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Governo Kirchner ameaça tomar ´medidas extremas´

Ministra da Economia critica empresas que prometem aumentar preços

Por Agencia Estado
Atualização:

"Tomaremos medidas extremas". A frase foi disparada nesta terça-feira pela ministra da Economia, Felisa Miceli, ao anunciar que o governo do presidente Néstor Kirchner não aceitará de forma alguma que as empresas furem sua política de congelamento de preços. Segundo Miceli, "não há justificativas para que (as empresas) façam aumentos". A ministra deixou de lado seu cândido sorriso - que é motivo de ácidas caricaturas - e, pela primeira vez com a cara amarrada, desferiu uma saraivada de críticas contra os empresários "irresponsáveis", "anti-sociais" e "especulativos" que remarcam os preços. A ministra ressaltou que a política de congelamento de preços aplicada pelo governo Kirchner continuará ao longo de 2006 "e também de 2007". Os setores produtivos que não se enquadrem neste esquema econômico, serão o alvo "de todas as medidas sob nosso alcance". O alerta de Miceli estava direcionado às empresas de planos de saúde, que horas antes haviam anunciado que - desafiando o governo - implementariam aumentos de 20% em média. Este foi o primeiro desafio unificado de um setor empresarial contra a política de preços de Kirchner. Após a ameaça, Miceli apresentou os representantes do setor de laboratórios farmacêuticos, que haviam se comprometido, minutos antes, a realizar o congelamento. Os empresários, com sorriso amarelo, ao lado de Miceli e do Secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno (famoso, segundo rumores, de começar as negociações colocando seu revólver sobre a mesa), confirmaram que aderem ao congelamento até dezembro de 2007. "Não deixaremos que nenhum setor interrompa o processo de reativação econômica", sustentou Miceli. O aumento das empresas de planos de saúde preocupa o governo, já que essa alta teria uma significativa influência sobre o comportamento da inflação. O setor de alimentos também deu sinais de revolta. Após uma reunião com a ministra, exigiram que o governo lhes permita aumentar os preços dos produtos que sofrem a influência de matérias-primas provenientes do exterior. Kirchner está empenhado em sua cruzada contra a inflação, já que esta é o maior pesadelo de sua gestão. A inflação, além do aumento da criminalidade, são os dois principais fatores que podem abalar sua popularidade. Kirchner ambiciona a reeleição presidencial no ano que vem. Por isso pretende manter o congelamento até dezembro de 2007. As eleições ocorrerão dois meses antes do fim do congelamento, em outubro. Os empresários reclamam de estarem sendo usados pelo governo para "subsidiar o consumo", e assim, garantir a popularidade do presidente. Há poucos dias, o governo Kirchner ameaçou as empresas de combustíveis que "ousassem" aumentar os preços, além daquelas que estivessem por trás de um eventual desabastecimento. Kirchner ressuscitou uma norma de 1974, a Lei do Abastecimento, com a qual poderá enviar à cadeia os empresários considerados culpados de desabastecimento. O governo, na ambição de fazer o possível para controlar a inflação, está de olho na remoção de Élio Mármora, diretor do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). O organismo, que tenta a duras penas manter sua autonomia, é o responsável pela elaboração do índice de inflação. A idéia seria a de substituir Mármora por alguém que prepare índices de inflação mais "benevolentes".

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