A inflação voltou e, pior, parece que está ganhando a eleição. Lamentavelmente, esse é o enredo do 28.º aniversário do Plano Real, que ocorre dia 1.º de julho, na próxima sexta-feira.
Você que está apavorado, como eu, com 11,73% (pelo IPCA) acumulados nos últimos 12 meses (até maio) saiba que, em junho de 1994, último mês de vida do cruzeiro real, nosso oitavo padrão monetário desde a Independência, a variação do IPCA no mês foi de 47,43% – ou 10.455% anualizados.
Nesse nível, a inflação acumulava 11,73% a cada 8 dias, 13 horas e 40 minutos.
Era a cracolândia em matéria de moeda, de onde saímos depois de muito esforço.
Muita gente não lembra e não sabe do que se trata, como boa parte das pessoas com menos de 45 anos em 2022, que eram menores de idade em 1994. Pior: muita gente mais velha, malandramente, finge que não está vendo. Há muito negacionismo no ar, à direita e à esquerda, e também no centro.
É importante festejar cada dia que passamos sem o flagelo, mas sem perder de vista que não se sabe quanto dessa mesma substância é suficiente para provocar uma recidiva.
O que poderá determinar o descontrole?
Além de fatores fundamentais como o caos fiscal e a instabilidade política, há marcadores importantes como o encurtamento de prazos contratuais, o isolamento do BC e popularidade de ideias heterodoxas, sobretudo sobre combustíveis, que funcionam como o movimento antivax para a volta do sarampo.
Outro indicador muito importante é a postura das autoridades: a hiperinflação costuma acontecer exatamente quando elas parecem mais preocupadas com a “narrativa” do que em resolver o problema, como é típico das épocas de eleição.
Muitas vezes, todavia, a “administração da narrativa” pode ser feita de maneira inofensiva, limitando-se a liderança a esbravejar contra os “vilões” da carestia.
Reza a lenda que certos líderes políticos, no passado, eram capazes de jogar uma cadeira em quem lhes levasse a notícia sobre aumento de gasolina ou eletricidade. Ou de atirar o próprio mensageiro pelas janelas.
Puro teatro, é claro, mas servia aos propósitos do marketing eleitoral e não interferia em nada de importante. Mas nem sempre foi o caso.
Dilma Rousseff, de fato, segurou (abrasileirou?) os preços públicos, assim criando a “nova matriz”, um desastre. Teria sido melhor limitar-se ao teatro.
Jair Bolsonaro fala da Petrobras como se fosse possível ignorar o mercado internacional de petróleo e como se não fosse o acionista controlador. Por ora, felizmente, limitou-se a jogar cadeiras e demitir o mensageiro.
* EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA RIO BRAVO INVESTIMENTOS