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'Parte dos US$ 12 bi gastos no exterior será destinada ao turismo local', diz presidente da CVC

Leonel Andrade diz que companhia está redesenhando o novo pacote de turismo para o segundo semestre; executivo participou da série “Economia na Quarentena”, do Estadão

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller e Monica Scaramuzzo
Atualização:
Leonel Andrade vai falar como a agência de turismo CVC está conduzindo os negócios durante a pandemia Foto: Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Líder de um dos setores mais atingidos pela pandemia, a CVC deve finalizar em junho o redesenho do que será o turismo pós-pandemia. “Estamos desenhando junto com os grandes destinos, como hotéis, pousadas, casas, esse novo tipo de negócio”, disse Leonel Andrade, presidente da agência de turismo CVC. O executivo participou hoje à tarde da série de entrevistas ao vivo Economia em Quarentena, do Estadão.

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Segundo Andrade, a retomada do turismo no Brasil deverá ocorrer a partir do 4º trimestre, sobretudo para destinos domésticos. “O Brasil vai ser conhecido pelos brasileiros, inclusive, finalmente, pelas pessoas de alta renda. Teremos viagens para praia e campo, com locais mais abertos e espaços livres. O que deve crescer também é o turismo de proximidade”, afirmou.

Para o executivo, parte dos US$ 12 bilhões que os brasileiros gastam no exterior será destinado para viagens locais. A empresa terá aplicativo para se aproximar mais do consumidor. 

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

 

O setor de turismo foi atingido em cheio pela pandemia. A CVC tem pistas de como será a retomada da demanda por viagens?

Fomos realmente atingidos em cheio, mas o turismo vai continuar. A gente encara como um enorme desafio, mas não como o fim do mundo. Passadas as primeiras semanas aqui no Brasil, onde CVC é soberana, veremos a retomada do turismo dentro do País. 

Como é passar segurança para o viajante, se ainda não há um protocolo para o setor?

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Esse é um grande desafio. Somos a empresa que intermedia e coloca as pessoas dentro das melhores opções. É claro que o consumidor vai priorizar companhias aéreas e hotéis que estão tendo cuidados. Há um consenso de toda a cadeia que a prioridade vai ser higienização e questões sanitárias. Eu tenho convicção que as aéreas e hotéis terão muito cuidado.

E nos aeroportos que têm muitos pontos de contatos? Não tem de ter uma conversa com esses entes?

Existe esta conversa. As diversas associações de turismo têm sido muito ativas, inclusive a nível governamental. Assim como os shoppings vão mudar as ações, os aeroportos também vão mudar. Em breve, o mundo vai ter mais seguro.

As companhias aéreas têm falado num aumento de 50% no valor das passagens para seguir os protocolos pós-pandemia. Como a CVC pode ficar mais competitiva?

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Não consigo avaliar, se isso vai acontecer na prática, embora elas tenham falado desse aumento de 50%. Sob o ponto de vista da CVC, é claro que quanto menor o preço da passagem aérea, fica mais acessível para as pessoas viajarem. O mais importante é que exista sustentabilidade. Ou seja, que a exista segurança da pessoa fazer a viagem e voltem em segurança para casa. 

A CVC está trabalhando com qual horizonte de tempo para a retomada do turismo?

A CVC Corp., um grupo de 10 empresas que atuam em diversos setores do turismo, é líder no lazer, como no mercado corporativo. Quando a gente olha a retomada, elas são diferentes por modalidades e setores. No setor de lazer, essa retomada começa ocorrer de maneira mais consistente a partir do 4o trimestre deste ano. As pessoas estão começando a pesquisar. Mas acredito que vamos atingir o patamar de 2019 em dois ou três anos. Até o fim do ano, vamos estar com movimento da faixa de 50% do que foi no ano passado. Já o corporativo vai demorar, por diversas razões. Dificilmente teremos movimento de feiras e eventos nos próximos 12 meses. 

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A CVC foi criticada por ser pouco digital e fez algumas aquisições neste sentido. Faz diferença ser uma empresa online neste momento?

Faz diferença, mas a CVC não está tanto ao céu quanto ao mar. Estamos com quase todas as lojas fechadas desde abril, mas estamos vendendo. Não somos tão offline assim. A CVC opera com 14 mil agências no Brasil inteiro. Como vai ser o nosso futuro? Seguramente, já temos a maior rede de lojas no Brasil. Estamos construindo em torno desse canal plataformas digitais voltadas para o cliente. Quando se fala em loja, se pensa no offline, mas não é assim. A loja poderá ser móvel. Na próxima semana, vamos mostrar a construção de uma plataforma digital mais sólida neste sentido, com aplicativos, que permitirá ao consumidor transacionar de forma mais fácil com a CVC. 

É uma frente que dá continuar andando mesmo com o resto todo parado?

Vale ressaltar que essa é uma das poucas coisas que não parou. Mantivemos investimentos no mundo digital.

O sr. chegou na empresa no meio da pandemia. A CVC divulgou recentemente que enfrenta um problema contábil. Como está essa situação?

