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Às vésperas de assembleia de credores, Odebrecht troca comando do grupo

Em recuperação judicial, conglomerado baiano decidiu colocar Ruy Sampaio no lugar de Luciano Guidolin

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

Às vésperas da assembleia de credores, marcada para quinta-feira, a Odebrecht anunciou a troca do comando do conglomerado. O executivo Luciano Guidolin, na presidência do grupo baiano desde maio de 2017, será substituído por Ruy Sampaio, que deixará a presidência do conselho de administração da companhia. Homem de confiança de Emílio Odebrecht, filho do fundador do grupo baiano, Sampaio, de 69 anos, terá um papel mais institucional no conglomerado, que está em recuperação judicial desde junho com dívidas declaradas de R$ 55 bilhões.

A saída de Guidolin já estava sendo tratada há algumas semanas – ele assumiu o comando do grupo no lugar de Newton de Souza, também braço direito de Emílio. Souza havia assumido o comando da Odebrecht quando Marcelo Odebrecht foi preso em junho de 2015, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa na Operação Lava Jato.

Grupo Odebrecht tem dívidas declaradas de R$ 55 bilhões Foto: Estadão

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A troca de comando em um dos piores momentos financeiros da companhia expõe uma fratura no grupo, fundado em 1944 pelo engenheiro Norberto Odebrecht. Emílio e Marcelo Odebrecht, pai e filho, cortaram relações. Sampaio ter a missões de frear as investidas de Marcelo, que, apesar de estar proibido pela Justiça de exercer funções executivas, desde setembro, vai quase todo dia à sede do grupo. Nos bastidores, a aposta é que a proximidade entre Sampaio e Emílio dê margem para conflitos entre o executivo e Marcelo Odebrecht.

As visitas de Marcelo têm gerado desconforto à família, segundo três fontes ouvidas pelo Estado. Em setembro, Marcelo obteve autorização para voltar a visitar a sede. Uma fonte afirma que o empresário passa a maior parte do tempo com a equipe de conformidade (compliance) da companhia, alimentando informações que possam virar potenciais alvos de denúncias da Lava Jato.

Quando assumiu o grupo, em maio de 2017, a principal tarefa de Guidolin era preservar a empresa da briga da família. Agora, permanecerá no grupo como conselheiro. 

O Estado apurou que Sampaio não deverá ficar muito tempo no cargo – nos próximos meses, o grupo tentará buscar, em seus quadros, um novo executivo para assumir o cargo.  Em família. Irmão de Marcelo, Maurício Odebrecht está sendo preparado para assumir um papel mais importante na Kieppe, holding da família que controla Odebrecht. Ele já faz parte do conselho do grupo desde 2017 e tem o apoio do pai e da irmã, Monica, segundo fontes. 

Maurício era responsável pela gestão de outros negócios da família, como propriedades agrícolas. Maurício não atuará como executivo do grupo, mas será o braço direito de seu pai na holding.  Fontes ouvidas pela reportagem acreditam que um presidente executivo no atual momento não terá muita voz de comando no grupo. Em recuperação judicial, a companhia depende das decisões dos credores da empresa, que buscam liquidez com a venda dos principais ativos da companhia.

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A principal geradora de receita para o grupo, a petroquímica Braskem, está à venda. A companhia, que quase foi negociada para o grupo holandês LyondellBasel, também trocou o comando recentemente e fez pesados cortes em seus quadros.

Além disso, a Braskem enfrenta uma crise ambiental em Alagoas e é prejudicada pelo ciclo de baixa de preços da matéria-prima petroquímica. Isso dificultará uma negociação nos próximos meses. A Petrobrás também é sócia da Braskem. 

Ao mesmo tempo, a Odebrecht tenta vender outras empresas, como a Atvos, de açúcar e álcool, e a Ocyan, de óleo e gás.  Em nota, a companhia confirmou a troca de comando. José Mauro Cunha, que atuava como conselheiro, assume a presidência do colegiado. O conselho de cinco membro deixará por ora uma vaga em aberto.

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