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Guerra na Ucrânia paralisa abertura de capital de empresas na Bolsa em NY e no Brasil

EUA ficaram seis semanas sem aberturas de capital relevantes; no Brasil, a expectativa é de que voltem só em 2023

Foto do author Aline Bronzati
Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Aline Bronzati (Broadcast) e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

A invasão russa à Ucrânia causou uma paradeira geral no mercado global de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), agravando um cenário já desafiador, marcado por inflação e aumento de juros pelos bancos centrais. Diante da elevada volatilidade e aversão a risco por parte dos investidores, os Estados Unidos bateram seis semanas sem aberturas de capital relevantes. Na Europa, as ofertas pararam e no Brasil, a expectativa é de que voltem só em 2023.

As empresas que precisam se financiar estão sendo forçadas a buscar alguma alternativa de captação, como no mercado de dívida. Já aquelas sem necessidade imediata de recursos se debruçam no preparo de suas ofertas iniciais de ações, caso da marca de lingerie da cantora popstar Rihanna, que quer colocar os pés em Wall Street, valendo US$ 3 bilhões, ainda neste ano. 

Guerra na Ucrânia causou paradeira geral no mercado global de ofertas iniciais de ações;seca de IPOs soma sete meses sem ofertas na B3, a bolsa de valores de SP. Foto: Amanda Perobelli/Reuters - 28/10/2021

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No mundo, o número de ofertas de ações sofreu uma queda de 54% neste ano até o momento em relação ao mesmo período de 2021, como reflexo da guerra. Se considerado o volume emitido, o impacto foi ainda maior, com um tombo de 69%, conforme dados da consultoria americana Dealogic. O reflexo é espraiado pelo universo corporativo. O setor de tecnologia, que levantou US$ 40 bilhões nos três primeiros meses de 2021 no mercado mundial, captou só US$ 9 bilhões até agora.

"A questão acaba por ser o impacto no cenário macro global da guerra em um ambiente que já era desafiador. Todas as ofertas primárias diminuíram", diz um banqueiro de investimentos.

A guerra na Ucrânia desencadeou a piora mais disseminada na confiança de empresários e investidores desde o pico da pandemia, avalia o economista Jamie Thompson, da Oxford Economics. Os agentes ficaram muito mais pessimistas com as perspectivas para a economia mundial e a inflação. A maioria deles vê os riscos à atividade pendendo para a piora do cenário. Nesse ambiente, fica mais difícil apostar em ativos com comportamento mais incerto, como as ações, e o investidor pede desconto que os donos das empresas não querem dar.

Por isso, até na Índia, os IPOs estão em risco. A estatal de seguros Life Insurance Corporation (LIC) pode ter que postergar o que será a maior oferta inicial já feita no país. Algumas transações menores que aguardavam a da LIC para irem ao mercado também podem ir para a gaveta. Na Europa, operações em preparação como a da Nucera, subsidiária de hidrogênio da gigante Thyssenkrupp AG, devem ser afetadas. "O maior inimigo dos IPOs é a volatilidade e ela disparou com a guerra", afirma o diretor de um banco estrangeiro.

Se, na bonança, Wall Street atrai o maior número de empresas do mundo, na seca, o mercado norte-americano também é o mais prejudicado. A quantidade de ofertas de ações nos EUA caiu 69% neste ano até agora frente o mesmo intervalo de 2021. Em volume, a cifra desabou 88%, conforme a Dealogic.

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Colocar uma oferta no mercado estava difícil por conta da perspectiva de elevação de juros, com a guerra, o cenário fica ainda mais desafiador uma vez que a sinalização é de juros ainda mais altos. O Goldman Sachs alterou sua perspectiva e já vê duas altas de 50 pontos-base em maio e junho e mais quatro de 25 pontos ainda este ano nos EUA, além de outras três em 2023.

Assim, Wall Street entrou na sétima semana sem grandes IPOs, a maior seca desde meados de 2017. Com a guerra, nenhum segmento empresarial conseguiu ampliar a captação de recursos nos EUA frente ao ano passado, observa Camila Machado, do time de equity capital markets syndicate do Bradesco BBI.

Bancos 

A paradeira atingiu em cheio as receitas dos grandes bancos de investimentos nos Estados Unidos, que deixaram de arrecadar bilhões de dólares por conta da guerra. Até o momento, os pesos pesados de Wall Street Morgan Stanley, JPMorgan Chase, Bank of America, Goldman Sachs e Citigroup acumularam US$ 645 milhões com comissões de ofertas de ações neste ano contra US$ 5,3 bilhões de 2021, segundo o britânico "Financial Times", utilizando-se de dados da Dealogic.

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No Brasil, a seca de IPOs soma sete meses sem ofertas na B3. Desde meados de agosto não há novas operações - exceção ao Nubank, que abriu o capital em Nova York, em oferta simultânea no mercado brasileiro. Só este ano, 25 empresas desistiram de abrir o capital e a lista pode ganhar novos nomes. Há somente seis IPOs em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), das quais duas estão suspensas.

Nesse ambiente, houve uma queda 67% em número de IPOs este ano na comparação com o mesmo período de 2021 e uma retração de 64% em termos de volume, segundo dados da Dealogic. No começo de 2021, foram precificados 15 IPOs no Brasil.

Os banqueiros estão céticos com a retomada dos IPOs. Futuras ofertas, porém, começam a ser desenhadas a despeito da falta de janela para irem a mercado. É o caso da marca de lingerie da cantora Rihanna, a Savage X Fenty. A operação, que tem Morgan Stanley e Goldman Sachs como assessores, movimentou o noticiário internacional nas últimas semanas. A marca de lingerie quer ser avaliada em mais de US$ 3 bilhões no mercado norte-americano, ancorada, sobretudo, na popstar Rihanna. 

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