Cheguei durante a crise, no dia 1o abril, e tenho desde então administrado a empresa à distância. Mas não significa que não fizemos muita coisa. Já fizemos redirecionamento de negócios. O trabalho não para. O importante agora é como vamos sair da crise, mais fortalecidos. Sobre a questão contábil, ainda não tenho muito o que falar. Este erro contábil foi levantado pela empresa, que pediu revisão completa de todas as suas demonstrações financeiras. Isso está sendo realizado - uma investigação completa sob o ponto de vista da contabilidade e da gestão. Eu não participo disso. Um comitê dentro do conselho foi designado para o acompanhamento e, nas próximas semanas, teremos isso concluído. Ao concluir isso, teremos as correções do passado e as correções para o futuro. Vamos garantir para reguladores, acionistas e mercado que a empresa passa ter controle e práticas futuras para que isso não mais ocorra.

Muitas viagens tiveram de ser remarcadas. Qual o tamanho desse problema?

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No ano passado, transportamos 20 milhões de pessoas. A todo momento, na pré-crise, temos cerca de 200 mil pessoas usando a CVC - em alguns momentos, como feriados, a demanda é maior, outras vezes menor. Quando aconteceu a pandemia, em março, nós tínhamos 20 mil pessoas fora do Brasil. E nós fomos bem-sucedidos de trazer essas pessoas para casa. Não tenho o número exato. Claramente, março e abril, deve ter 1 milhão de viagens que não foram feitas, mas serão remarcadas para o futuro. 

Como os pacotes de turismo estão sendo redesenhados?

No nosso plano, estamos imaginando que as pessoas vão voltar com alta demanda para locais domésticos. O Brasil vai ser conhecido pelos brasileiros, inclusive pelas pessoas de alta renda finalmente. Teremos viagens para praia e campo,com locais mais abertos e espaços livres. O que deve crescer também é o turismo de proximidade. Como por exemplo, pessoas de São Paulo querendo ir para Campos do Jordão no fim de ano, com alternativa ao Nordeste, Caribe e Europa. E ele vai ser praticado em veículos menores, com menos pessoas. Estamos desenhando junto com os grandes destinos, como hotéis, pousadas, casas, esse tipo de negócio. Nosso objetivo é chegar ao final de junho com todo o endereçamento de produtos e serviços para o segundo semestre da retomada.

A CVC começou com este tipo de turismo. Vai ter esse tipo de pacote para classe média alta, incluindo roteiros rodoviários?

Existem estudos que mostram que mais de US$ 12 bilhões deixarão de ser gastos nos próximos 12 a 18 meses com brasileiros no exterior e vão vir para o Brasil. A classe A e B, principalmente, deixando de viajar. Primeiro, independentemente de qualquer condição, as fronteiras vão estar fechadas ainda por um bom tempo. Depois, a alta da moeda. E a terceira é o risco de contágio. Grande parte desses US$ 12 bilhões será gasto aqui. O mais importante não é o desenho do transporte, mas sim o do destino. Ou seja, hotéis e pousadas com serviços diferenciados. 

As agências de turismo estão discutindo pacote de ajuda ao governo?

A CVC tem capacidade de atravessar a crise e estamos com um processo de capitalização. A CVC tem 4 mil funcionários, mas temos mapeados 20 mil pessoas que dependem desse sistema. Por conta desse ecossistema, temos trabalhado com bancos locais, BNDES, Sebrae, Banco do Nordeste para tentar ajudar. Não adianta a CVC e as áreas saírem fortes, mas o ecossistema combalido. Queremos preservar o ecossistema sim. 

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O fato de o Brasil estar entre os países com o maior número de mortos pela covid-19 não atrapalha o turismo?

Atrapalha, lógico. Para CVC, o mais importante é ter cliente vivo por longo prazo. Se o cliente vai voltar este mês ou no outro, o mais importante é que ele volte com saúde. No início da pandemia, lançamos uma campanha para que os nossos clientes ficassem em casa e viajasse depois. Temos de seguir a orientação científica. 

Isso não afugenta o turismo estrangeiro para cá?

Claro que sim. Vamos perder nos dois sentidos. Os turistas brasileiros vão deixar de ir para o exterior e o fato de o Brasil ser um dos mais impactados pela crise, haverá receio de que as pessoas venham para o Brasil.

A CVC teve de demitir?

Usamos a MP 936 para preservar o emprego das pessoas e 100% dos nosso funcionários estão em home office. Não fizemos nenhuma demissão depois da crise. Reduzimos o salário em 25% a 50% e vamos estudar como vai ser daqui para frente. Não posso garantir que depois da crise estaremos com todos os funcionários. Espero que não precisamos demitir. Na nossa visão, primeiro as pessoas, depois o resto.

Como o sr. vê o protocolo de abertura gradual da economia?

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O maior problema nosso é a falta de padronização. Isso tem maior impacto do que qualquer outra coisa para todos os setores. O mais importante é que a gente tenha convicção do que vai fazer e minimize todos os riscos. 

Qual aprendizado que fica?

Fica sim. Respeito e cuidado, cada vez mais exigidos. Quando se fala em respeito, o importante é ressaltar a empatia. Empatia não é simpatia. O importante é conhecer os clientes. Não adianta se aproveitar da crise para vender. Está na hora de mostrar que você está ao lado dos clientes e funcionários. A crise é danosa para todos os setores. 

 

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