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Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|É possível superar os desafios de 2023

A retomada da disciplina fiscal será essencial para conter a inflação e evitar um desastre

Atualização:

Há 20 anos comecei na vida pública. Deixei a presidência de um banco internacional para ser eleito deputado federal por Goiás. Em seguida fui nomeado presidente do Banco Central e tomei posse em janeiro de 2003, quando o Brasil enfrentava uma situação difícil. Tudo indica que 2023 será um ano tão desafiador para o governo quanto foi 2003. 

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A semelhança entre 2003 e 2023 é a inflação alta. A diferença é a causa do fenômeno. Lá atrás, a inflação era consequência da alta do câmbio em 2002, devido à desconfiança em relação à capacidade de pagamentos do Brasil como resultado do cenário eleitoral. A inflação atual, que estará em vigor em 2023, é causada pela política fiscal frouxa somada à desorganização das cadeias produtivas. Como escrevi na coluna passada, é uma causa mais perigosa e difícil de lidar – em especial se a tarefa for delegada apenas ao BC, como acontece no Brasil. 

O Brasil evoluiu na construção de uma economia mais próxima dos padrões de países desenvolvidos nos últimos 20 anos. Acumulou reservas, consolidou um BC independente, seguiu um sistema de metas de inflação e criou o teto de gastos. Parte deste arcabouço foi desorganizada nos últimos dois anos, inicialmente para combater os efeitos da pandemia e finalmente com finalidades eleitoreiras. Mas isso terá de ser restaurado em 2023, com especial ênfase na área fiscal.

O risco de o Brasil não atacar a questão fiscal não é um mistério, os efeitos podem ser consultados no passado recente. Em 2016, quando assumi o Ministério da Fazenda, o Brasil estava em crise pelo descontrole fiscal do governo Dilma. Entre junho de 2015 e maio de 2016, a queda do PIB foi de 5,2%, uma das maiores de uma nação na história recente que não estava em guerra, maior que a da pandemia (4,1%).

Inflação alta deverá ser desafio em 2023, assim como foi em 2003 Foto: USP Imagens

Portanto, está claro que descontrole fiscal não leva a crescimento, mas a retração e desemprego. A solução na ocasião foi o teto de gastos, uma ferramenta de política fiscal. Após implantada, os indicadores de confiança reverteram a queda que vinha desde 2013 e iniciaram trajetória de recuperação. O risco país caiu de quase 500 pontos-base para menos de 200. A economia cresceu 2,2% de janeiro a dezembro de 2017.

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A retomada da disciplina fiscal será essencial para conter a inflação, restaurar a confiança na economia brasileira e evitar um desastre. Será uma tarefa difícil, dado que esta reconstrução terá de ser feita provavelmente em um mundo em recessão, após ações dos bancos centrais para reequilibrar economias superaquecidas. Mas esta tarefa também parecia difícil em 2003 e 2016, e o Brasil conseguiu superar o desafio. 

*EX-PRESIDENTE DO BC E EX-MINISTRO DA FAZENDA

Opinião por Henrique Meirelles
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