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'Greve em maio foi a pá de cal na indústria', afirma empresário

Ramiro Sanchez Palma, dono de tecelagem, diz que o cenário começou a piorar em fevereiro

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

O primeiro semestre deste ano foi difícil para o empresário Ramiro Sanchez Palma, sócio-diretor da Anfra Tecidos, uma indústria de porte médio especializada em tecidos para decoração. A expectativa inicial era repetir neste ano as vendas de 2017, mas o cenário começou a piorar em fevereiro. “A greve dos caminhoneiros em maio foi a pá de cal”, diz o empresário, que fechou o primeiro semestre com queda de até 5% no volume de negócios. 

Para ajustar a empresa à demanda menor, Palma cortou em 10% o quadro de empregados. Está investindo só em novos produtos e processos. Comprar máquinas novas nem passa pela cabeça do empresário, que convive com grande ociosidade na fábrica. Hoje ele usa 65% da capacidade total de produção.

Palma demitiu 10% dos funcionários e passou a investir em novos produtos para reverter a queda na venda Foto: JF DIORIO / ESTAD?O

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Para reverter a queda do primeiro semestre, Palma decidiu desenvolver novos produtos, já que o mercado não reage. “A receptividade foi boa, mas ainda não deu para sentir no caixa.”

A piora do cenário sentida pelo empresário ficou nítida no desempenho do PIB da indústria do segundo trimestre. O PIB industrial caiu 0,6% em relação ao trimestre anterior e teve o pior resultado comparado à agropecuária e aos serviços.

Para Rafael Cagnin, economista chefe do Iedi, o baque sofrido pela indústria no PIB não surpreende. Segundo ele, a produção física das fábricas vinha perdendo força desde o início do ano e o quadro piorou com a greve dos caminhoneiros. 

Apesar de ser um resultado previsível, o economista alerta para a gravidade do cenário. A indústria, segundo ele, é o núcleo do sistema econômico. Quando ela perde o passo e patina, tende a levar a economia como um todo para o mesmo caminho, observa. “Isso é preocupante, porque prenuncia um desempenho pífio da economia como um todo.”

O presidente em exercício da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, também está preocupado com a queda da indústria no PIB. “A indústria é a mola propulsora do crescimento”, diz. Na sua opinião, a estagnação da indústria e do PIB está relacionada com a forte incerteza gerada pela indefinição do cenário eleitoral. O ponto de virada para a volta do investimento e do crescimento virá com o resultado das eleições, prevê. Mesmo assim, até a definição do programa do novo governo, a economia, diz Coelho, deve ficar estagnada e voltar a crescer no 2.º semestre de 2019.

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O gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, faz coro com Cagnin e Coelho. “Para desatar o nó da economia brasileira é preciso desatar o nó eleitoral”, diz.

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