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''Há espaço para reduzir o juro para 10% ou 11%''

Economista diz que cenário para o Brasil em 2009 é difícil e crescimento do PIB não deve ser maior que 1,8%

Por Leandro Mode
Atualização:

O professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, avalia que a decisão do Banco Central (BC) é adequada, pois o cenário para o País em 2009 é difícil. "Vamos crescer 1,8% na melhor das hipóteses." A decisão o surpreendeu? Não. A redução de um ponto é condizente com o cenário com o qual trabalho, embora esperasse um corte de 0,75. Qual seu cenário? O que notamos hoje no Brasil e no mundo é uma situação totalmente atípica. O mundo está entrando em processo deflacionário e isso significa que o Brasil está importando deflação. Ao mesmo tempo, com a contração de crédito a partir de outubro, o nível de atividade caiu fortemente, com redução rápida do emprego. A retração de crédito deve continuar nos próximos seis meses, o que indica novas quedas do emprego e, por tabela, da demanda. Como fica o juro daqui para frente? Ao contrário do resto do mundo, no Brasil há redução da liquidez. Lá fora é mais grave, se trata de insolvência bancária. O BC tem aumentado a liquidez, mas será insuficiente para trazer de volta a situação anterior à contração de crédito. Por isso, o BC deve persistir na queda do juro. Nas suas contas, em quanto estará a Selic em dezembro? Algo entre 10% e 11%. Há um espaço substancial para reduzi-la em 3 pontos ou até um pouco mais. Só não se pode fazer isso rapidamente porque há enorme incerteza com relação ao comportamento da economia, sobretudo internacional. Meu cenário é de recessão no mundo em 2009, mas há outros nos quais o mundo volta a crescer no segundo semestre. Neste caso, deixaríamos de importar deflação e alguma pressão inflacionária pode aparecer no horizonte. O juro real é hoje o menor desde o início do governo Lula, mas o custo do dinheiro está subindo. Como o governo pode atuar para que reduções no juro nominal (Selic) sejam sentidas pelo consumidor final (empresa e pessoa física)? Aproximadamente 25% do crédito brasileiro tem origem externa. Esse crédito simplesmente secou. Ou seja, houve uma redução da oferta dessa ordem. O resultado disso foi uma alta do spread (diferença entre as taxas de captação e de empréstimo) bancário. O BC fez o que é possível fazer. Reduziu compulsório, impostos. No entanto, muito provavelmente o spread vai cair num futuro próximo, mas pela razão ruim: recuo da demanda. Não há como forçar os bancos a diminuir os juros. Qual sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)? Entre 1,5% e 1,8%, na melhor das hipóteses. A contração de crédito vai persistir e isso significa aumento do desemprego e queda da demanda.

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