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Governo jogará para oposição desgaste sobre aposentadorias

O líder do PT, Henrique Fontana, admitiu que uma alternativa é colocar os aposentados contra a oposição, com a ameaça de deixar a MP perder o validade

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo tentará jogar para a oposição o desgaste no reajuste das aposentadorias da Previdência Social. Depois de uma reunião tensa, na qual não houve acordo para votação da medida provisória dos aposentados entre os líderes da oposição e os governistas com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o líder do PT, Henrique Fontana (RS), afirmou que a culpa será do PFL e do PSDB se não houver reajuste para os aposentados. Fontana admitiu que uma alternativa é jogar os aposentados contra a oposição, com a ameaça de deixar a MP perder o validade. Sem votação, a MP não terá mais valor no dia 24 de agosto. "Vamos expor o PFL ao debate", afirmou Fontana. "O PFL e o PSDB querem colocar em risco os 5% de reajuste que o governo já acordou com os aposentados", continuou. "O PFL e o PSDB querem diminuir o reajuste de 5% para 3,1% ou para zero por cento", afirmou Fontana. O líder referia-se ao fato de, sem a MP, o governo conceder aos aposentados apenas a correção da inflação prevista em lei. Desde o dia 7 de junho, quando a MP começou a ser votada, o PT e os governistas têm obstruído as sessões. Fontana acusou a oposição de também tentar impedir a liberação da pauta trancada por medidas provisórias para que a Câmara não vote outros projetos importantes. "É a visão mesquinha de não permitir que o presidente da República sancione leis importantes para o País", disse Fontana, concluindo que não vê possibilidade de um acordo evoluir para votar a MP dos aposentados. O clima de acusação entre governo e oposição nas entrevistas depois da reunião foi uma continuidade do verificado dentro da sala do presidente da Câmara, onde aconteceu a reunião. Lembranças Os rancores e a disputa entre os dois lados vieram à tona com lembranças do passado. O PFL e o PSDB citaram que a CUT e o PT, quando faziam oposição no governo Fernando Henrique Cardoso, espalharam nos Estados uma lista com seus nomes como se tivessem votado pelo fim do FGTS para os trabalhadores. Tucanos reclamaram, na reunião, que o governo faz discriminação na liberação de emendas para obras em municípios que fazem oposição a Lula. Pefelistas foram enfáticos ao dizer que os deputados governistas recebem benefícios do governo na liberação de emendas, na nomeação para cargos no Executivo e que, portanto, terão de assumir o desgaste de registrar o voto contra o reajuste maior para os aposentados. Pefelistas também questionaram o fato de o governo editar medidas provisórias para beneficiar seus eleitores dos sindicatos (duas MPs que trancam a pauta foram negociadas com as centrais sindicais) e, contraditoriamente, acusa a oposição de adotar medidas eleitoreiras. Nesse clima de tensão, o líder do PSB, Alexandre Cardoso (RJ), deixou a reunião antes do final. Saiu protestando e acusando a oposição de não querer negociar a votação das medidas provisórias. "Me recuso a participar de um debate com a oposição que não quer fazer debate político, mas eleitoreiro", afirmou Cardoso. "Não há mais entendimento entre governo e oposição", completou o líder do PSB. O argumento dos governistas para não votar nominalmente a MP é o fato de o presidente Lula já ter vetado - e, por isso, assumido um desgaste político com os aposentados - o reajuste de 16,67% que a oposição insiste em votar.

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