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Gravadora agora oferece álbuns de música grátis pela internet

Na busca de novo modelo de negócios, artistas da Trama começam a ser remunerados por patrocínios de empresas

Por Renato Cruz
Atualização:

A internet criou um problema difícil de ser superado pela indústria do disco. Os sistemas de troca de arquivos causam um declínio acelerado nas vendas de CDs e DVDs de música, que nem o comércio crescente de canções digitais consegue compensar. Nesse ambiente, as empresas testam novos modelos de negócio. No mês que vem, a gravadora Trama planeja lançar seu primeiro álbum virtual, gratuito para o ouvinte e sustentado por publicidade. No ano passado, a empresa lançou o download remunerado em seu site TramaVirtual. Nesse modelo, os artistas que colocam suas músicas digitais no site recebem uma participação na publicidade, que varia conforme o total de músicas que foram baixadas. ''''A gente começou a observar que as bandas estavam colocando o disco inteiro no download remunerado'''', afirma João Marcello Bôscoli, presidente da Trama. ''''Mas 12 músicas colocadas assim não são um álbum inteiro.'''' Segundo Bôscoli, para virar álbum inteiro, faltam a seqüência das músicas e a direção de arte. ''''O álbum virtual é um arquivo que vem com dados, áudio e imagem'''', explica o músico e produtor, filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli. O álbum virtual será sustentado por anúncios e, por um tempo determinado, oferecido de graça na internet, sem limite de download. ''''Durante aquele período, o artista já está protegido nos seus direitos autorais, com um dinheiro que recebeu antecipadamente'''', afirma Bôscoli. ''''Por exemplo, a gente tem um acordo com uma banda nova e vai pagar entre R$ 12 mil e R$ 15 mil para ter o direito sobre o álbum dela durante três meses.'''' O anúncio do patrocinador vai aparecer na base do hotsite do álbum virtual e, a cada download, o internauta vai ver uma mensagem do patrocinador e outra do artista. O pacote deve custar ao anunciante a partir de R$ 200 mil, no caso de uma banda iniciante, com direito a um show de lançamento e divulgação do álbum. A Trama não identificou, fora do Brasil, nenhuma gravadora que tenha adotado um modelo parecido. O álbum virtual pode ser visto como uma das iniciativas da indústria da música para escapar da crise criada pela internet. Os números oficiais de 2007 do mercado brasileiro do disco ainda não foram divulgados, mas o faturamento deve ter ficado em cerca de um terço do que era em 2000, apesar do crescimento de 185% no ano das compras de música digital via internet e celular. No lugar de montar serviços próprios, as grandes gravadoras têm usado os portais de internet e as operadoras de telefonia como canais de venda de música digital. O UOL Megastore vende canções digitais, por download. No Sonora, do Terra, o internauta paga uma mensalidade, ouve álbuns inteiros e cria rádios personalizadas. Na loja virtual da TIM, os clientes da operadora podem baixar músicas completas e pagar somente pelo tráfego de dados feito no download. O celular respondeu por 76% das vendas de música digital em 2007. AUDIÊNCIA JOVEM O primeiro álbum virtual da Trama será a versão ao vivo de Danç-êh-sá, de Tom Zé. ''''A internet é uma pescaria que não tem anzol sob medida'''', disse o músico, em entrevista por telefone. ''''O João Marcello sempre acreditou que não se podia castrar a liberdade da internet, e que a empresa precisava se adaptar. Realmente eu me sinto alegre.'''' Tom Zé, de 72 anos, tem uma audiência jovem. ''''Meu público mais velho é o universitário'''', afirma. Seus fãs são justamente aqueles que estão parando mais rápido de comprar CDs. O próprio Tom Zé disse que quase não escuta música popular. ''''Todos os rádios lá de casa ficam na Cultura FM (que toca música clássica).'''' Ele tem uma explicação interessante para isso: ''''Não ouço música popular porque sou invejoso. Os artistas que tocam no rádio me venceram, porque eu não toco ali. Eu morro de inveja, vira trabalho, sofrimento.'''' Apesar disso, ele diz que gosta de artistas novos, como Mallu Magalhães, que tem 15 anos e fez sucesso no MySpace. Tom Zé não baixa músicas da internet, mas pede para sua mulher, Neusa Martins, ou para a assistente de produção, Tânia Lopes, baixar para ele. ''''Eu aprendi agora a passar e-mail'''', diz o músico. ''''Eu ouvi a música da Mallu e fiquei muito contente. Fiquei fã da Mallu.''''

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