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Governo Kirchner e mercado negam pacote

Por MARINA GUIMARÃES e CORRESPONDENTE
Atualização:

Apesar da ampla especulação nos meios de comunicação sobre um iminente pacote de medidas na Argentina, diferentes fontes do mercado e do governo reeleito de Cristina Kirchner, ouvidas pela Agência Estado em Buenos Aires, negam a preparação de grandes anúncios. Medidas de ajustes nas políticas do governo, segundo as fontes, serão adotadas conforme as necessidades, ao longo dos próximos meses. Para aqueles que esperam medidas de impacto na política monetária, por exemplo, uma alta fonte do Banco Central da República Argentina (BCRA) foi taxativa: "Não há que esperar nada diferente do que estamos fazendo"."Vamos continuar intensificando as inspeções conjuntas da Unidade de Informação Financeira e da Afip (a receita federal argentina) para evitar que violem as regras cambiais, que buscam impedir a lavagem de dinheiro, uma vez que apuramos muitas infrações", explicou a fonte à Agência Estado. Segundo a fonte, o BC argentino detectou inúmeras manobras de uso indevido de documentos alheios, mediante recompensa monetária, para compra de dólares sem identificação.Nas últimas semanas, os chamados "coleros" (tipo de "laranja" usado para comprar dólar) proliferaram, pressionando o câmbio. Segundo o titular da UIF, José Sbatella, os "coleros" mostram a existência de setores que movimentam capitais na Argentina e não querem ser identificados. Para o BC, as inspeções têm sido eficazes, especialmente na última semana, para reduzir o apetite das pessoas físicas e das empresas por dólares. A equipe econômica, segundo a fonte do BC, avalia que as pressões sobre o câmbio tendem a diminuir após o resultado das eleições, que forneceram amplo e contundente apoio à gestão da presidente Cristina Kirchner. "Esperamos que diminua um pouco, uma vez que o mercado assuma que não haverá saltos bruscos na cotação do câmbio e que a política de administração cambial será mantida", disse a fonte.Ao longo dos anos, o BC da Argentina tem mantido o câmbio praticamente fixo, mas permitiu pequenas desvalorizações paulatinas e suaves nos últimos três meses. No mesmo período, o volume das reservas internacionais caiu de US$ 50 bilhões para US$ 47,8 bilhões, com expectativa de terminar este ano na casa dos US$ 46 bilhões, conforme estimativas do analista Ramiro Castiñeira, da consultoria Econométrica. A situação levou à especulação de que haveria uma forte desvalorização do peso após as eleições. Tanto o BCRA quanto o Ministério de Economia, contudo, desmentem essa hipótese. "Não haverá nenhuma maxidesvalorização do peso. Estamos acompanhando o que se passa no mercado internacional e com os sócios comerciais e permitindo correções graduais para não haver uma defasagem cambial maior", afirmou uma fonte do Ministério de Economia à AE.O analista da Econométrica lembra que o histórico de dez anos de gestão kirchnerista no país não inclui o hábito de lançar pacotes com medidas de impacto. Ao longo desse período, a única medida que surpreendeu foi a estatização dos fundos de pensão, no final de 2008. "Controles cambiais, reestatização de serviços e outras medidas sempre foram tomadas de forma paulatina e o governo não teria motivos para mudar o seu estilo, especialmente porque tem mais quatro anos pela frente. É tempo suficiente para ir corrigindo as coisas devagar", opinou Ramiro Castiñeira. Para ele, "modificações radicais na política macroeconômica estão, diretamente, descartadas"."No mercado, não há expectativas de grandes anúncios. Não é o estilo de Cristina", confirmou o analista Fausto Sportorno, da consultoria Ferreres & Associados. Isso não significa, no entanto, que não existam contas pendentes para serem saldadas. A voz uníssona dos economistas, simpatizantes ou não da Casa Rosada, é que os gastos com os subsídios ao setor energético serão reduzidos, o que levaria imediatamente à correção das tarifas de energia e gás. Isso já ocorreu após as eleições parlamentares de 2009, e deverá repetir-se agora.

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