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Grandes empresas investem em pequenos negócios verdes

Tendência é de que grupos atuem como os fundos de investimento

Por Andrea Vialli
Atualização:

Há duas semanas o Grupo Orsa, que atua nas áreas de papel, celulose e produtos florestais, comprou participação na Ouro Verde Amazônia, pequena empresa que fabrica produtos culinários à base de castanhas. O negócio sinaliza um novo movimento entre as chamadas empresas verdes, que atuam com energia limpa, orgânicos e produtos florestais certificados. Em vez de receber recursos de bancos ou de fundos de investimento para expandir suas atividades, elas estão sendo parcialmente compradas por grandes companhias. "A crise tornou os investidores mais cautelosos. Muitos dos fundos de capital de risco ou de private equity, que compram participação em empresas, estão reavaliando seus investimentos" diz André Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas e coordenador do programa New Ventures, realizado há cinco anos pela FGV com o objetivo de atrair investidores para pequenos negócios com foco em sustentabilidade. Desse programa, saiu a Ouro Verde Amazônia. A empresa de Alta Floresta (MT)foi criada pelo ex-professor da USP Luiz Laranja, que se mudou para o Mato Grosso em 2001 com o objetivo de investir em um negócio próprio. "Eu sabia que haveria demanda por produtos da Amazônia produzidos de forma sustentável", diz Laranja. A empresa fabrica produtos que utilizam a castanha como matéria-prima, como azeite extra-virgem, creme e granulado. Pequena, a empresa tem faturamento anual de R$ 550 mil e ainda uma presença ainda tímida no varejo. Mas a proposta de remunerar os produtores de castanha de forma mais justa, eliminando os atravessadores, chamou a atenção do Grupo Orsa. As negociações duraram menos de três meses. Com o aporte de recursos, cujo valor é mantido em sigilo, a empresa vai ganhar fôlego para se expandir. Com o primeiro R$ 1 milhão, deve abrir um centro de logística na Grande São Paulo. Também está prevista uma nova unidade na região do Vale do Jari, divisa entre os estados do Pará e Amapá. Para o Grupo Orsa, que mantém projetos de geração de renda no Vale do Jari, o novo negócio vai permitir aumentar a produtividade das comunidades extrativistas no local. "Nosso objetivo é reforçar o trabalho com as comunidades, e não ser um grande produtor de alimentos", diz Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa. Segundo ele, existem na região do Jari 98 comunidades nativas, com 14 mil pessoas e pouca atividade econômica. "O propósito é desenvolver modelos de negócios que dêem uma alternativa econômica para essas famílias e ao mesmo tempo preservem a floresta em pé", diz Amoroso. Segundo Carvalho, da FGV, a tendência de pequenos negócios verdes serem comprados por grandes empresas é incipiente no Brasil, mas vem se tornando comum na Europa e nos Estados Unidos. "As grandes companhias estão buscando ter uma cadeia de produção mais sustentável, e uma maneira de fazer isso é a aquisição de fornecedores", diz. Nos EUA, por exemplo, o Grupo Danone comprou 85% de participação na Stonyfield Farm, empresa de iogurtes orgânicos que fatura anualmente US$ 250 milhões de dólares e cresce 26% ao ano, cinco vezes mais do que os fabricantes de iogurte convencional. FUNDOS Apesar de mais seletivos, os fundos de private equity devem continuar olhando para os negócios ligados a energias renováveis, eficiência energética, reciclagem e biotecnologia. O Stratus, que possui uma divisão voltada para tecnologias sustentáveis, prevê investir em quatro empresas com esse perfil ao longo de 2009. "Temos uma profunda crença de que investir em empresas verdes traz vantagens econômicas. Nossos investimentos com esse perfil crescem acima de dois dígitos", diz Oren Pinsky, diretor do Stratus.

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