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Grécia vive clima de suspense antes de plebiscito

Nas ruas e nas pesquisas, população mostra que não há definição clara do caminho que deve ser tomado pelo país em relação à UE

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

ATENAS - A poucos dias de um plebiscito que pode ser uma sinalização clara da insatisfação do país com sua posição na União Europeia, a Grécia vive em clima de suspense. Por decisão (ou indecisão) do primeiro-ministro Alexis Tsipras, caberá à população decidir se aceita ou não as condições da ajuda europeia. Vale a pena a Grécia arriscar perder a proteção de um bloco econômico poderoso para ganhar mais poder sobre seu próprio rumo? É uma pergunta difícil, que a população será forçada a responder neste domingo. As pesquisas de opinião mostram que não existe uma definição clara de qual caminho os gregos vão tomar. Antes do fechamento dos bancos, na véspera de um anunciado (e confirmado) calote em uma dívida de  1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o “não” proposto por Tsipras desfrutava de larga vantagem. A partir do momento em que experimentou uma prévia do que perder a rede de proteção da UE pode significar, o cidadão parou para pensar. 

Para o comercianteZouridakis, 'qualquer resultado será ruim' Foto: Estadão

Duas pesquisas divulgadas na quarta-feira mostraram dados diferentes. A primeira, do instituto Pro Rata, mostrou que o “não” continua em vantagem, mas em proporção menor do que antes do feriado bancário. Outra, do GPO, apontou o “sim” à frente. Mas o próprio instituto afirmou que se tratou de um levantamento feito em algumas horas e ressalvou que a opinião pública está muito volátil. Nas ruas de Atenas, o Estado entrevistou estudantes, profissionais liberais e comerciantes durante toda a tarde desta quinta-feira. Os que disseram que vão votar pelo “sim” – ou seja, aceitar as condições da ajuda impostas pela União Europeia – estão olhando pelo lado racional. É melhor uma situação ruim e conhecida do que um grande ponto de interrogação. Os partidários do “não” acreditam na força nacional para negociar um acordo melhor com a UE. Para o comerciante Napoleon Kalliris, de 50 anos, a classe política grega pensa só no próprio ego – a começar pelo premiê Tsipras. “Ele se diz de esquerda. Mas eu pertenço ao partido comunista, sou muito mais de esquerda do que ele. É um problema de ego. Agora não é hora de pensar com a emoção, mas com a razão.”  Dono de um comércio a poucos metros da loja de Kalliris, Stefanos Zouridakis, 25 anos, vê a situação de maneira simples: “Se o meu vizinho estivesse me devendo € 200 e não tivesse como pagar, uma hora minha compreensão iria acabar. É o que está acontecendo com a gente agora.” Zouridakis vai votar “sim”, mas afirma que os gregos estão em um beco sem saída: “Qualquer que seja o resultado, vai ser ruim.” Embora os dois concordem que é melhor escolher a proteção da União Europeia, sabem que o resultado do referendo de domingo não é garantido. Aliás, para encontrar uma opinião diferente, não foi preciso ir longe. Bastou atravessar a rua. O proprietário da loja de tapetes, de origem iraniana, vive há mais de uma década na Grécia. Quase não fala inglês, mas conseguiu expressar sua posição: “No”. Barulho. Do local onde os três comerciantes trabalham, era possível escutar a música do evento promovido pelo partido comunista, o KKE, na praça do Parlamento. No ápice, o protesto reuniu alguns milhares de pessoas. O comício tinha um quê de quermesse: barracas vendiam pratos tipicamente gregos, sementes da região e até livros de teoria econômica e política por € 2. O KKE tem uma nova proposta. Até sábado, quer incluir na cédula de votação uma pergunta bem clara: se os cidadãos querem ou não permanecer na União Europeia – justamente o que o primeiro-ministro e a maioria da população não querem responder (mesmo os que vão votar “não” no referendo).  Mas havia ali militantes que acreditam que todos os laços com a União Europeia devem ser cortados imediatamente. Pregam a volta do dracma e de uma Grécia iminentemente nacional. “Vou lutar pela mudança, acredito no marxismo”, disse Nasos Balaskas, 37 anos. Enquanto a revolução não vem, ele trabalha em um banco.

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