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Governo Kirchner deverá emitir mais bônus à Venezuela

Venda ocorre enquanto a Argentina tenta desvencilhar sua imagem da de Chávez

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo do presidente Néstor Kirchner está tentando fazer malabarismos para aparecer menos perto do presidente venezuelano Hugo Chávez - para não irritar os EUA e não preocupar os investidores internacionais - enquanto ao mesmo tempo continua mantendo com uma elevada "chávez-dependência" na área financeira. A poucos dias do início da reunião de cúpula de presidentes do Mercosul que será realizada no Rio de Janeiro na quinta e sexta-feira desta semana, informações extra-oficiais na city financeira portenha indicaram que o governo emitirá mais bônus no fim deste mês, no total de US$ 500 milhões em bônus "Bonar VII". O comprador visado é - novamente - o governo da Venezuela, que em 2006 adquiriu US$ 2,6 bilhões em títulos argentinos. Entre maio e dezembro de 2005 o governo venezuelano comprou outros US$ 600 milhões. A administração Chávez transformou-se no principal comprador da dívida pública deste país desde que a Argentina encerrou a polêmica reestruturação da dívida com os credores privados. Chávez também faz pose de garoto-propaganda, pois com freqüência exalta as benesses desses papéis, aos quais chama de "Bônus Kirchner". A Ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, discutiria a compra, por parte da Venezuela, de mais dívida pública argentina com o Ministro venezuelano das Finanças, Rodrigo Cabezas, durante a cúpula do Mercosul nesta quinta e sexta-feira. Na área comercial os vínculos entre a Argentina de Kirchner e a Venezuela de Chávez intensificaram-se de forma exponencial. Desde a posse de Kirchner, em 2003, o comércio bilateral cresceu quase 400%, pois passou de US$ 150 milhões para quase US$ 700 milhões no ano passado. A balança bilateral, nestes anos, foi amplamente favorável para a Argentina. Desde 2003 a Argentina assinou 37 tratados comerciais com a Venezuela, o equivalente a um novo tratado a cada cinco semanas. A afirmação é do Centro de Estudos Nueva Mayoría, que indicou que entre 1911 e 2002 os dois países assinaram 82 tratados, o equivalente a um novo a cada 13 meses. Chávez, nos últimos dois anos, reativou a estancada indústria naval argentina ao encomendar navios petroleiros para a estatal venezuelana PDVSA e comprou um significativo volume de máquinas agrícolas. Mas outros anúncios de investimentos ficaram só na promessa. Esse foi o caso do desembarque da PDVSA na Argentina, feito com toda pompa. Na época, Chávez prometia uma extensa rede de postos de gasolina. Mas, em dois anos no país, só instalou dois postos de gasolina que vivem às moscas. Sancor Outra promessa pendente é a ajuda financeira que Chávez proporcionaria à empresa Sancor, a segunda maior produtora de laticínios da Argentina. Na província de Santa Fe, onde está a sede da companhia, ainda espera-se a concretização da promessa de um crédito de US$ 135 milhões. Em troca, Chávez pedia a garantia de abastecimento de leite em pó para a Venezuela por uma década e meia. Por causa de Chávez, a Sancor declinou uma proposta suculentas do mega-investidor húngaro-americano George Söros, que pretendia ter o controle acionário da empresa em troca do pagamento de sua dívida. Chávez propôs ajuda financeira quando soube que Söros poderia ficar com o controle de uma das últimas grandes empresas de laticínios da Argentina ainda em mãos de capitais nacionais. Mais especificamente, pelo caráter cooperativista da empresa, Chávez a elogiou como um bastião do "socialismo". De lá para cá, a reunião dos representantes da Sancor com a equipe econômica venezuelana em Caracas para definir o acordo foi adiada várias vezes. A demora está causando mal-estar entre os cooperativistas, que temem que o anúncio de ajuda feito por Chávez não tenha passado de uma simples manobra política.

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