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Guerra e petróleo podem afetar transição no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Se não bastassem a recuperação cambaleante da economia americana e as incertezas provocadas pela campanha eleitoral no Brasil, que elevaram o risco país para o nível entre 1.500 e 2.000 pontos, a perspectiva de uma invasão americana do Iraque pode complicar ainda mais o cenário da transição de governo. A alta do petróleo pode trazer problemas na balança comercial e na inflação no Brasil, mas o maior risco é que os Estados Unidos entrem em recessão e arrastem o mundo. Neste caso, o estrangulamento do financiamento externo, vivido atualmente pelo Brasil, pode se intensificar, levando a economia a ter em 2003 um desempenho econômico ainda pior do que o deste ano. Os tambores de guerra já estão rufando nos Estados Unidos, pelas mãos da ala mais agressivamente conservadora do governo de George W. Bush. Ninguém afirma com certeza absoluta que haverá guerra, mas não há dúvida de que a probabilidade é alta. Havendo guerra, é quase consenso que o Brasil será muito afetado. "Uma ação militar, caso aconteça, terá conseqüências econômicas muito intensas para países em desenvolvimento, como o Brasil", diz o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa. A variável básica é o preço do petróleo, que vem subindo com a possibilidade de guerra. O barril do petróleo Brent subiu de US$ 25,06, em 9 de agosto, para US$ 28,29 (na sexta-feira), atingindo o nível mais alto desde outubro do ano passado. As previsões são de que, em caso de guerra, o barril do petróleo possa subir bem mais. No extremo do pessimismo, há estimativas de que poderia atingir US$ 50. David Zylbersztajn, ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e consultor em assuntos de energia, acha essa estimativa exagerada. "Jamais compraria um contrato futuro a US$ 50, ou mesmo a US$ 40; nem a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) tem interesse nisso, já que existe um equilíbrio com os preços atuais", diz Zylbersztajn. A desvantagem de um preço muito alto para a Opep é que pode jogar o mundo na recessão, o que acabaria levando o barril para muito abaixo do nível atual. O preço alto também estimula a exploração de reservas caras, fora da Opep, e a substituição do petróleo por outras fontes de energia. A própria Opep vem dando sinais, às vezes um pouco ambíguos, de que pode aumentar a produção para manter o barril na faixa entre US$ 22 e US$ 28. O problema, porém, é que o barril não precisa passar de US$ 40 para causar sérios problemas à economia global. As quatro últimas recessões americanas coincidiram com (ou se seguiram a) períodos em que o preço do barril estava por volta de US$ 30, nível muito próximo do atual. Qualquer alta, portanto, pode ser fatal quando os Estados Unidos lutam para não cair numa segunda recessão em um ano. A alta do preço do petróleo afetaria o Brasil de diversas formas, dependendo do que ela provocar nos Estados Unidos e no mundo. O barril mais caro, se for repassado internamente, tem um impacto negativo na inflação. Por outro lado, pode ajudar no lado fiscal, ao aumentar o lucro da Petrobrás. Efeito colateral - Na balança comercial, os petróleos e derivados levaram a um déficit comercial de US$ 2,2 bilhões até julho. O economista-chefe do CS First Boston no Brasil, Rodrigo Azevedo, trabalha com uma estimativa de que cada aumento de US$ 1 no barril, sustentado durante um ano, leva o saldo comercial brasileiro a diminuir em US$ 200 milhões. É claro que qualquer alta atrapalha, mas o petróleo teria que subir muito, e ficar por muito tempo no novo nível, para provocar um impacto comercial devastador. O pior efeito colateral potencial de uma invasão ao Iraque é o que viria de uma recessão nos Estados Unidos, que possivelmente levaria a uma recessão global. Isso ocorreria se a guerra se mostrasse prolongada e difícil, e provocasse uma onda de turbulência no Oriente Médio e na Ásia - hipótese considerada provável por muitos analistas. Além de reduzir as exportações do Brasil, uma recessão americana e global poderia aumentar a aversão a risco já presente nos mercados financeiros globais. O financiamento externo do Brasil em 2003, nesse caso, seria ainda mais difícil. "Nessa situação, o novo governo teria que se colar ainda mais no apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional) para fechar o balanço de pagamento, com uma política mais conservadora, o que impediria a retomada da economia e do gasto social", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank no Brasil.

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