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Governo pode aumentar compulsório dos bancos

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, anunciam hoje, em coletiva à imprensa, novas medidas para conter a especulação no mercado financeiro. De acordo com analistas citados pela Globo News, uma dessas medidas seria o aumento do percentual do depósito compulsório que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central, reduzindo assim sua liquidez. Ontem, anunciou-se que o FMI irá fortalecer o caixa do governo com os 10 bilhões de dólares previstos no acordo feito com a instituição, com metade desses recursos sendo disponibilizados de imediato. Mas não é certo que o Banco Central utilizará o empréstimo para intervir no mercado cambial, a fim de conter a acentuada desvalorização do real nos últimos dias. Para o economista José Márcio de Camargo, o Banco Central não deve gastar suas reservas interferindo no mercado cambial, o que só serviria para ampliar ainda mais a especulação com a moeda americana. Ao contrário, deve deixar o dólar flutuar ao sabor do mercado, já que a desvalorização do real interfere apenas nos preços administrados, sem reflexos imediatos nos índices da inflação. Aumento no superávit Outra medida, defendida tanto por José Márcio Camargo como pelo presidenciável tucano José Serra, poderia figurar também no pacote de hoje: o aumento (falou-se em 7%) do superávit primário, atualmente fixado em 3,5% do PIB. Com isso, o governo teria mais recursos para abater a dívida interna e, em conseqüência, os juros de seus títulos. O volume da dívida, ao lado da questão eleitoral, tem sido apontado como uma das causas dos atuais problemas enfrentados pelo governo. Credibilidade Para a equipe econômica, a liberação do empréstimo do FMI é uma prova de que o Brasil tem credibilidade internacional e instrumentos para reagir às turbulências que se verificam no mercado financeiro. Autoridades do Ministério da Fazenda e do Banco Central continuam conversando com investidores estrangeiros e instituições financeirais, para argumentar que não há motivos para desconfiança. No início da noite, no Palácio do Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a falar da instabilidade no mercado financeiro, quando garantiu: "O Brasil pode ter confiança de que, nos momentos necessários, nós sempre atuamos coordenadamente, com patriotismo, sem nos extremarmos em posições abstratas, olhando o que é necessário fazer para manter o País no caminho. E vamos continuar assim." O presidente acrescentou: ?Seja qual for o resultado das eleições de outubro, os compromissos que os líderes brasileiros têm para com a Nação são suficiente garantia da maturidade que nós já demonstramos esses anos todos, e que nós continuaremos a trilhar o caminho da responsabilidade.? Palavra do FMI Em Washington, Vinold Thomas, um dos principais dirigentes do FMI, declarou que o próprio mercado reconhece que a economia brasileira está no rumo certo e que o nervosismo atual é normal em período pré-eleitoral. Para a instituição, a recuperação da economia mundial, que começou no primeiro trimestre, está se fortalecendo e deve continuar. O FMI considera, porém, que está ocorrendo uma redução no fluxo de capitais para países da América Latina, com os investidores direcionando suas aplicações mais para o mercado asiático. Para o órgão, o Brasil está sofrendo por causa da incerteza eleitoral, apesar de ter uma economia sólida. A conclusão é que, para 2002, o mercado de títulos está penalizando o Brasil por causa do risco político, de maneira bem mais intensa do que ocorreu em 1998, quando da reeleição de FHC, que tinha novamente como adversário o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Para o FMI, a reação atual do mercado é temporária. Queda da Selic O economista José Márcio de Camargo, professor da PUC do Rio de Janeiro e diretor da Tendências Consultoria Integrada, defendeu a redução da taxa Selic na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), o que diminuiria o serviço da dívida e favoreceria a atividade econômica. Para ele, a taxa de juros não afetaria em nada a taxa de câmbio neste momento. "O que está acontecendo com o dólar não tem nada ver com a taxa de juros, e a taxa de juros não vai segurar a desvalorização cambial", afirmou Camargo em entrevista ao programa Espaço Aberto, da Globo News. Ele explicou que não há excesso de demanda e tampouco a economia está crescendo a taxas excepcionais, por isso não há razão para que a Selic continue em 18,5% ao ano. "Nas verdade, a Selic é a taxa overnight. Hoje, o Banco Central deveria querer que as pessoas saíssem o máximo possível do overnight e comprasse títulos mais longos do governo. O que o Banco Central gostaria é de ter uma taxa de overnight baixa para penalizar que tomar e aplicar dinheiro aí, e uma taxa de longo prazo alta, para beneficiar quem está querendo tomar títulos do governo a mais longo prazo." Receita Para José Márcio de Camargo, o Banco Central também não deve utilizar o empréstimo do FMI para interferir no mercado cambial. E argumentou em favor da redução da taxa Selic: "Eu acho que o Banco Central deveria olhar para outra coisa, ou seja, sobre o que está acontecendo com a oferta e a demanda na economia. A economia está superaquecida? Não, pois não existe um excesso de demanda. Existe pressão sobre preços de mercados? Não. Ora, se não existe nada disso, então a inflação que vem do câmbio não é controlável pela taxa de juros."

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