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Após Guedes criticar IFI, Salto rebate: ministro não sabe conviver com órgão independente

Diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) disse que o ministro deveria 'ouvir' os críticos e análises para construir um programa para o País ter um horizonte de crescimento

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Alvo de ataque público do ministro da Economia, Paulo Guedes, o diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, reagiu às críticas com um recado direto para o ministro e sua equipe: a preocupação, no cenário atual de colapso na saúde e crise econômica, deveria ser “ouvir” os críticos e análises para construir um programa para o País ter um horizonte de crescimento.

Ao Estadão, Salto disse que o ataque institucional de Guedes à IFI revela uma preocupante intolerância ao contraditório numa democracia. Segundo ele, a IFI“não foi, não é e nunca será linha auxiliar do governo e de quem quer que seja”.“O que me preocupa e espanta é que o ministro da Economia Paulo Guedes ainda não tenha ainda aprendido a conviver com a existência de um órgão técnico, independente e que faz as suas análises e projeções”, reagiu Salto. 

O economista Felipe Salto, diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI). Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Nesta quinta-feira, Guedes expôs publicamente um incômodo que já vinha manifestando reservadamente contra os relatórios da IFI e também as manifestações públicas do seu diretor executivo. O ministro aproveitou a audiência no Senado, ao qual a IFI é vinculada, para colocar aos senadores a sua contrariedade.

As críticas resultaram, porém, numa série de manifestações de apoio ao trabalho da IFI. Apesar da pressão de Guedes, Salto e mais dois diretores não podem ser demitidos porque têm mandato fixo.

Na audiência, ao ser questionado sobre a previsão da entidade sobre a atividade econômica deste ano, Guedes afirmou que a IFI tem "trabalhado muito mal", com "previsões muito fracas", e provocou o Senado a repensar o comando da instituição, o que, na prática, não poderá ser feito.

A gota d'água do descontentamento do ministro foi atabela do último relatório da IFI mostrando o efeito do lockdown no Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, a relação entre crescimento e combate à crise na ausência de vacinação. O relatório mostrou que, quanto mais a vacinação demora, por mais tempo será preciso ter medidas de restrição, que prejudicam o resultado o PIB.

Para Salto, os assessores do ministro não o informaram bem a respeito das análises da IFI. “A reação é muito desproporcional, porque o País vive uma situação de colapso na área de saúde”, avaliou. Para ele, a vacinação também depende também depende do Ministério da Economia. 

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A IFI foi criada há quatro anos e meio para acompanhar as contas públicas na esteira dos problemas que levaram às manobras fiscais do governo Dilma Rousseff. Foi inspirada em órgãos semelhantes que existem nos Estados Unidos e no Reino Unido e em muitos outros países.

O conselho diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado publicou nota técnica rebatendo as criticas de Guedes. Segundo a nota, os comentários feitos pelo ministro sobre as projeções da IFI para o PIB não são condizentes com a análise contida no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) da entidade de março.

A IFI ressalta que não projetou recessão para o ano de 2021, como sugeriu o ministro, e rebate ponto a ponto as críticas apresentadas por Guedes. “Mostra-se apenas que medidas de restrição, no âmbito do combate à pandemia, geram efeitos negativos sobre a projeção de 3% de crescimento econômico”, diz.  Como exemplo, a IFI diz que a análise mostra que a necessidade de isolamento e/ou de medidas afeitas ao chamado “lockdown”, por quatro semanas, para 50% dos setores de produção, levaria a uma redução de 1 ponto porcentual no crescimento previsto para 2021.

A IFI ressalta que são simulações, que podem ser tecnicamente questionadas. Para isso, a IFI se colocouà disposição do governo para discuti-las. Os trabalhos da IFI são citados, em média, duas vezes ao dia, pelos principais veículos da imprensa nacional. A nota diz queOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mercado, os parlamentares, os técnicos do governo, a academia e os economistas em geral reconhecem o trabalho produzido pela instituição.

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