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Guedes diz que governo pode liberar saques do FGTS para pagamento de dívidas

Sem dar detalhes, ministro afirmou nesta quinta que pode liberar os saques até o fim do ano; medida seria uma tentativa de estimular a economia

Foto do author Lorenna Rodrigues
Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Lorenna Rodrigues (Broadcast), Eduardo Rodrigues e Guilherme Pimenta
Atualização:

BRASÍLIA - Com a aproximação das eleições e encurralado pela ala política, que pressiona por medidas para aumentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deve autorizar novos saques de recursos pelos trabalhadores de suas contas do FGTS. Ação semelhante foi autorizada no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) e ampliada pela atual administração – medidas anteriores já liberaram a retirada de quase R$ 100 bilhões do fundo de garantia.

Guedes afirmou nesta terça-feira, 22,que o governo federal pode liberar, até o fim do ano, recursos do fundo de garantia para que as pessoas paguem dívidas. “São pessoas que têm recursos lá e que estão passando por dificuldades. Às vezes, o cara está devendo dinheiro no banco e está credor no FGTS. Por que não pode sacar essa conta e liquidar a dívida dele do outro lado?", disse, sem dar mais detalhes, em fala durante um evento do BTG Pactual ao citar medidas que podem ser tomadas pelo Ministério da Economia até o fim deste ano.

Paulo Guedes, ministro da Economia; FGTS tem sido buscado como fonte de recursos para programas de sustentação do consumo Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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Na pasta econômica, o tema é tratado no âmbito da Secretaria de Política Econômica (SPE) e, segundo fontes do ministério, ainda está em maturação dentro da pasta. Um dos idealizadores é o atual assessor especial de Assuntos Estratégicos do ministério, Adolfo Sachsida, ex-chefe da SPE, que elaborou no atual governo as medidas de saques do FGTS para estimular a economia. 

A intenção de liberar recursos das contas do FGTS acendeu o alerta no setor da construção civil, que tem nesses saldos uma das principais fontes de financiamento para o financiamento à construção e aquisição de imóveis. 

Sem ainda conhecer os detalhes das novas medidas, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, alertou para a necessidade de preservar a sustentabilidade do fundo. 

"Achamos que essa medida vai no sentido contrário ao que interessa ao País. O FGTS não é complemento de renda, mas sim funding para investimento e geração de bem estar, emprego e renda", avaliou o executivo. 

Histórico

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Nos últimos anos, o FGTS tem sido buscado como fonte de recursos para programas de sustentação do consumo sempre que as projeções apontam para uma atividade econômica em declínio. Foi assim na saída da crise de 2015 e 2016, quando o ex-presidente Michel Temer editou uma medida provisória que liberou R$ 44 bilhões das contas inativas do fundo ao longo de 2017.

Em 2019, o governo Bolsonaro expandiu a medida e autorizou o saque imediato também de recursos de contas ativas, o que injetou R$ 27,9 bilhões na economia entre o fim daquele ano e março de 2020. O saque era limitado a R$ 500 em cada conta ativa ou inativa, mas quem detinha saldo de até um salário mínimo da época pôde sacar um limite de R$ 998.

Ainda em 2020, no auge da pandemia, o governo adotou uma medida semelhante que liberou o pagamento do saque emergencial do FGTS para estimular a economia, limitado a uma parcela de R$ 1.045 por trabalhador, equivalente ao salário mínimo daquele ano. A Caixa chegou a creditar R$ 36,5 bilhões nas contas dos trabalhadores, mas R$ 12,3 bilhões não foram movimentados e retornaram ao FGTS.

Ao mesmo tempo - e não sem resistências do setor da construção civil - o governo criou o saque aniversário do FGTS, que desde então permite aos cotistas a retirada de um valor todos os anos no mês de nascimento. O saque anual é proporcional ao saldo das contas - com limites de 50% (para saldos pequenos) a 5% (para saldos acima de R$ 20.000) - justamente para evitar um esvaziamento do fundo. 

Entre abril de 2020 e dezembro de 2021, quase 18 milhões de trabalhadores aderiram ao saque-aniversário e resgataram R$ 21,1 bilhões do FGTS. Os trabalhadores que optaram pela modalidade também passaram a contar com produtos financeiros oferecidos pelos bancos em linhas com juros baixos que já poderiam ser usados para o pagamento de dívidas. 

Na Caixa Econômica Federal, é possível antecipar até três saques anuais no consignado do FGTS, mas existem financeiras que oferecem a retirada antecipada de até 12 parcelas anuais. 

Dívidas

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De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo Banco Central, o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro chegou a recorde histórico de 51,2% da Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF) em outubro do ano passado. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 31,9% naquele mês. 

A metodologia do BC considera a Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF) restrita, incluindo inclusive recursos recebidos extraordinariamente pelas famílias, como o saque emergencial do FGTS e o auxílio emergencial. A fórmula desconsidera rendas de aluguéis, rendas distribuídas das empresas para as famílias e rendas de investimentos.

Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com os bancos atingiu 27,9% em outubro, ante 27,1% em setembro. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 25,6% no décimo mês de 2021, ante 24,9% em setembro.

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