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Três pontos ainda bloqueiam acordo entre Grécia e UE

Um total de 47 das 50 medidas em discussão já foram resolvidas; Tsipras reclama contra rigor maior do que o de Portugal e Irlanda

Por Andrei Netto
Atualização:

Atualizado às 21h45

PARIS - Três pontos, de um total de 50 na mesa de negociações, ainda afastavam na noite desta quarta-feira o governo da Grécia de seus credores internacionais, que discutem um acordo sobre o novo plano de austeridade no país, avaliado em € 7,9 bilhões. Depois de mais um dia de debates, o fórum de ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo) adiou para esta quinta-feira, em Bruxelas, aquele que pode ser o fim de seis meses de debates entre Europa e Atenas. Segundo o ministro da Economia da Grécia, George Stathakis, restam três temas - não especificados - dentre as 50 medidas que já foram discutidas, para que um acordo seja selado. Em função das divergências, negociadores da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentaram pela manhã uma contraproposta, em resposta à oferta feita pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, na segunda-feira. 

Na Alemanha, a Vodca 'Grexit' ironiza a saída da Grécia da zona do euro; o premiê Alexis Tsipras aparece na ilustraçãoao lado do ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis Foto: AFP

A suposta intransigência dos credores internacionais provocou a ira do premiê radical de esquerda, que questionou os objetivos de Bruxelas e de Washington nas negociações. “A rejeição repetida de medidas equivalentes por algumas instituições nunca ocorreu antes, nem com a Irlanda, nem com Portugal”, afirmou Tsipras via Twitter. “Essa postura estranha parece indicar que ou não há interesse num acordo, ou que interesses especiais estão por trás.” As declarações foram interpretadas nos mercados financeiros como um aumento do risco de novo rompimento nas negociações, mas autoridades europeias garantem que as discussões prosseguiam. Tsipras busca acordo sobre reformas que terão de ser implementadas em troca do desbloqueio de € 7,2 bilhões, que podem impedir o default de pagamentos por parte de Atenas. O prazo para reembolso de € 1,6 bilhão ao FMI termina dia 30. Para negociar pessoalmente, Tsipras viajou a Bruxelas para se reunir com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Mas o premiê não participou do Eurogrupo. Antes mesmo do início dessa reunião, o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, afirmou que considerava difícil que todas as divergências fossem superadas ainda nesta quarta-feira. “O nível da preparação não permite otimismo sobre a obtenção de um resultado”, afirmou o ministro, o defensor mais intransigente da austeridade fiscal na UE. Ao término do encontro, o coordenador do Eurogrupo, o ministro holandês de Finanças, Jeroen Dijsselbloem, reiterou a necessidade de prosseguir na mesa de negociações. “Não chegamos ainda a um acordo, mas estamos determinados a continuar trabalhando para fazer o que é necessário”, garantiu. A reunião do Eurogrupo recomeça nesta quinta-feira, às 13h ( 8h de Brasília). Um dos pontos cruciais para o governo da Grécia é obter da UE, do BCE e do FMI a promessa de que haverá uma nova reestruturação na dívida do país, de € 321 bilhões - ou 173% do Produto Interno Bruto (PIB). Considerada por muitos economistas proeminentes da Europa como impagável, a dívida ainda mina os debates entre gregos e credores. Destoando da intransigência da Alemanha e do FMI sobre o assunto, o ministro de Finanças da França, Michel Sapin, afirmou nesta quarta-feira que o assunto pode, sim, ser alvo de discussões desde já. 

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