenação, que não há um plano preventivo para enfrentar esse desafio que pode ser decisivo para evitar a recessão. O certo seria criar um frente única de poucos técnicos para criar esse plano e apressar celeremente sua execução. Deve começar não no fim do mês, mas agora. A cada dia que passa, mais empregados são jogados na rua e mais famílias estão consumindo menos. Frente Única, presidente, pondo de lado aqueles que têm soluções teóricas, periféricas, que alcançam apenas uma parte menor do problema. Punir empresas que despedem é uma delas. Funciona em parte, mas pode fazer mais mal que bem. CORTAR CUSTO DE EMPREGO Uma ideia que está na mente de todos os empresários é cortar custos e grande parte desses custos são trabalhistas. Empregar, hoje, custa o dobro do salário do trabalhador em taxas e encargos recolhidos pelo governo! E isso sem contar o que os empregados pagam de seu lado! Isso continua a ser um absurdo econômico, que impede os empresários de empregar mais. E, em momento de grave crise como este, preferem gastos trabalhistas decorrentes das demissões a manter um empregado que lhes custa duas vezes mais que o seu salário. Concluo e repito: a crise, que se precipita com uma velocidade assustadora, pode assumir proporções imprevisíveis se nada de pragmático e urgente for feito agora. O governo demorou muito, mas ainda há tempo para agir, desde que não se espere mais um mês acabar. Esperar o quê? Que em fevereiro o desemprego chegue a 1 milhão? *Email: at@attglobal.net

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