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Grandes empresas prevêem exportações fracas

Por Agencia Estado
Atualização:

As grandes companhias, justamente as que têm impacto mais forte na balança comercial, estão mais pessimistas sobre as exportações este ano do que as empresas de médio e pequeno portes vocacionadas para atuar no exterior. A conclusão é de um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 76 empresas francamente exportadoras, que vendem por ano o equivalente a US$ 12 bilhões e faturam 84% desse total com as vendas externas. "A demanda interna já se recuperou, mas a externa está muito lá embaixo. O retorno está ocorrendo muito lentamente ainda", diz o chefe do Centro de Estatísticas e Análises Econômicas (Ceae) da FGV, Salomão Quadros. Enquanto apenas 4% das empresas exportadoras pesquisadas apontaram uma demanda forte, 37% indicaram o oposto. Excluindo as grandes empresas que têm uma receita acima de R$ 1 bilhão por ano, a proporção das que se referem a demanda externa forte duplica (8%) e a que indica demanda fraca passa para 12%. Em relação à expectativa da demanda para os próximos meses, o grupo total de empresas pesquisadas se divide em partes iguais, entre as que prevêem aumento e queda. Por isso, explica Quadros, o crescimento esperado nas vendas externas é praticamente desprezível. Excluindo, mais uma vez, as mesmas companhias de maior porte, o quadro melhora: a proporção das empresas que contam com melhora nos negócios (41%) corresponde a quase quatro vezes a proporção das que esperam piora (11%). O economista conclui que o quadro parece ruim para as grandes empresas, mas razoável para as demais. "Pena que as pequenas e médias exportem tão pouco", diz Quadros. O chefe do Ceae reconhece a importância das companhias de grande porte no mercado externo, mas avalia que o País não pode depender exclusivamente delas - que inclusive são poucas - para aumentar sua capacidade exportadora. "Se fosse assim, teriam de ser dez vezes maiores, do tamanho dos conglomerados coreanos", exemplifica Embraer - O caso da Embraer, principal empresa exportadora do País, é significativo. No primeiro trimestre do ano, conforme os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações da empresa caíram 24%. Para 2002, a empresa prevê a entrega de 135 aviões, 16% abaixo dos 161 do ano passado. Com impacto dos atentados terroristas aos Estados Unidos, em setembro, houve uma reprogramação negociada com os clientes e uma "redução da cadência de entregas de aeronaves para o mercado regional", conforme o relatório do primeiro trimestre da empresa. Retomada - No caso da Vale do Rio Doce, terceira maior exportadora do ranking da Secex, as exportações deverão aumentar em 2002, mas menos do que no ano passado, segundo o diretor de Relações com Investidores, Roberto Castelo Branco. O executivo diz que existem sinais de retomada da economia global, mas a recuperação parece mais "leve", comparada à de 1999, e a saída do desaquecimento está mais lenta. Apesar disso, as importações chinesas, por exemplo, estão se destacando e mantendo forte a demanda por minério de ferro e por pelotas (de minério), antes do esperado. No caso da Aracruz, que acumula queda de 42% no primeiro trimestre do ano, a expectativa é de que as exportações sejam "naturalmente maiores" do que no ano passado, segundo o diretor comercial João Felipe Carsalade. O executivo explica que a terceira linha de produção está começando a operar e deverá agregar mais 350 mil toneladas sobre as cerca de 1,3 milhão de toneladas exportadas no ano passado. Além de apostar na retomada da economia mundial, ele conta com o início da recuperação dos preços. Siderúrgicas - Mesmo o setor siderúrgico, que acumula alta de 40% nas exportações até abril deste ano, conforme dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), reconhece que as vendas externas deverão fechar praticamente estagnadas em relação a 2001. O presidente do IBS, que também comanda a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), José Armando de Figueiredo Campos, explica que as vendas no quadrimestre avançaram bastante pois muitos contratos haviam sido fechados antes das restrições americanas. Além disso, as usinas brasileiras em manutenção voltaram a funcionar e outras foram inauguradas. Para o ano, o executivo reconhece, contudo, que o desempenho exportador será afetado pelo protecionismo nos Estados Unidos e pelo conseqüente efeito dominó das barreiras em outros mercados, como o europeu. Ainda que proporcionalmente pequenas, as exportações para a Argentina também encolherão provavelmente à metade, este ano. As perdas de receita seriam, segundo o representante do setor de aço, compensadas com relativo o aumento das vendas de produtos semiacabados.

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