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Governo terá de alterar a poupança para evitar arbitragem, dizem bancos

Movimento de queda expressiva da taxa básica de juros, que caiu 2,75 pontos porcentuais desde agosto do ano passado, reacendeu a discussão da mudança dentro e fora do governo

Por Anne Warth e da Agência Estado
Atualização:

O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, disse hoje que o governo terá de alterar as regras de remuneração da caderneta de poupança para evitar um movimento de arbitragem. O movimento de queda expressiva da taxa básica de juros (a Selic), que caiu 2,75 pontos porcentuais desde agosto do ano passado, reacendeu a discussão da mudança dentro e fora do governo federal.

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"Se compararmos o rendimento dos fundos, teríamos um ganho de competitividade da caderneta se a taxa Selic ficar abaixo de 9% ou 8,5% ao ano. Esse é um ponto que terá de ser enfrentado, mais cedo ou mais tarde, de forma a encontrar um equilíbrio e adaptar o patamar de juros dos ativos", afirmou, em entrevista coletiva, nesta tarde (21). "Seria muito ruim criar uma situação que, por conta de arbitragem, houvesse um movimento muito grande para a caderneta." O temor é que ocorra uma migração de investidores dos fundos para a poupança.

Para Sardenberg, o País montou uma arquitetura financeira vinculada a taxas de juros nominais e inflação muito elevadas. "No momento em que se trabalhar com números nominais menores, é preciso fazer ajustes", disse. "No passado, uma remuneração de TR (Taxa Referencial de Juros) mais 6% (de juros), isenta de Imposto de Renda, não parecia estranho. Hoje, passou a ser uma questão que pode gerar desequilíbrios no futuro."

Como os recursos da poupança são direcionados ao crédito imobiliário, para Sardenberg, é fundamental que o fluxo da poupança seja estável e previsível, sem grandes flutuações. "Caso contrário, os tomadores de crédito não vão poder se beneficiar."

Redução dos spreads

O economista-chefe da Febraban evitou comentar a intenção do governo de reduzir o spread bancário por meio da atuação mais forte dos bancos públicos, como a Caixa e o Banco do Brasil. Segundo ele, a entidade não se posiciona sobre a estratégia de seus sócios.

Sardenberg reiterou que o spread bruto no País é alto devido a ineficiências, tais como a tributação incidente na intermediação financeira, nível elevado de compulsórios e inadimplência de Pessoa Física mais alta. Segundo ele, do total do spread bruto, 20% corresponde ao lucro. "O spread bruto não é o lucro da instituição financeira. Reconhecemos que ele é muito alto porque temos uma série de ineficiências. É importante, se pensarmos em reduzir o spread, que sejam adotadas medidas para reduzir a ineficiência."

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Também de acordo com o economista, embora a Selic tenha sido reduzida, há outros componentes de custo. "Temos a redução da Selic, mas, por outro lado, ainda percebemos certa cautela tanto de instituições quando de consumidores, o que leva a uma estabilidade ou queda lenta nas taxas cobradas na ponta." 

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