Com guerra, governo vê mudança de foco na OCDE e busca aproveitar oportunidade energética

Brasil luta para fazer parte da entidade e tem a questão da sustentabilidade como um dos principais entraves; com crise energética global, País pode deixar de ser vilão e ser considerado solução para a questão ambiental

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Por Célia Froufe
2 min de leitura

BRASÍLIA - A invasão da Ucrânia pela Rússia expôs a dependência energética europeia e fez os membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) discutirem mais sobre alternativas para os países serem mais autônomos ao mesmo tempo em que procuram soluções para as questões climáticas. Nesse ambiente, o Brasil, que luta para fazer parte da entidade tendo justamente a questão da sustentabilidade como um dos principais entraves, pode buscar um filão de negócios e simultaneamente tentar limpar a imagem ambiental no exterior.

A avaliação de que o Brasil pode deixar de ser visto como um vilão e passar a ser considerado uma solução para a questão ambiental foi bem costurada por dois ministros que estiveram na sede da entidade multilateral na França esta semana: o do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e o da Economia, Paulo Guedes. Os dois se encontraram em reuniões de almoço e jantar em Paris nos últimos dias e afinaram o discurso. 

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Joaquim Leite;'Brasil foi primeiro a sair de uma promessa [na COP26] para uma ação concreta', diz Leite, em referência ao mercado de crédito de metano. Foto: Yves Herman/Reuters

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, Leite relatou que a questão geopolítica fez mudar a avaliação dos membros da OCDE sobre meio ambiente. “O que mudou muito nesta agenda deste ano foi a crise energética global, sobre como encontrar fornecedores de longo prazo. Foi uma mudança geopolítica muito importante e o assunto do encontro foi praticamente energia renovável”, resumiu a respeito das discussões durante a reunião ministerial.

O ministro disse que aproveitou o momento para anunciar o início do mercado de crédito de metano no Brasil, adiantado pelo Estadão/Broadcast. O tema foi um dos mais debatidos durante a COP 26 realizada em novembro do ano passado em Glasgow, na Escócia. “Percebi que houve mudança de tratamento com o Brasil e não houve os questionamentos habituais sobre a Amazônia. Eu disse na plenária: vocês prometeram (na COP) e eu executei”, descreveu. “O Brasil foi primeiro a sair de uma promessa para uma ação concreta”, continuou.

Além do Brasil, outros cinco países (Peru, Argentina, Croácia, Romênia e Bulgária) também pleiteiam uma vaga na OCDE, mas a maior economia da América Latina é a mais avançada em termos de aderência aos instrumentos da Organização, tendo obtido aval a 105 dos 251 exigidos. Se na área técnica, mudanças tributárias são vistas como o maior obstáculo para o País, no campo político é o meio ambiente que é a pedra no sapato da adesão.

Para Leite, no entanto, apesar de ser um grupo volumoso de objetivos a serem conquistados, não há nenhum ponto que seja crucial para a entrada do Brasil na OCDE. Segundo ele, em conversa privada com o secretário-geral da Organização, Mathias Cormann, o australiano indicou que esta deve ser a participação do Brasil para o grupo: de se colocar como uma saída para os problemas de energia no globo. 

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