PUBLICIDADE

Grécia será um exemplo?

Por Neil Irwin
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Há anos parecia que alguma coisa tinha de ocorrer na Grécia. Você certamente não pode ter uma economia em depressão durante cinco anos e, numa democracia, achar que as pessoas não exigiriam uma abordagem diferente, fossem quais fossem as consequências. Ontem, alguma coisa sucedeu. Por maioria esmagadora os gregos votaram "não", rejeitando um acordo para um pacote de ajuda dos credores em troca de mais austeridade. O que marcou aquele que será um período de definição para a Europa, independentemente do que suceder em seguida. Durante a semana que antecedeu o referendo, o governo de esquerda da Grécia afirmou que um "não" ofereceria a ele uma posição mais forte nas negociações na última rodada de conversações com os credores. O que é verdade. O resultado da noite de ontem deu ao primeiro-ministro Alexis Tsipras um mandato mais claro para continuar a estratégia que ele tinha na mão. Sua mensagem para seus interlocutores, incluindo Angela Merkel, chanceler alemã, e Mario Draghi, presidente do BCE, será simples e escorada no resultado do referendo: a sociedade grega não suportará o prosseguimento das políticas de austeridade. Apresentem uma oferta melhor. Menos claramente verdadeira foi a afirmação de Tsipras de que o resultado não envolveria necessariamente um abandono do euro. Durante a campanha para o referendo, os líderes europeus declararam em alto e bom som que a rejeição do pacote de ajuda oferecido significaria dizer adeus à moeda comum, o que daria início a uma era volátil e perigosa para a Grécia com consequências transcendentais. Agora veremos se estão blefando. Os credores europeus estão exasperados com os líderes gregos, que recusam as sutilezas da diplomacia intraeuropeia e adotam um estilo de negociação agressivo. Mas a decisão dos líderes europeus não implica se eles gostam ou não de Tsipras e seu ministro de Finanças, Yanis Varoufakis. Mas se acreditam que para atender aos objetivos de uma Europa unida vale a pena atender às demandas da Grécia: manter uma torneira aberta e no final conceder um novo pacote de ajuda financeira que permita aos gregos realizarem uma amortização de grande parte da sua dívida e amenizar alguns dos cortes nas aposentadorias e salários dos funcionários públicos. Os líderes alemães acreditam que um novo acordo nessas bases será uma má política econômica para a Grécia. Muitos economistas do FMI e autoridades americanas afirmam que é muito sensato. O fato é que a época para tais debates já passou. A opção para os líderes da França, Alemanha e o resto da Europa será algo assim: se tolerarem as demandas do governo grego estarão dando um mau exemplo para qualquer outro país que pretenda contestar as restrições da União Europeia, dizendo aos eleitores em Portugal, Espanha e Itália que, se fizerem bastante estardalhaço e elegerem partidos extremistas também poderão conseguir um acordo muito mais agradável. E enviaria um sinal de que um país pode tomar emprestado tudo o que desejar, deixar de pagar e exigir que o resto da Europa pague a conta. Se recusarem as demandas do governo grego e cortarem a ajuda, o sistema bancário grego entrará em colapso e o país não fará mais parte da zona do euro, oferecendo um indicativo de que a União Europeia é profundamente frágil. A Grécia poderá se aproximar mais de uma Rússia hostil. Uma democracia europeia moderna - na verdade a primeira democracia - poderá se tornar caótica e instável. E tudo isso acabará custando para o resto da Europa mais dinheiro do que muitos pacotes de ajuda generosos, à medida que o país deixar de cumprir suas obrigações completamente em vez de tentar uma reestruturação das suas dívidas. Basicamente, os líderes europeus precisam decidir se a sua frustração com a Grécia e o temor de um mau precedente são fortes o suficiente a ponto de darem um passo gigantesco na outra direção, recusando mais euros para a Grécia. Ontem os gregos foram claros: estão dispostos a arriscar uma saída do euro para evitar mais austeridade. Agora Angela Merkel e os demais líderes da Europa é que se defrontam com uma bomba-relógio e uma decisão que pode provocar uma reação em cadeia. (Tradução de Terezinha Martino).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.