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Guerra comercial teria impacto por pelo menos cinco anos para PIB brasileiro

Conclusão é do relatório anual da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento; em cinco anos, poderia haver deterioração salarial de 2,2% no mundo

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - Longe das esperanças de certos setores brasileiros, as primeiras projeções da ONU alertam que o País perderia com a guerra comercial por pelo menos cinco anos. A taxa de crescimento do PIB, exportações, investimentos e até salários sofreriam e, no cenário global, ninguém sairia como vencedor. Nem mesmo o governo americano de Donald Trump. 

Crescimento do PIB, exportações, investimentos e até salários sofreriam com guerra comercial Foto: JOHANNES EISELE | AFP

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As conclusões fazem parte do relatório anual da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento. Em cinco anos, a perda acumulada por conta da guerra comercial para o crescimento do PIB brasileiro será de 1,1 pontos percentuais. Já as exportações crescerão em cinco anos 4,9 pontos percentuais a menos por conta da tensão. As perdas para o crescimento mundial seriam de 2,7%.

No que se refere aos investimentos privados no mundo, a perda seria de 5%, contra uma queda de 2,5% no consumo. O fluxo do comércio, que numa situação normal teria uma expansão de 3,8% em 2023, seria reduzido para 3,2% de aumento em cinco anos. No total acumulado, a perda seria de 4,6%.

“Uma guerra comercial minaria o crescimento, a distribuição de renda e emprego em todos os países, ainda que aqueles mais envolvidos com a elevação de tarifas sejam os mais afetados”, destacou a gania da ONU.

Ainda que as tarifas afetem setores específicos, o que a agência da ONU alerta é para o impacto desse movimento na demanda agregada, o que amplificaria os problemas. “Para todos os países, qualquer enfraquecimento da demanda agregada nos países ricos, levadas por uma batalha de tarifas, combinado com compressão de salários, austeridade fiscal e factores relacionados com a falta de investimentos, poderia levar a outra crise global ou, pelo menos, a uma forte deterioração das condições macroeconômicas, com governos e anos centrais tendo menos espaço para intervir que em crises anteriores”, alertou.

O Brasil, porém, se encaixaria entre os cinco países considerados como vulneráveis, ao lado de Turquia, Indonésia, África do Sul e Argentina.

Em cinco anos, a perda acumulada do PIB desses cinco emergentes seria de 1,5%. Em 2023, no lugar de apresentar uma taxa de expansão de 3,2%, o crescimento seria de 2,9%.Os investimentos sofreriam, com uma perda de 2,1% até 2023. O consumo privado deixaria de crescer em 1%, enquanto os salários sofreriam uma perda de 0,3%.

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A expansão das exportações também seria afetada. No lugar de uma expansão de 4,8% em 2023, o grupo veria um aumento de 4,2%. No acumulado, a perda seria de 4,1%.

O Brasil sofreria e, mesmo em 2023, continuaria a ver seu PIB afetado negativamente em 0,2 pontos percentuais por conta da guerra comercial. As exportações, ao final de cinco anos, também seriam afetadas e a expansão seria reduzida em 0,22 pontos percentuais.

O impacto no Brasil ocorreria por conta da sua vulnerabilidade diante do mercado externo e dos riscos de uma forte flutuação cambial. Nos últimos dez anos, a Unctad estima que o Brasil não registrou uma recuperação comercial diante de limitações estruturais.

Na China, maior visada pelas barreiras, estaria entre as mais afetadas. A proliferação de barreiras geraria uma perda acumulada do PIB até 2023 de 3,9%, contra uma queda de 2,4% na taxa de exportação.

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Mas a agência da ONU estima que Pequim teria capacidade de recuperar parte das perdas. “A China conseguiria reconquistar a maior parte de sua posição externa depois de quatro anos, resultado de um ajuste em sua moeda e a manutenção de sua estrutura comercial com outros parceiros fora da guerra comercial”, avaliou. De acordo com o estudo, os dados chineses mostram que sempre que o país sofre uma queda nas vendas a um determinado parceiro, ela responde com ajustes.

Mas mesmo os americanos seriam, no longo prazo, afetados pela guerra comercial. Nos EUA, a perda acumulada do PIB seria de 2,5% em cinco anos, além de 4,8% das exportações até 2023.

Em 2019, o governo Trump poderia ter uma receita de US$ 280 bilhões com a imposição de tarifas e transferir às empresas americanas US$ 181 bilhões pelas tarifas pagas no Canadá, China, Japão, Coreia e Europa. “O governo americano ganharia US$ 99 bilhões em receita que poderia usar para reduzir seu déficit e dívida”, aponta.

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Uma queda no déficit de conta corrente, portanto, poderia ser gerado nos EUA, enquanto China e outros teriam uma redução de seu superávit. Mas haveria uma desaceleração das exportações americanas como responsa às mudanças na demanda global. Haveria, portanto, um “choque para distribuição, consumo e investimentos no nível global”, constatou.

Assim, no lugar de crescer em 2,2% em 2023, o PIB americano teria uma expansão de 1,8%. Investimentos globais ainda cairiam em 1% por ano até 2023.