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Governo pode limitar exportação de álcool

Segundo Haroldo Lima, presidente da ANP, as medidas poderão ser tomadas para garantir o abastecimento interno

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de negar o pedido dos usineiros para elevação de 20% para 25% da mistura de álcool anidro na gasolina e de firmar um convênio para ter melhor controle da produção e distribuição do combustível, o governo deve endurecer ainda mais o jogo com o setor sucroalcooleiro. Após participar, em Brasília, de cerimônia para assinatura deste convênio, o presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Haroldo Lima, disse que a obrigação do governo é garantir "com nitidez" o abastecimento interno e garantiu que isso será feito. "O controle dos estoques é para que isso não seja ameaçado", afirmou. Para garantir a demanda interna, ele sinalizou que o governo poderá impor algum tipo de controle na exportação de álcool. "Se uma certa linha de exportação terminar ameaçando os estoques de álcool nós poderemos interferir de alguma forma", disse. "O primado que nós queremos realçar é a garantia do abastecimento do mercado interno", ressaltou. Lima acrescentou que o governo não quer ser "surpreendido" por uma situação que, segundo ele, quase aconteceu no ano passado. "De repente você descobre que está se exportando tudo e que está faltando álcool combustível no mercado brasileiro. Não chegou a faltar, mas corremos esse risco", afirmou. Em janeiro, durante a última crise de abastecimento, a idéia de restringir as exportações de álcool foi ventilada, mas nenhuma autoridade falou abertamente sobre o assunto. O presidente da ANP foi o primeiro a admitir que isso poderá ser feito. "Se garantido o abastecimento interno e ainda sobrar muito produto pode exportar quanto quiser, mas é preciso garantir o de cá. Se isso não estiver garantido não pode exportar indistintamente", afirmou. Para Lima, garantir o abastecimento interno de álcool é uma forma de vender a idéia do etanol brasileiro no exterior. Na avaliação do presidente da ANP, se notícias de desabastecimento interno de álcool fossem divulgadas no exterior seria um "desastre". "Seria desastroso se de repente corresse a notícia de que essa história do etanol brasileiro é uma coisa muito bonita, mas que está faltando produto no mercado interno", afirmou. "O desastre maior é por alguma razão, por algum descontrole ou por alguma falta de coordenação nossa correr o risco de faltar álcool no Brasil. Isso arrebenta nossos planos todos de trazer investimento para cá", afirmou. Ele acrescentou ainda que as notícias de desabastecimento dão a impressão aos estrangeiros que "esse negócio de álcool no Brasil não é uma coisa para valer". A ANP e o Ministério da Agricultura firmaram nesta terça-feira um convênio para intensificar a fiscalização da produção e do consumo de álcool no País. A intenção do governo federal com essa parceria é evitar fraude e o comércio clandestino de álcool. Demanda O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, reafirmou nesta terça que a demanda interna e externa por biocombustíveis é crescente e que o setor precisa se planejar para abastecer os consumidores internos e para honrar os contratos externos. "Não podemos permitir que aconteça de novo o que ocorreu em 1989 e 1990, quando tivemos problemas de abastecimento", afirmou. O ministro contou que desde 1982 tem carros movidos a álcool. Ele calculou que 40% do abastecimento da frota de automóveis é feito com álcool. Por dia, disse o ministro, são colocados 4 mil carros bicombustíveis no mercado brasileiro. A frota nacional de carros flex-flue é de dois milhões de automóveis. Ele participou nesta manhã da assinatura do convênio entre o ministério e a ANP para controle e fiscalização da produção de cana-de-açúcar e distribuição de álcool no mercado interno. De acordo com Guedes Pinto, a produção de álcool por hectare é duas vezes maior que há 30 anos, quando começou o Programa Nacional do Álcool. Em 20 anos, a produtividade poderá dobrar novamente. O ministro falou ainda da produção americana para enfatizar que a demanda mundial por álcool está aquecida. Segundo ele, o Brasil produziu de 500 milhões a 1 bilhão de litros a mais de álcool que os Estados Unidos em 2005, mas neste ano, os americanos produzirão mais que o Brasil. O álcool americano é feito de milho. "Isso mostra que o interesse mundial está aquecido", afirmou. Desabastecimento Guedes afirmou em entrevista ao vivo ao AE Agronegócios que não haverá desabastecimento de álcool combustível na atual safra. De acordo com o ministro, em duas reuniões realizadas semana passada representantes do setor lhe garantiram que a oferta de álcool é suficiente para abastecer o mercado. "Nessas duas oportunidades os empresários disseram que a safra está correndo muito bem. A cana está rica em sacarose e, portanto rica em açúcar e em álcool. A produção até agora é 12% maior que a do ano passado e eles estão seguros que não haverá problema de abastecimento", afirmou Guedes. O ministro lembrou, ainda, que os estoques de álcool são amplos, tanto que o setor está reivindicando um aumento da mistura na gasolina dos atuais 20% para 25%. "Tudo indica que nós não teremos problemas de abastecimento este ano", completou. Matéria alterada às 14h21 para acréscimo de informações

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