PUBLICIDADE

Gustavo Franco entra na polêmica com Alencar

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, decidiu entrar na polêmica sobre a taxa de juros e o câmbio. Em entrevista ao programa Conta Corrente, da Globo News, ele foi contra o vice José de Alencar, que ontem voltou a carregar nas tintas em suas críticas aos rumos imprimidos ao País pela equipe do ministro Antônio Palocci, quando afirmou que a taxa de juros deve ser uma decisão política e não técnica. E, em relação ao câmbio, Franco foi enfático: o real continua depreciado e a continuidade da queda do dólar é uma boa receita para baixar a inflação. Para o ex-BC, o debate que vem sendo travado em relação à taxa de juros não ajuda. Serve apenas para enfraquecer o governo em seu conjunto, junto aos investidores e ao mercado financeiro, passando a impressão de uma falta de unidade de pensamento e de política na equipe de Lula. "À distância, me parece que - posso estar sendo otimista - pode estar havendo um plano onde há apenas uma improvisação." De qualquer forma, Franco diz que a adoção de medidas menos populares é o caminho correto para preparar o terreno para uma segunda metade do governo, mais solta e com mais crescimento. "Para isso, é preciso fazer umas tantas coisas agora para arrumar a casa", pregou. Dualidade Segundo Gustavo Franco, a ansiedade que está havendo em torno da taxa de juros por parte de várias pessoas do governo, "especialmente do vice-presidente", pode dar a idéia de que não existe plano nenhum, "que são apenas dois pedaços, cada um pensando de uma forma e agindo independentemente, produzindo por ora um resultado favorável. Mas, amanhã, a outra banda do governo pode prevalecer sobre a turma do ministro Palocci, e aí teremos políticas inconsistentes." Defesa do BC Franco saiu em defesa da atuação do Banco Central na questão dos juros, e aproveitou para rebater as declarações do vice José Alencar. "O Banco Central tem profissionais que foram treinados a vida inteira para formular esse tipo de julgamento. Normalmente são pessoas que estudaram a vida inteira. Está errado, redondamente errado, o vice-presidente quando diz que aquilo é uma decisão política. Não é, não. Aquilo é coisa para profissional. Foi gente que estudou e está lá porque estudou e porque sabe fazer, sabe exercer aquela profissão. E ele não sabe. Ele pode ser um bom vice-presidente. Mas o Banco Central é coisa para profissional." Excesso de palpites Para Gustavo Franco, as declarações de Alencar podem dar a idéia de que ele não está falando sozinho, já que outros membros do governo também vêm se manifestando a respeito do assunto. "Enfim, tem gente que pensa como ele. Mas o que importa é que o presidente e os diretores do Banco Central são os responsáveis pela decisão." Acrescentou que, apesar disso, o mercado financeiro e os investidores não gostam de constatar que o governo não tem um pensamento único sobre o assunto, mas vários. "Isso não é bom." Taxa de câmbio O ex-presidente do Banco Central também opinou sobre a taxa de câmbio. Considerou que a valorização do real em relação ao dólar é saudável, mesmo que tenha reflexos menos favoráveis sobre as exportações. "Uma coisa é a rolagem da dívida, coisa que o Brasil se acostumou ao longo dos anos, sem problemas. A algum preço o governo sempre consegue rolar seus compromissos. A discussão (agora) é diferente. É saber que percentual da dívida pública deve ser vendida a brasileiros com indexação cambial. O tamanho dessa dívida indexada afeta muito a taxa de câmbio. Se o governo resolver diminuir esse percentual muito sensivelmente vai chutar a taxa de câmbio para cima, sendo portanto uma forma indireta de intervenção no mercado de câmbio. É o que governo poderá fazer, quando quiser, pois (o instrumento) está à sua disposição. Hoje, esse percentual é relativamente elevado para os padrões históricos. Reduzir não será problema, se for necessário colocar o câmbio para cima." Dólar e inflação Contudo, Gustavo Franco ajuntou: "Eu discordo um tanto desse medo que se tem e que vejo comumente aí veiculado, de que a taxa de câmbio está caindo para um valor muito baixo. Acabamos de ver a notícia sobre o superávit comercial histórico. A taxa de câmbio ainda está num valor extraordinariamente elevado, por qualquer padrão histórico que se tem em mente. Portanto, não há que se ter medo de a taxa de câmbio cair. E, ao cair, seguramente vai dar no capítulo da inflação e, portanto, vai ajudar a cair os juros mais rapidamente. O câmbio tem lá o seu papel a fazer do ponto de vista do combate à inflação. No passado, esse instrumento foi utilizado com muito mais intensidade e com sucesso. Não vejo porque não possa ser utilizado agora também. Se a taxa de câmbio derreter, isso traz a inflação para baixo." Veja, nos links abaixo, as principais notícias de ontem sobre o fogo cruzado no governo Lula sobre os juros.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.